*Por Najla Passos [Carta Maior]
BRASÍLIA – A Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) formalizou nesta terça-feira (3) a última
desapropriação de terras para a construção da usina hidrelétrica de Belo
Monte, no Pará, que será a terceira maior do mundo quando estiver
pronta. E causou revolta num grupo de mais de 250 entidades nacionais e
internacionais que são contra a obra e fazem propaganda de
desmoralização dela e das autoridades brasileiras.
O Movimento Xingu Vivo, nome alusivo ao
rio amazônico que hospedará a usina, contesta o tamanho da mega
desapropriação – equivalente a 282 mil campos de futebol e à metade da
área do Distrito Federal -, a falta de negociação prévia e o momento do
ato da Aneel.
“Essa decisão envolve uma área gigantesca
e afeta a vida de milhares de pessoas. E isso não estava previsto no
projeto original. Mesmo assim, o governo toma essa decisão de forma
anti-democrática, sem sequer ouvir a população afetada”, diz a
coordenadora do movimento, Antônia Melo. “Nós fomos pegos desprevenidos.
A decisão foi tomada em meio aos feriados de final de ano, quando as
pessoas estão desmobilizadas. Não houve uma única audiência pública para
discutir essa questão.”
Pela resolução da Aneel que declara 282
mil hactares, em três cidades do Pará, como sendo de “utilidade
pública”, o consórcio de empresas que toca a obra da usina, chamado
Norte Energia, está autorizado a remover ribeirinhos, índios e pequenos
agricultores que vivem na região. Pode fazê-lo de forma amigável ou por
via judicial. E invocar caráter de urgência.
A resolução foi publicada no Diário
Oficial da União desta terça-feira (3). De acordo com a Aneel, a área
desapropriada é necessária para implantar o canteiro de obras, o
reservatório de água, uma Área de Preservação Permanente (APP) e para
reassentar populações afetadas pelo empreendimento.
Os números iniciais divulgados pelo
consórcio apontavam a necessidade de realocar quatro mil famílias
diretamente atingidas. O Movimento Xingu Vivo defende que o número é bem
maior: de 20 mil a 40 mil pessoas. E, diante do tamanho da área
desapropriada agora, acredita que chegue a 50 mil.
O Movimento convocou uma reunião geral
para o próximo dia 13, a fim de que seus associados discutam a última
resolução da Aneel e que tipo de medidas podem ser tomadas como
resposta. “O mundo todo está de olho no Xingu e na Amazônia. Não vamos
nos calar frente a mais esta manobra do governo para impor seu projeto
de desenvolvimento a qualquer preço. Nossa luta será ainda mais firme em
2012”, Antônia Melo.
Polêmica internacional
Segundo a Aneel, a primeira desapropriação em favor de Belo Monte foi feita em abril de 2010. Aqueles 3,5 mil hectares foram destinados a canteiros provisórios de obras, vias de acesso, alojamentos, estações de tratamento de água e outras instalações. A de agora liquida essa etapa.
Segundo a Aneel, a primeira desapropriação em favor de Belo Monte foi feita em abril de 2010. Aqueles 3,5 mil hectares foram destinados a canteiros provisórios de obras, vias de acesso, alojamentos, estações de tratamento de água e outras instalações. A de agora liquida essa etapa.
As obras da usina começaram em junho do
ano passado e, até dezembro, o governo registrava que 1% delas já
estavam concluídas. A previsão é de que Belo Monte entre em operação, de
forma parcial, em 2015. E que fique pronta em definitivo em 2019.
O Movimento Xingu Vivo já promoveu
centenas de manifestações contra a obra. Rrecebeu adesões
internacionais, como o ator e ex-governador da Califórnia Arnold
Schwarzenegger e o cineasta James Cameron, e de atores “globais”. Também
ingressou com 15 ações judiciais para tentar barrar a construção da
usina. Mas, até o momento, tudo o que conseguiu foi minimizar os
impactos socioambientais do empreendimento.
A construção da hidrelétrica foi uma das
plataformas de campanha da presidenta Dilma Rousseff, que defende o
empreendimento como alternativa enérgica para garantir o desenvolvimento
acelerado do Brasil.
Ambientalistas, porém, acusam a obra de
provocar uma devastação ambiental na floresta amazônica e apontam
alternativas mais viáveis ambientalmente, como o investimento em energia
solar e eólica.
Procurado pela reportagem de Carta Maior
para esclarecer as dúvidas a respeito da desapropriação e comentar as
críticas do Movimento Xingu Vivo, o consórcio de empresas Norte Energia
disse, por meio da sua assessoria de comunicação, que não se manifestará
sobre o assunto.
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