Após a realização de um dos mais fortes movimentos de greve dos últimos dez anos, os servidores públicos federais começaram o retorno ao trabalho. Foram mais de cem dias de mobilização, que ainda segue em alguns setores, como professores das universidades e escolas técnicas, Incra e polícia federal.
O membro da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, Paulo Barela, fez um balanço do que representou essa greve para a categoria, que em sua avaliação demonstrou a coragem do movimento que vivenciou uma verdadeira guerra contra a política e o plano econômico do governo, em meio a uma crise econômica mundial e com altos índices de popularidade da presidência.
Entre os pontos que foram destacados por ele está a coragem da categoria em enfrentar a dureza do governo com sua política de reajuste zero para o funcionalismo. “Inicialmente o governo negava qualquer concessão aos servidores, alegando preocupação com os trabalhadores que não têm estabilidade no emprego e os efeitos da crise econômica no Brasil. Em seguida bradou que não negociava com grevistas. Adiou por inúmeras vezes as negociações na tentativa de ‘cansar’ os grevistas e jogar a opinião pública contra a greve”, avaliou.
Mesmo com todos esses ataques, Barela destaca que o movimento seguiu firme e aumentando a cada dia. “Para cada nova negativa de Dilma, os servidores federais respondiam com a adesão de mais categorias à greve. E foi assim até meados de agosto, quando algumas categorias, mesmo depois de três meses da deflagração da greve, ainda somavam-se ao movimento”.
Foram inúmeras mobilizações realizadas pelos servidores em todo Brasil, com protestos nas capitais dos estados e em Brasília.
Entre essas manifestações, os servidores realizaram um verdadeiro “Caça à Dilma” e acompanharam a agenda da presidenta, com atos exigindo negociação em todos os cantos do país onde ela estivesse presente.
A categoria chegou a fazer um bloqueio no Ministério do Planejamento às 5 horas da manhã do dia 19 de julho – mantiveram o prédio fechado por todo o dia. A pressão dos servidores fez o governo receber uma representação do Fórum Nacional das Entidades. “Começava ali um novo momento da greve. Acuado, o governo se viu pressionado a negociar com todas as categorias e mexer no orçamento para abrir concessões salariais. Naquele momento, a empáfia do governo era dobrada pela força e organização da greve”, analisou Barela.
Vitória política - Outro ponto importante de balanço da greve, elencado pelo dirigente da CSP-Conlutas, foram os ganhos econômicos, que em sua visão, foram importantes, mas pequenos frente ao grande movimento, ainda assim, representaram uma demonstração do efetivo recuo do governo.
De acordo com Barela, a previsão era “zero por cento” de reajuste, mas o movimento conseguiu arrancar R$ 12 bilhões/ano até 2015. Oito vezes mais do que foi concedido neste ano, R$ 1,5 bilhões. Porém, em sua avaliação, ainda muito insuficientes para a maioria das categorias que vão ter um reajuste de 15,8% em três anos. Isso não cobrirá sequer as perdas inflacionárias. Entretanto, Barela explica que alguns setores, como técnicos das universidades federais e escolas técnicas, professores, IBGE, carreira ambiental e parte do PCCTAE receberão reajustes maiores em forma de incorporação de parte das gratificações e adicionais por graduação e titulação (cursos de especialização, mestrado e doutorado).
“A greve do funcionalismo federal foi um fenômeno pela sua abrangência, radicalidade e expressão política na conjuntura do país. Impôs ao governo Dilma uma derrota política de proporções muito grandes, forçando uma mudança na relação com o funcionalismo e garantindo negociação e concessões para a categoria. O desgaste político foi tão grande que os índices de popularidade do governo despencaram, em média, 10 pontos percentuais nas principais capitais do país, de acordo com os principais institutos de pesquisas de opinião pública”, informou Barela.
O dirigente não deixou de ponderar em sua analise que isso aconteceu pela primeira vez nos 12 anos de governo de frente popular, se considerados os dois mandatos de Lula e o atual mandato de Dilma.
Em sua avaliação, o legado mais importante dessa greve foi a derrota política imposta ao governo Dilma e, como consequência, a vitória também política do movimento. Isso coloca os servidores federais em uma situação mais favorável para novos enfrentamentos com o governo no próximo período. “Já temos um primeiro desafio pela frente: barrar os projetos de regulamentação do direito de greve, que, em essência, buscam proibir ou limitar substancialmente, a realização de greves no setor público”, finalizou.
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