terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Cracolândia: internação. E depois?

*Por ANNA TROTTA YARID  

Após anos do mais absoluto descaso e de muitas ações inúteis, assistimos esperançosos à decisão do governo do estado pela internação à força das pessoas viciadas no abuso de drogas e que vivem na rua – gente, na grande maioria, paupérrima e sem defesa, usuária de crack.

Não é difícil compreender a perda, por parte desses usuários, do poder de decisão e de autodeterminação, afinal, quem opta por abandonar tudo para viver nas ruas, em situação de absoluta indignidade humana, certamente perdeu o controle de sua vida. A questão que se impõe, porém, e no dizer dos especialistas, é que nem todos os usuários de crack ou de qualquer outra droga necessitam de internação.

Ora, se não precisam de internação, certamente precisam de tratamento ou acompanhamento ambulatorial, o que será necessário até mesmo àqueles internos, depois da internação. Então, onde estava a Secretaria Municipal da Saúde na assinatura desse termo de cooperação para garantir a assistência integral?

Para aqueles que não sabem, a internação psiquiátrica – medida de privação da liberdade – foi regulamentada pela Lei 10261/2001, que prevê a internação como medida excepcional e individualizada. Assim, nem de longe pode ser considerada uma política pública.

Somada a isso, o mais rotineiro dos fracassos oficiais, que é a falta de vagas e de psiquiatras: como pretende o governo do estado construir um ambiente apropriado para a recuperação dos dependentes químicos? E como ficam a repressão ao tráfico e a prevenção ao consumo?

Até mesmo questões rotineiras de como obter o laudo médico de internação para essas pessoas que se recusam a qualquer tipo de tratamento, e de como e quem deve levá-las para internação, essenciais para garantir a acessibilidade do serviço, ainda pendem de respostas.

Para enfrentarmos problema tão complexo, resultado de anos de omissão do Estado, precisamos de uma política pública eficiente, caso contrário restarão dúvidas sobre ser essa medida de internação uma ação que visa efetivamente ajudar os incomodados com a própria miséria humana ou apenas uma medida isolada para agradar os que são incomodados com a miséria alheia.

Não estamos defendendo, em hipótese alguma, que nada deve ser feito. Mas, quando é imperioso que se faça alguma coisa, não podemos nos contentar que se faça qualquer coisa.

Olhar para Cracolândia sem sombra de dúvidas assusta e dói muito, porque reflete em situação extrema nossa sociedade doente, mas ‘varrer as pessoas para debaixo do tapete’ seria o mesmo que andar para trás.

Anna Trotta Yaryd é promotora de Justiça do Estado de São Paulo e Integrante do Movimento do Ministério Público Democrático.

Ato em defesa de D. Pedro Casaldáliga e do povo Xavante, no dia 7 de fevereiro, em SP


O comitê de solidariedade a dom Pedro Casaldáliga e ao povo de Xavante está convocando um ato na Câmara Municipal de São Paulo, no dia 7 de fevereiro, às 19 horas. O objetivo será de  buscar o apoio de todas as entidades ligadas aos direitos humanos.

O comitê ressalta que o ato do dia 7 fevereiro terá uma forte importância no sentido de apoiar a luta de Casaldáliga, que no próximo dia 16 de fevereiro completará 85 anos.

Desde novembro de 2012, d. Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, vem recebendo ameaças de morte devido à sua luta pela devolução das terras batizadas como Marãiwatsédé aos índios da etnia Xavante.

No início de dezembro, ele teve de sair de sua moradia para uma localidade não revelada para sua própria segurança, pois corria risco de ser assassinado.  Casaldáliga voltou para o Mato Grosso e está sob proteção policial.

Um manifesto de solidariedade ao povo Xavante e ao bispo Casaldáliga, que conta com o histórico da luta está sendo amplamente divulgado.

A CSP-Conlutas já assinou o manifesto e orienta a toas as entidades e organizações a fazerem o mesmo. A Central convoca a todas as entidades do movimento sindical e popular  denunciem a violência contra o povo Xavante e ao bispo Casaldáliga.


Com informações do Comitê de solidariedade a dom Pedro Casaldáliga e ao povo de Xavante

Trabalhadores da GM aprovam acordo em defesa do emprego


Votação reuniu cerca de 5 mil trabalhadores de todos os setores da fábrica

Os trabalhadores da General Motors de São José dos Campos aprovaram, nesta segunda-feira, dia 28, o acordo proposto pelo Sindicato dos Metalúrgicos e pela montadora. A assembleia foi unificada entre todos os setores da planta, reunindo cerca de 5 mil funcionários do primeiro turno. 

Os trabalhadores do segundo turno também  aprovaram a proposta do acordo apresentada pelo Sindicato dos Metalúrgicos e pela montadora, seguindo o mesmo resultado da assembleia do primeiro turno. Cerca de 2 mil funcionários participaram da assembleia. 

O acordo acontece após um ano de muita mobilização, com paralisações, passeatas e idas a Brasília para pressionar Governo Federal e empresa. Desde fevereiro de 2012, o Sindicato se mantém à frente de uma forte luta para impedir que a empresa demitisse 1.840 trabalhadores e fechasse o MVA (Movimento de Veículos Automotores). A GM chegou a anunciar a intenção de fechar o complexo industrial de São José dos Campos, caso não houvesse acordo.

No último sábado, Sindicato e GM chegaram a uma proposta de acordo que vai trazer investimentos de R$ 500 milhões para a planta de São José dos Campos e manter 750 trabalhadores na produção do Classic até dezembro deste ano. O período de layoff, iniciado em agosto, será estendido por mais dois meses, com pagamento de salário integral custeado pela GM. Depois desse prazo, caso houver demissão, a montadora terá que pagar uma multa de três salários-base. Os portadores de estabilidade (caso dos lesionados e período de pré-aposentadoria) terão de obrigatoriamente ser mantidos na empresa, após o período de layoff. 

A proposta de acordo inclui:
- Investimento de R$ 500 milhões direcionados às áreas do Powertrain (motores e transmissão), Estamparia e S10, no período de 2013 e 2017. 
- Produção do Classic até dezembro, com 750 trabalhadores. Após esse período, haverá nova negociação.
- Férias coletivas entre os dias 29 de janeiro a 14 de fevereiro para os trabalhadores da produção do Classic. 
- Quem está em layoff terá extensão do processo por dois meses. Ao final, se a empresa demitir, terá que pagar uma multa de três salários. O trabalhador poderá optar por sair imediatamente e receberá cinco salários, além dos direitos trabalhistas.
- Renovação das cláusulas sociais na data-base da categoria para 2013 a 2015. As cláusulas econômicas serão negociadas em setembro. Nesse período não haverá abono.
- PLR igual a de 2012 mais R$ 3.200, totalizando cerca de R$ 16 mil. Em maio, haverá negociação das metas. A primeira parcela será de R$ 6,6 mil.
- Discussão entre GM e Sindicato sobre formas de antecipação da aposentadoria para quem estiver prestes a se aposentar.
- A GM se compromete a negociar, em primeiro lugar, com o Sindicato, caso haja projeto de investimento em um novo veículo no Brasil.
- Nova grade salarial para funcionários admitidos a partir da assinatura do acordo, apenas na fábrica de componentes (Powertrain, Estamparia e Plástico), com piso de R$ 1.800.
- Jornada de trabalho que possibilita duas horas extras por dia e trabalho extraordinário aos sábados, alternadamente. Poderá haver folga em até 12 dias por ano, que serão compensados posteriormente. 
- Reaproveitamento de lesionados em atividades compatíveis, devendo ser definidas em conjunto com o sindicato.
- Garantia do nivel de emprego até dezembro de 2013 no MVA e dezembro de 2014 para o restante da planta de São José dos Campos.
- Ajuste na cláusula de nível de emprego da área de manuseio de materiais, de 1203 para 900 empregados.
- Garantia de renovação/extensão dos acordos de jornadas diferenciadas de trabalho (6 x 1; turno de revezamento e jornada de domingo mediante pagamento de hora extra e com folga na semana) pelo período de dois anos. 
- Inclusão em cláusula de acordo coletivo, reconhecendo que o período de minutos que antecedem e sucedem a jornada contratual, limitados a 40 minutos diários, não serão considerados como tempo a disposição da empresa. Na hipótese de ocorrer desligamento da fábrica, o Sindicato ajuizará ação referente ao período anterior a esta negociação.
- O acordo terá duração de dois anos. 

“Este não foi o acordo dos nossos sonhos, mas também não foi o que queria a GM. Foi o acordo possível. Até o último momento, a empresa persistia com o plano de demitir os 1.500 trabalhadores e fechar o MVA. Se chegamos até aqui, foi pela força das mobilizações. Mas é importante ressaltar que a luta em defesa do emprego e dos direitos prossegue, já que o acordo prevê a produção do Classic só até dezembro”, afirma o presidente do Sindicato, Antonio Ferreira de Barros, o Macapá.

O Sindicato continuará cobrando do Governo Federal medidas concretas em favor dos trabalhadores.

“O Governo Federal dá isenções às montadoras, que estão com as vendas e os lucros em alta, mas não tem nenhuma medida para garantir o emprego dos trabalhadores. É preciso um acordo coletivo nacional que garanta condições mínimas de trabalho nas montadoras do país e impeça as chantagens que tentam rebaixar salários e direitos”, disse o secretário-geral do Sindicato, Luiz Carlos Prates.

Outras votações
Na assembleia de hoje, os trabalhadores fizeram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do incêndio da Boate Kiss, que deixou 233 mortos na cidade de Santa Maria (RS). 

Também foi aprovada moção de apoio às greves nas montadoras Peugeot, Citroen e PSA, na França, e solidariedade à luta dos metalúrgicos da GM na Alemanha, Estados Unidos e Colômbia, defendendo a unidade internacional dos trabalhadores.

Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
Foto: Tanda Melo

Visibilidade Trans: exigimos respeito!

Nesse 29 de Janeiro é comemorado em todo o país o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Essa data nasceu quando em 2004, 27 ativistas trans entraram no Congresso Nacional para o lançamento da campanha nacional: “Travesti e Respeito”.

Desde a criação da data, organizações LGBT´s de todo o país realizam atividades para discutir a questão das travestis e transexuais, como, por exemplo, a vulnerabilidade daquelas que se prostituem, a inclusão no mercado de trabalho, a representatividade política, a formação educacional, a discriminação social e também nos ambientes escolares.

Nós do Setorial LGBT da CSP – Conlutas queremos nos somar a todas  as (os) Travestis e Transexuais (TT´s) do Brasil e construir esta data como um dia de luta importante para nós oprimidos.

Infelizmente, a situação colocada para as (os) TT´S é de muito preconceito, discriminação e violência. Nos últimos 20 anos, quase mil transexuais foram assassinadas no Brasil. Uma a cada 10 dias. De acordo com o GGB (Grupo Gay da Bahia), que contabiliza a morte de LGBT´s anualmente em nosso país, só em 2011 morreram 98. As Travestis e Transexuais representam o grupo mais vulnerável, pois além do número de mortes ser proporcionalmente maior do que o de gays e lésbicas, as mortes são violentas e com requintes de crueldade, incluindo muitas vezes tortura, olhos arrancados, observando-se cada vez mais presente armas de fogo, facadas, espancamento e apedrejamento.


Além desse triste quadro, há o grande problema da aceitação da Transexualidade e a luta quotidiana que essas pessoas enfrentam. O reconhecimento do nome social, a demorada fila para conseguir o acompanhamento para a mudança de sexo no SUS (Sistema Único de Saúde) e a pouca inserção no mercado de trabalho são graves problemas que se somam a realidade de uma transexual.

Para nós da CSP – Conlutas, que construímos a luta dos trabalhadores, é fundamental que toda a sociedade conheça, respeite e ajude no enfretamento do preconceito e da discriminação.

Por isso, reivindicamos:

- Garantia do uso do nome social em todos os espaços;
- Registro de nome civil e mudança de gênero nos documentos de forma ágil;
- Fim da patologização das identidades de gênero trans;
- Garantia e ampliação dos procedimentos de transexualização, com acompanhamento psicológico, cirurgia de transgenitalização e distribuição de hormônios gratuitamente pelo SUS, com acompanhamento multiprofissional;
- Política de redução de dados para combater o uso de silicone industrial, oferecendo cirurgias estéticas gratuitamente pelo SUS;
- Políticas públicas que assegurem o ingresso e permanência de travestis e transexuais no mercado de trabalho e nas escolas e universidades;
- Criminalização da transfobia e da homofobia, através da aprovação imediata do PLC-122/06.

Setorial LGBT da CSP-Conlutas

Denúncia: atentado contra liderança indígena do município de Japorã (MS)

No último domingo (27), o cacique Ademir Salina, liderança da aldeia Remanso no município de Japorã-MS,  sofreu atentado contra sua vida.

Conforme comunicado à liderança do Conselho do Aty Guasú, o atentado foi na casa do próprio cacique, praticado por um indígena a mando de  um funcionário da Funai, conhecido como Paulo, do município de Iguatemi.

O disparou atingiu de raspão o pescoço do cacique Ademir causando ferimento não muito grave. O mesmo nesse momento passa bem.

Já no sábado (26), a partir das 13h, mais um incêndio criminoso ocorreu na aldeia Taquara, no município de Juti-MS, queimando aproximadamente 20 hectares.

Inúmeras famílias tiveram que deixar o local por conta da fumaça, abrigando-se em lugar seguro. O incêndio foi controlado pelo corpo de bombeiros por volta das 18h.

Fonte: http://solidariedadeguaranikaiowa.wordpress.com/

Kátia Abreu e o golpe contra camponeses no Tocantins


Por Leandro Fortses

Da Carta Capital

Em dezembro passado, a senadora Kátia Abreu, do DEM Tocantins, assumiu a presidência da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) com um discurso pretensamente modernizador.
Previa uma nova inserção social dos produtores rurais por meio de “rupturas” no modo de se relacionar com o mercado, o consumidor, o governo e a economia global. Pretendia, segundo ela mesma, “remover os preconceitos” que teriam isolado os ruralistas do resto da sociedade brasileira e cravado neles a pecha de “protótipos do atraso”.
Diante de uma audiência orgulhosa da primeira mulher a assumir o comando da CNA, Kátia concluiu: “Somos o que somos e não quem nos imaginam (sic)”. Foi efusivamente aplaudida. E tornou-se musa dos ruralistas.
Talvez, em transe corporativo, a platéia não tenha percebido, mas a senadora parecia falar de si mesma. Aos 46 anos, Kátia Abreu é uma jovem liderança ruralista afeita à velha tradição dos antigos coronéis de terras, embora, justiça seja feita, não lhe pese nos ombros acusações de assassinatos e violências outras no trato das questões agrárias que lhes são tão caras. A principal arma da parlamentar é o discurso da legalidade normalmente válido apenas para justificar atos contra pequenos agricultores.
Com a espada da lei nas mãos, e com a aquiescência de eminências do Poder Judiciário, ela tem se dedicado a investir sobre os trabalhadores sem-terra. Acusa-os de serem financiados ilegalmente para invadir terras Brasil afora.
Ao mesmo tempo, pede uma intervenção federal no estado do Pará e acusa a governadora Ana Júlia Carepa de não cumprir os mandados de reintegração de posse expedidos pelo Judiciário local. O foco no Pará tem um objetivo que vai além da política. A senadora, ao partir para o ataque, advoga em causa própria.
Foram ações do poder público que lhe garantiram praticamente de graça extensas e férteis terras do Cerrado de Tocantins. E mais: Kátia Abreu, beneficiária de um esquema investigado pelo Ministério Público Federal, conseguiu transformar terras produtivas em áreas onde nada se planta ou se cria. Tradução: na prática, a musa do agronegócio age com os acumuladores tradicionais de terras que atentam contra a modernização capitalista do setor rural brasileiro.
De longe, no município tocantinense de Campos Lindos, a mais de 1,3 mil quilômetros dos carpetes azulados do Senado Federal, ao saber das intenções de Kátia Abreu, o agricultor Juarez Vieira Reis tentou materializar com palavras um conceito que, por falta de formação, não lhe veio à boca: contras-senso.

Expulso em 2003 da terra onde vivia, graças a uma intervenção política e judicial capitaneada pela senadora do DEM, Reis rumina o nome da ruralista como quem masca capim danado. Ao falar de si mesmo, e quando pronuncia o nome Kátia Abreu, o camponês de 61 anos segue à risca o conselho literal da própria. Não é, nem de longe, quem ela imagina.
Em 2002, Reis foi expulso das terras onde havia nascido em 1948. Foi despejado por conta de uma reforma agrária invertida, cuja beneficiária final foi, exatamente, a senadora. Classificada de "grilagem pública" pelo Ministério Público Federal do Tocantins, a tomada das terras de Reis ocorreu numa tarde de abril daquele ano, debaixo da mira das armas de quinze policiais militares sob as quais desfilaram, como num quadro de Portinari, o agricultor, a mulher Maria da Conceição, e dez filhos menores.
Em um caminhão arranjado pela Justiça de Tocantins, o grupo foi despejado, juntamente com parte da mobília e sob um temporal amazônico, nas ruas de Campos Lindos. "Kátia Abreu tem um coração de serpente", resmunga, voz embargada, o agricultor, ao relembrar o próprio desterro.
Em junho de 2005, Reis reuniu dinheiro doado por vizinhos e amigos e foi de carona a Brasília a fim de fazer, pessoalmente, uma reclamação na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Na capital federal, alojou-se na casa de amigos, no miserável município goiano de Águas Lindas, e se alimentou de restos de almoço servido numa pensão da cidade.
Aos técnicos da comissão apresentou documentos para provar que detinha a posse da terra em questão de 545 hectares, desde 1955, parte da fazenda Coqueiros, de propriedade da família, numa região conhecida como Serra do Centro. De acordo com a documentação apresentada pelo agricultor, uma ação de usucapião da fazenda havia sido ajuizada em agosto de 2000.
Após esse ajuizamento, um vizinho de Reis, o também agricultor Antônio dos Santos, ofereceu-lhe para venda de uma área contígua de 62 hectares, sob sua posse havia onze anos, cuja propriedade ele alegava ser reconhecida pelo governo de Tocantins. O negócio foi realizado verbalmente por 25 mil reais como é costume na região até a preparação dos papéis. Ao estender a propriedade, Reis pretendia aumentar a produção de alimentos (arroz, feijão, milho, mandioca, melancia e abacaxi) de tal maneira de sair do regime de subsistência e poder vender o excedente.
Ele não sabia, mas as engrenagens da máquina de triturar sua família haviam sido acionadas uns poucos anos antes, em 1996, por um decreto do então governador do Tocantins Siqueira Campos (PSDB). O ato do tucano, mítico criador do estado que governou por três mandatos, declarou de “utilidade pública”, por suposta improdutividade, um área de 105 mil hectares em Campos Lindos para fins de desapropriação. Protocolada pela comarca de Goiatins, município ao qual Campos Lindos foi ligado até 1989, a desapropriação das terras foi tão apressada que o juiz responsável pela decisão, Edimar de Paula, chegou à região em um avião fretado apenas para decretar o processo. O magistrado acolheu um valor de indenização irrisório (10 mil reais por hectare), a ser pago somente a 27 produtores da região.

Do outro lado da cerca ficaram 80 famílias de pequenos agricultores. A maioria ocupava as terras a pelo menos 40 anos de forma “mansa e pacífica”, como classifica a legislação agrária, cujas posses foram convertidas em área de reserva legal, em regime de condomínio, sob o controle de grandes produtores de soja. Na prática, os posseiros de Campos Lindos passaram a viver como refugiados ilegais nessas reservas, torrões perdidos na paisagem de fauna e flora devastados de um Cerrado em franca extinção. Sobre as ruínas dessas famílias, o governador Siqueira Campos montou uma confraria de latifundiários alegremente formada por amigos e aliados. A esse movimento foi dado um nome: Projeto Agrícola de Campos Lindos.
Em 1999, quatro felizardos foram contemplados com terras do projeto ao custo de pouco menos de 8 reais o hectare (10 mil metros quadrados), numa lista preparada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins (Faet). A federação teve o apoio da Companhia de Promoção Agrícola (Campo), entidade fundada em 1978, fruto do acordo entre consórcios que implantaram o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer) em parceria com o Banco do Brasil e com cooperativas de produtores.
Escrúpulos às favas, os dirigentes de ambas as instituições se esbaldaram nas posses de Campos Lindos. À época, a presidente da Faet era ninguém menos que Kátia Abreu, então deputada federal pelo ex-PFL. No topo da lista, a parlamentar ficou com um lote de 1,2 mil hectares. O irmão dela, Luiz Alfredo Abreu, abocanhou uma área do mesmo tamanho. O presidente da Campo, Emiliano Botelho, também não foi esquecido: ficou com 1,7 mil hectares.
Dessa forma, um ambiente de agricultura familiar mantido ao longo de quase meio século por um esquema de produção de alimentos de forma ecologicamente sustentável foi remarcado em glebas de latifúndio e entregue a dezenas de indivíduos ligados ao governador Siqueira Campos. Entre elas também figuraram Dejandir Dalpasquale, ex-ministro da Agricultura do governo Itamar Franco, Casildo Maldaner, ex-governador de Santa Catarina, e o brigadeiro Adyr da Silva, ex-presidente da Infraero. Sem falar numa trupe de políticos locais, entre os quais brilhou, acima de todos, a atual presidente da CNA.
O resultado dessa política pode ser medido em números. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de soja em Campos Lindos cresceu de 9,3 mil toneladas, em 1999, para 127,4 mil toneladas em 2007. Um crescimento de 1.307% em apenas oito anos. O mesmo IBGE, contudo revela a face desastrosa desse modelo de desenvolvimento. No Mapa da Pobreza e Desiguldade, divulgado também em 2007, o município apareceu como o mais pobre do País. Segundo o IBGE, 84% da população vivia da pobreza, dos quais 62,4% em estado de indigência.
No meio das terras presenteadas por Siqueira Campos a Kátia Abreu estava justamente o torrão de Reis, a fazenda Coqueiro. Mas, ao contrário dos demais posseiros empurrados para para as reservas do Cerrado, o agricultor não se deu por vencido. Tinha a favor dele documentos de propriedade, um deles datado de 6 de setembro de 1958 e originário da Secretaria da Fazenda de Goiás, antes da divisão do estado. O documento reconhece as terras da família em nome do pai, Mateus Reis, a partir dos recibos dos impostos territoriais de então. De posse dos papéis, o pequeno agricultor tentou barrar a desapropriação na Justiça. A hoje senadora partiu para a ofensiva.
Em 11 de dezembro de 2002, Kátia Abreu entrou com uma ação de reintegração de posse em toda a área, inclusive dos 545 hectares onde Reis vivia havia cinco décadas. Ela ignorou a ação de usucapião em andamento, que dava respaldo legal à permanência dos Reis na terra. Para fundamentar o pedido de reintegração de posse, a então deputada alegou em juízo que Reis, nascido e criado no local, tinha a posse da fazenda Coqueiro por menos de um ano e um dia, providencial adequação ao critério usado na desapropriação.
Para comprovar o fato, convocou testemunhas que moravam a mais de 800 quilômetros da área de litígio. Incrivelmente, a Justiça de Tocantins acatou os termos da ação e determinou que a expulsão da família de Reis da fazenda Coqueiro e dos 62 hectares recém-comprados. Ignorou, assim, que a maior parte das terras utilizada há 50 anos ou, no mínimo, há mais de dois anos, como ajuizava o documento referente ao processo de usucapião. Reis foi expulso sem direito a indenização por qualquer das benfeitorias construídas ao longo das cinco décadas de ocupação da terra, aí incluídos a casa onde vivia a família, cisternas plantações (mandioca, arroz e milho), árvores frutíferas, pastagens, galinhas, jumentos e porcos.
A exemplo da Kátia Abreu, os demais agraciados com as terras tomadas dos agricultores assumiram o compromisso de transformar as terras produtivas em dois anos. O prazo serviu de álibi para um ação predatória dos novos produtores sobre o Cerrado e a instalação desordenada de empresas e grupos ligados ao mercado da soja. Até hoje a questão do licenciamento ambiental da área abrangida pelo Projeto Agrícola Campos Lindos não foi resolvida por órgãos ambientais locais. Mas nem isso a senadora fez..
Signatário, com outros três colegas, de um pedido de intervenção federal no Tocantins em 2003, justamente por causa da distribuição de terras de Campos Lindos feita por Siqueira Campos a amigos e aliados, o procurador federal Alvaro Manzano ainda espera uma providência. “Houve uma inversão total do processo de reforma agrária. A desapropriação foi feita para agradar amigos do rei.”
Há cinco meses, o agricultor Reis voltou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Ele luta pra forçar o Tribunal de Justiça de Tocantins a julgar tanto a ação de usucapião de 2000 como o pedido de liminar impetrado há seis anos para garantir a volta da família, hoje acrescida de 23 netos, à fazenda Coqueiro. “Não tem força no mundo, moço, que faça essa Justiça andar”, reclama o agricultor. Ele atribuiu a lentidão à influência da senadora no Judiciário local. Procurada por Carta Capital, Kátia Abreu não respondeu ao pedido de entrevista.
Quatro anos atrás, a família Reis conseguiu se alojar numa chácara de 42 hectares ocupada por um dos filhos há dez anos. Lá, quase vinte pessoas vivem amontoadas em uma casa de dois cômodos, feita de sapê e coberta de palha de babaçu em meio a porcos, galinhas e cachorros. No terreiro coberto da residência, infestado de moscas, as refeições são irregulares, assim como os ingredientes dos pratos, uma mistura aleatória de arroz, mandioca, pequi, abacaxi, feijão e farinha.
Toda vez que um motor de carro é ouvido nas redondezas, todos se reúnem instintivamente nos fundos da casa, apavorados com a possibilidade de um novo despejo. Cercado de filhos e netos, Reis não consegue esconder os olhos marejados quando fala do próprio drama. “Fizeram carniça da gente. Mas não vou desistir até recuperar tudo de novo.”
Em 19 de junho, um dia após a última visita de Reis à Câmara dos Deputados, o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Luiz Couto (PT-PB), encaminhou um ofício endereçado ao Conselho Nacional de Justiça para denunciar a influência de Kátia Abreu na Justiça do Tocantins e pedir celeridade nos processos de Reis. O pedido somente agora entrou na pauta do CNJ, mas ainda não foi tomada nenhuma medida a respeito. Nos próximos dias, corregedor do conselho, Gilson Dipp, vai tornar público o relatório de uma inspeção realizada no Tribunal de Justiça do Tocantins, no qual será denunciada, entre outros males, a morosidade deliberada em casos cujos réus são figuras políticas proeminentes no estado.
Há três meses, ao lado de uma irmão e um filho, Reis voltou à fazenda Coqueiro para averiguar o estado das terras depois da ocupação supostamente produtiva da senadora. Descobriu que nem um pé de soja - nem nada – havia sido plantado no lugar. “Desgraçaram minha vida e da minha família para deixar o mato tomar conta de tudo”, conta Reis.
Com o auxílio de outros filhos, recolheu tijolos velhos da casa destruída pelos tratores da parlamentar do DEM e montou um barraco sem paredes, coberto de lona plástica e palha. Decidiu por uma retomada simbólica da terra, onde reiniciou um roçado de mandioca. Na chácara do filho, onde se mantém como chefe da família, ainda tem tempo para rir das pirraças de uma neta de apenas 4 anos. Quando zangada, a menina não hesita em disparar, sem dó nem piedade, na presença do avó: “Meu nome é Kátia Abreu”.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A seca e o olhar sudestino


*Por Roberto Malvezzi

O pior da seca parece estar terminando, mas não terminou. Ainda haverá sofrimentos em 2013, menos água em muitos lugares, pastagem mais escassa, safra prejudicada. Mas a tendência é a situação melhorar daqui para frente, voltando à longa estiagem lá pelo ano de 2050, daqui a trinta anos.

Não se repetiu a tragédia humana das grandes migrações e do genocídio humano. A lógica da convivência com o semiárido provou ser a mais correta e a tragédia só não se repetiu graças à pouca infraestrutura já implementada, como cisternas e algumas adutoras.

É duro ver as reportagens feitas pelos grandes meios de comunicação do Sul e Sudeste sobre nossa região, particularmente em tempos de longa estiagem. O imaginário preconcebido sempre está presente.

Elas têm enfatizado a morte dos animais. De fato, o gado bovino tem sofrido e morrido em quantidade nessa seca. Mas, essa é uma questão superada para o movimento social que defende a convivência com o semiárido, isto é, essa região nunca foi local adequado para se criar bois e vacas. Há uma comparação feita pelos educadores populares nos cursos de formação com uma estatística bem simples: um boi come por sete bodes, bebe por sete bodes, ocupa o espaço de sete bodes. Quando morre um boi, morre o equivalente a sete bodes.

De fato, quando se encontrar um bode morto de fome ou sede no sertão, é porque ali já não sobrou uma alma viva. Nessa seca os bois estão morrendo, os bodes estão gordos. O animal é adaptado, suporta as secas, mesmo que sua criação seja contestada por muitos técnicos como sendo um animal daninho e ameaçador da biodiversidade. Mas isso – dizem os técnicos do movimento social – é um problema de manejo, não de adaptação.

Além do mais, os repórteres têm se dirigido exclusivamente ao sertão de Pernambuco, particularmente aos eixos da Transposição. Muitos insinuam: se a obra estivesse concluída, não haveria esse sofrimento.

Mentira absurda. Os lugares visitados, como Cabrobó, estão às margens do São Francisco. Água é o que não falta para abastecer o sertão de Pernambuco. O problema continua sendo sua distribuição.

Ao seu modo, o governo começa fazer as adutoras, tão reivindicadas por nós. A do Algodão em Guanambi; do Pajeú, em Pernambuco; do São Francisco para Aracaju; do Forró no sertão de Curaçá; do Cristal no sertão de Petrolina; as duas de Remanso etc. Portanto, o governo sabe o que é correto fazer.

Quanto à Transposição, tudo que prevíamos acontece: impacto nas comunidades, impacto no meio ambiente, prazos alongados, preços duplicados. Um fator não previmos: os projetos mal feitos e agora condenados pelos Tribunal de Contas da União.

Se a obra vai chegar ao fim não sabemos. Só lá poderemos confirmar nossas outras previsões, as mais cruéis: a água não é para o povo necessitado; vai impactar o São Francisco, que esse ano já está apenas com 27% em Sobradinho, e, finalmente, não vai resolver o problema da seca.

Quem viver verá. O tempo é o pai da verdade.

Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

Servidores Públicos Federais dão início à Campanha Unificada 2013


O Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais protocola junto ao Governo Federal, na próxima terça-feira (22), a pauta de reivindicações 2013, contendo os eixos da Campanha Unificada dos SPF para este ano. 

No mesmo dia, as entidades do Fórum se reúnem com demais centrais, movimentos sociais e outras entidades sindicais dos setores público e privado noEspaço de Unidade de Ação para planejar a Jornada de Lutas de 2013, com base na plataforma unitária definida em dezembro do ano passado. 

Segundo o diretor do ANDES-SN, Josevaldo Pessoa da Cunha, a ausência de respostas do governo à pauta dos SPF em 2012 faz com que os eixos da campanha do ano passado sejam reforçados em 2013, entre estes a exclusão de dispositivos antidemocráticos da LDO/LOA, como o artigo 76 da LDO/2013, que visam obstruir a negociação com os servidores públicos sobre os seus direitos e a paridade entre ativos, aposentados e pensionistas.

“Vamos continuar a luta pela negociação coletiva e definição da data-base para o funcionalismo, além de cobrar mais uma vez do governo uma política salarial permanente com reposição inflacionária, valorização do salário-base e incorporação das gratificações”, destacou. 

Cunha lembra que além de não atender às reivindicações do movimento, o Governo Federal vem descumprindo a Constituição, que determina a revisão anual dos salários dos servidores públicos. 

“No ano passado, com a força da mobilização, os trabalhadores do serviço público conseguiram fazer com que o governo recuasse de sua política de reajuste zero”, observa.

O lançamento oficial da Campanha dos SPF ocorrerá no dia 20 de fevereiro, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). No dia seguinte, representantes das três esferas do serviço público se unem para um seminário no auditório Petrônio Portela, no Senado Federal.

Regulamentação do Direito de Greve

O debate sobre a regulamentação do direito de greve será um dos desafios que os servidores públicos federais deverão enfrentar durante a campanha de 2013. 

A discussão acerca do tema voltou à tona, após a forte mobilização dos servidores, que resultou numa das maiores greves do funcionalismo nos últimos dez anos. 

“Existe um movimento de retirada e flexibilização de direitos dos trabalhadores, como forma de reação à crise que assola o capital. Nesse sentido, o governo continua utilizando instrumentos mais variados para coibir, e até mesmo impedir em alguns casos, a resistência da classe trabalhadora, cerceando o direito de greve”, ressalta Cunha. 

Confira o calendário de ações para o início de 2013

Fórum das Entidades Nacionais dos SPF:
•    22/01/2013: Protocolo dos “Eixos da Campanha Unificada dos SPF”, no MPOG; Esplanada dos Ministérios.
•    27/01/2013: Seminário sobre Negociação Coletiva, Direito de greve, e Acordo Coletivo Especial. Porto Alegre-RS, no Fórum Social Mundial. 
•    20/02/2013: Lançamento oficial da Campanha Unificada dos SPF; às 9 horas, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados.
•    21/02/2013: Seminário das 03 (três) “esferas do serviço público”, no auditório Petrônio Portela, no Senado Federal. 

Espaço Unidade de Ação
•    22/01/2013: Reunião para definir atividades da Jornada de Lutas 2013
•    17 de abril de 2013: Grande Marcha a Brasília.

Fonte: ANDES-SN

ASSENTADOS DO MILTON SANTOS OCUPAM O INSTITUTO LULA‏


Na madrugada desta quarta-feira, 23 de janeiro, cerca de 100 pessoas do Assentamento Milton Santos ocuparam o prédio do Instituto Lula, no bairro do Ipiranga. Os manifestantes, que já ocupavam o prédio do INCRA-SP desde a semana passada, afirmam que permanecerão no local para exigir do governo federal a solução definitiva do problema e evitar o despejo de suas casas, marcado para ocorrer a partir do dia 30 de janeiro.
As mais de 70 famílias foram legalmente assentadas em 2006, durante o mandato do ex-presidente, e reivindicam agora que Lula interceda junto à presidente Dilma Rousseff para que assine o decreto de desapropriação por interesse social do terreno onde vivem e produzem há mais de 7 anos.
A ocupação do Instituto Lula acontece em um momento em que todas alternativas jurídicas se esgotam, deixando as famílias na mais pura aflição e situação de abandono. Sendo esta uma instituição que declara defender o “pleno exercício da democracia”, os assentados a ela recorrem para cobrar medidas que reestabeleçam a justiça e seu acesso à cidadania.
Contatos
Paulinho: (11) 98706-9318 (Tim)
(19) 9843-4862
Ana Elisa: (19) 8338-8077 (Tim)
(19) 9484-3569 (Claro)


Faixa de lona preta colocada pelos assentados em frente ao Instituto Lula
Chegamos a uma situação limite.
Somos 68 famílias que, depois de anos e anos de luta, fomos assentadas num terreno de 104 hectares localizado entre os municípios de Americana e Cosmópolis. Este terreno pertenceu à família Abdalla, ricos empresários que perderam o a área durante a ditadura militar por dívidas trabalhistas.
Em 2006, o presidente Lula e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) nos instalaram no Sítio Boa Vista. Desde então, para a consolidação deste assentamento, depositamos tudo o que tínhamos: nosso trabalho e nossa vida na produção de alimentos saudáveis, sem o uso de agrotóxicos. Passamos por inúmeras dificuldades para produzir. Mesmo assim, passo a passo, conseguimos estabelecer parcerias com mais de 40 entidades e escolas através do Programa Doação Simultânea. E, hoje, temos orgulho de dizer que somos uma comunidade que fornece mais de 300 toneladas de alimentos para a região metropolitana de Campinas.
Após consolidarmos nossas vidas nesta terra com o suor de anos de trabalho e dedicação, recebemos em maio de 2012 a notícia de que a família Abdalla, aliando-se à Usina Ester, havia recuperado as terras na justiça e ganho o seu direito de posse. A justiça federal, então, emitiu um aviso ao INCRA de que deveríamos ser retirados em prazo determinado, caso contrário, haveria a reintegração de posse do terreno.
O INCRA moveu vários recursos em vão. Realizamos audiências com os representantes do órgão, que afirmavam que não sairíamos do assentamento e que, se fosse preciso, seria assinado o decreto de desapropriação por interesse social. Fizemos reunião com representantes do governo federal; e estes também garantiram que o problema seria resolvido, sem que precisássemos deixar nossas casas. No entanto, o tempo passou e nada mudou. Ao contrário, para a nossa aflição, aproxima-se a data em que assistiremos à destruição do esforço de toda uma vida: nossas casas, nossas plantações, nossos sonhos.
Sabemos que todas as possibilidades jurídicas já foram esgotadas e que o destino de nossas famílias depende, isto sim, da vontade política de quem pode decidir. Também sabemos que não nos resta outra alternativa senão um grito de apelo.
Lembramos que há exatamente um ano, em um quadro bastante semelhante, 1600 famílias foram brutalmente despejadas da área do Pinheirinho. Um representante político como Lula, que agora tem a honra de batizar uma instituição que zela pelo “exercício pleno da democracia e a inclusão social”, não pode permitir que uma situação dessas se repita.
Lula foi o Presidente da República que, em 2006, assinou a concessão do terreno do Assentamento Milton Santos para fins de reforma agrária. Todo processo ocorreu com o seu conhecimento e do órgão do governo federal responsável pelo assunto, o Incra.
Confiamos que o peso de sua figura política seja capaz de interceder em favor de nós, assentados, e estabelecer um diálogo mais direto com a presidente Dilma Rousseff, para que esta se disponha a nos receber pessoalmente em uma audiência e assine o decreto de desapropriação por interesse social.
Assentadas e assentados do Milton Santos

Nota do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto sobre da Ocupação Novo Pinheirinho-DF


 O esqueleto abandonado pelo proprietário há quase 20 anos na entrada da cidade de Taguatinga (DF), e que vinha sendo ocupado há muitos anos por famílias sem qualquer assistência, tornou-se, há 17 dias, o Novo Pinheirinho. O MTST trouxe à tona a falta de ação do governo em relação ao prédio, bem como algumas debilidades da política habitacional do DF.
                  Contra as expectativas do próprio governo e, sobretudo, de quem desaprova a luta popular, conquistamos no TJDF a suspensão da liminar de reintegração de posse. Reconhecemos e exaltamos publicamente a brilhante atuação da Assessoria Jurídica Universitária e Popular (AJUP)- Roberto Lyra Filho. O acampamento estar de pé tem parte fundamental destes companheiros e companheiras.
                  Corretamente, o TJDFT reconheceu que a empresa Jarjour não comprovou estar realizando obras no local, não exerce posse sobre o imóvel, e que o movimento não está causando prejuízo a ninguém com a ocupação. Afirmou-se, ainda, a importância de buscar-se uma solução negociada que tenha em vista a necessidade de moradia das famílias, para que se dê efetividade aos direitos sociais previstos na nossa Constituição.  O Judiciário dá, assim, esperança a quem acredita no cumprimento da nossa constituição no que se refere às demandas populares pelo direito à moradia e à garantia da função social da propriedade.
                  A ocupação deixa evidente que aquelas famílias não veem alternativa senão dormir em barracos para mostrar ao governo que conquistar o direito à moradia é diferente de “conquistar o direito de esperar na fila”! O GDF ainda não se manifestou publicamente, mas já reconheceu que se equivocou ao divulgar que o MTST ainda não havia entregado todos os documentos para se cadastrar no único programa habitacional existente. Tal cadastro será efetivado ainda este mês. E será estabelecida uma política de atenção às famílias enquanto essas esperam a casa definitiva. Todas conquistas do Novo Pinheirinho em 2012, em Ceilândia-Df.
                  Esta semana, no dia 22, completa um ano da desocupação violenta realizada no Pinheirinho, em São Paulo. Naquela época várias lideranças petistas se levantaram para denunciar a ação violenta do governo tucano. Hoje, não fosse o desempenho excepcional de nossos advogados que suspenderam a liminar, estaríamos vendo as mesmas cenas de injustiça e violência que vimos um ano atrás, no Pinheirinho. Cobramos do governo petista do DF uma posição diferente daquela tomada pelo governo tucano de SP! Cobramos uma solução em favor dos trabalhadores e trabalhadoras ao invés de mais favorecimento a empresários especuladores!
                  O MTST continua ocupando o prédio, que agora tem vida e cumpre (pela primeira vez em sua história) função social. Continuamos na luta para garantir a efetivação de uma política de habitação digna no DF, em especial para corrigir as distorções do programa Morar Bem - onde pessoas com direito a casas têm ofertas absurdas e são obrigadas a negar e voltar para o fim da lista. O movimento social tem legitimidade reconhecida para apontar falhas e organizar as pessoas na luta por seus direitos, cabe ao governo reconhecer e garantir o direito à moradia. O movimento continua aberto à negociação esperando que os governos não permitam outro Pinheirinho, no DF ou em qualquer lugar do Brasil e que garantam o direito das famílias!
Conquistamos na justiça o direito de ficar, conquistaremos na luta o direito de morar!
MTST! A Luta é Pra Valer!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ATO PÚBLICO - A crise do capitalismo e a luta dos trabalhadores!


A sexta edição da Escola Latino-Americana do CIT acontecerá entre os dias 22 e 27 de janeiro de 2013. 

O Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) é uma organização socialista internacional presente em mais de 40 países de todos os continentes. São militantes que estão na linha de frente da luta dos trabalhadores e dos povos oprimidos na Grécia, África do Sul, Palestina, China, EUA, América Latina, etc. O CIT levanta alto a bandeira do socialismo, da liberdade e da revolução em todo o mundo.

Escola Latino-Americana de 2013 se realizará em duas etapas. A primeira, de 22 a 25 de janeiro, será restrita a militantes do CIT da América Latina e outras regiões do mundo. 

A segunda etapa acontecerá no fim de semana de 26 e 27 de janeiro e é aberta a militantes, simpatizantes, amigos e aliados do CIT. Companheiras (os) que queiram conhecer mais o CIT são bem vindos.

Entre as duas etapas realizaremos um Ato Público sobre "a crise do capitalismo e a luta dos trabalhadores" aberto a todos e todas. O Ato contará com a presença de militantes socialistas de países como Bolívia, Venezuela, Chile, Brasil, EUA, Inglaterra, França, etc.

Não perca essa chance de se armar politicamente para as importantes lutas que virão em 2013. Participe!

Liberdade, Socialismo e Revolução - LSR www.lsr-cit.org 
Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores - CIT www.socialistworld.net