quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Garras neoliberais fincadas nos professores

* Por Paulo Metri
A palestra do senhor Jorge Gerdau na UFF, em que ele falava sobre Defesa Nacional, não me surpreendeu, pois falou todos os disparates neoliberais que se esperavam dele. Só fiquei na dúvida se seu pensamento representava o da maioria dos empresários nacionais. Na fase dos debates, um integrante da plateia perguntou ao senhor Gerdau, fugindo ao tema principal, o que ele achava das universidades públicas brasileiras. Em resumo, sua resposta foi a seguinte: “Elas devem atender ao mercado”. Estarrecido, veio à minha mente: “Coitados de nós! Cursos, como o de Antropologia, deverão fechar, pois não há mercado para eles”. No entanto, o plano dos neoliberais vai muito além de adaptar as universidades ao mercado, porque, na verdade, eles querem calar o maior foco de críticas bem articuladas ao neoliberalismo.

Não sou especialista em educação, mas creio ter certa dose de comprometimento social. Portanto, há a possibilidade de que minha opinião sobre a greve das universidades públicas seja melhor do que algumas que vejo na mídia parceira do senhor Gerdau. Vejo as universidades públicas como fontes de esperança. Sei que, em qualquer contingente humano, podem brotar lideranças justas com intenções solidárias e novas visões, que irão propor caminhos para a sociedade. Sei que homens e mulheres com restrições aparecem em qualquer grupamento humano e existem também nas universidades. Entretanto, atrevo-me a dizer que, levando em conta o tamanho dos respectivos universos, a incidência das tais lideranças nas universidades públicas é maior que a incidência no conjunto da sociedade. Não irei citar nomes como exemplos porque necessariamente cometeria o erro de esquecer várias ilustres lideranças.

O verdadeiro livre pensar está nestas universidades. Chega a ser tão livre que lá também encontramos neoliberais. O mesmo pensar não existe na mídia, apesar de ela dizer, ironicamente, lutar pela liberdade de expressão. Busca-se domesticar o livre pensar universitário, através da humilhação com os maus tratos, incluindo os maus salários. E não existe “livre pensar domesticado”, uma vez que ele ou é livre ou é domesticado. Quantas cabeças privilegiadas, que poderiam estar contribuindo para a sociedade dentro destas universidades, foram expulsas devido aos baixos salários? Elas estão, hoje, seguindo a arquitetura do senhor Gerdau, ajudando algum grupo do capital a acumular mais riqueza.

Respondendo, sem autorização, a agressões tópicas contra os professores de universidades públicas, digo que a sociedade vem dando pouca importância à sua situação de penúria. Então, não se pode dizer, agora, que eles são insensíveis e estão prejudicando toda sociedade. Se esta classe é tão importante para a sociedade, por que ela não é tratada com a correspondente consideração? Sem comparar com os salários da iniciativa privada e olhando somente para as carreiras do serviço público do Executivo, existem algumas que requerem menos escolaridade e ganham bem mais que os professores. Comparar com carreiras do Judiciário e do Legislativo seria mais drástico ainda.

Assim, os maus tratos aos professores fazem parte de um esforço dos neoliberais para reconquistarem algum espaço perdido com a crise de 2008. A mídia convencional tem trabalhado muito na direção de acobertar as reais causas desta crise. A partir dos anos 1990, muitas conquistas da Constituição de 1988 começaram a ser destruídas, inclusive por congressistas não constituintes, já existindo, hoje, um arcabouço institucional e jurídico que satisfaz muito ao mercado, com seu pensamento egoísta.

O neoliberalismo está ganhando, infelizmente, com a ajuda da mídia tendenciosa e antissocial existente, as mentes de quem decide o nosso país, o que se traduz em enorme perda para a sociedade. A destruição da universidade pública se trata, em última instância, de um esforço para a destruição do Brasil como Nação, por ela representar o resquício de um Brasil solidário, protetor de seu povo. Não sei de outra forma de apoiar esta greve, além de escrever este artigo, pois não sou professor.

Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros e do Clube de Engenharia.

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