*Por Paulo Metri
Até que enfim o Brasil está destravando. Agora, vai ser para valer.
Depois do julgamento do mensalão, teremos o do mensalão mineiro, aqueles
derivados das operações Satiagraha, Castelo de Areia, Vampiro...
Operações da Polícia Federal, até hoje sem conseqüências judiciais, mas
cheias de descobertas escabrosas, não faltam. O Ministério Público
Federal e a Procuradoria Geral da República vão ter muito que fazer nas
suas áreas de competência, pois cuidarão de diversos processos para
encaminhar aos Tribunais. Os potenciais fichas-sujas, que sempre
estiveram escondidos nos trâmites burocráticos, coloquem suas barbas de
molho, pois seus períodos de impunidade estão prestes a terminar.
Quem sabe se, agora, o réu confesso Ronivon Santiago não vai
conseguir a paz? Ele queria, salvo engano, expiar sua culpa, pois
confessou ter vendido por R$ 200.000 seu voto parlamentar em troca de
apoiar a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo
reportagem da Folha de São Paulo de 13/5/1997. Os preços mínimos e o
modelo de privatização, que levaram as empresas estatais a serem
privatizadas por preços muito baixos no período FHC, podem ser
investigados. Aliás, para este caso, o livro “Privataria Tucana” pode
vir a ser útil.
Há pouco tempo, circulou na internet um correio com uma extensa lista
de escândalos sem solução do Brasil nos últimos anos. Assim, muitos dos
processos, que dormem em pilhas há anos, com o beneplácito dos
“engavetadores”, vão ser acordados. Depois desta “passada a limpo”, não
haverá mais denúncia sem a devida averiguação e a eventual abertura de
processo.
Neste ponto do sonho, me acordam e jogam contra mim a dura realidade,
que chega a doer. Existirá tão somente este julgamento, o do suposto
mensalão. Portanto, não é um processo global de respeito à Justiça. É um
julgamento único, que também deve existir, e como em todos os
julgamentos, nele, a justiça também deve prevalecer. Aliás, a eventual
culpa dos que podem estar comprometendo todo um belo projeto de
libertação dos miseráveis deve ser punida.
Entretanto, espantos relevantes existem. Só este processo? Julgado
exatamente no presente momento, quando se está próximo da eleição
municipal, que certamente irá influenciar os rumos da campanha
presidencial de 2014? Com razoável celeridade, por sinal bem vinda, mas
incomum na nossa Justiça?
Pode-se até dizer que, para certos grupos políticos, este julgamento
veio a calhar, pois os ajuda de montão. As más línguas chegam a lançar
versões venenosas, dizendo que é um julgamento encomendado. Não
compartilho de tamanha agressão, pois, nesta versão, grupamentos
políticos estariam utilizando a justiça como instrumento para chegar ao
poder.
Contudo, é verdade que, toda vez que classes menos favorecidas têm
alguma melhoria de vida significativa, alguma mais valia deixa de ser
usurpada e classes abastadas ficam ligeiramente menos ricas. O prejuízo
nem é tão grande, mas, para criar exemplos, este horror precisa ser
contido.
Neste momento, os donos do capital chamam, dependendo do momento
histórico e do local, forças diversas para socorrê-los. No Brasil, em
1964, foram chamados os militares para auxiliar na perpetuação da má
distribuição de renda, que aceitaram a proposta em troca do mando da
nação, exceto em qualquer área que comprometesse a lucratividade das
classes mais ricas. Ocorreu, assim, um golpe militar.
Recentemente, no Paraguai, foram chamados os próprios representantes
da classe dominante, que compõem a quase totalidade dos integrantes do
Congresso. Foi um golpe legislativo. Em alguns países, os donos de
capital locais se aliam até com forças estrangeiras para dominar seus
compatriotas, que não se subjugam à exploração. Tem-se, assim, um golpe
militar com apoio de forças estrangeiras.
O golpe dos integrantes da Casa Grande em processo no Brasil, hoje, é
tão ardiloso que quem o denuncia é rotulado como pertencente ao PT ou
corrupto interessado no perdão dos culpados (assim definidos a priori).
Nunca será visto como interessado na continuidade do processo de
inclusão social em curso há dez anos. Ou alguém tem dúvida que a
paralisação desta inclusão é o passo seguinte após as vitórias
eleitorais do grupo conservador, se isto ocorrer?
É óbvio que não podemos retirar os créditos merecidos da mídia
caluniosa. As televisões, onde a grande massa brasileira obtém
informações, não divulga os verdadeiros fatos, deforma a realidade com
versões deturpadas, ludibria, mente, enfim, prejudica a sociedade e está
sempre a serviço do capital. Na mídia, existem exceções honrosas, como,
por exemplo, a revista Carta Capital. Mas, todo golpe tem suporte
midiático.
Sobre este ponto, não me esqueço da imagem recente de um articulista
sofrível colocado para ser comentarista de um grande canal de televisão,
que falava sobre o mensalão. Assim, tendo que desenvolver o raciocínio
que lhe ordenaram, sem grande afinidade com questões jurídicas, era uma
figura estranha. Mas não existia inocência nele, pois seu salário
certamente é muito alto. Era uma mensagem para o grande público sobre a
culpa de José Dirceu, mas com o intuito de constranger os ministros do
Supremo, uma vez que os votos destes não poderão fugir ao óbvio
ensinado, sob pena de ser algo “muito errado”.
Há esperança de que, mais uma vez, um desenvolvimento tecnológico
esteja quebrando um monopólio de controle das mentes. A Igreja perdeu
este controle, detido através dos monges copistas, quando publicava só o
que era de seu interesse, à medida que Gutemberg inventou a prensa para
produção de impressos em série. Atualmente, a internet seria o
desenvolvimento tecnológico que permite à população ter acesso a
diferentes versões para o que acontece, ou seja, ela mostra um novo
mundo escondido pela mídia convencional e corrupta. Afinal de contas,
estou sendo lido, agora, graças à internet.
*Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros e do Clube de Engenharia.
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