segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Coordenação Nacional reafirma caráter popular da CSP-Conlutas e emociona a todos com a presença de liderança Guarani Kaiowá


 “Vamos reconstruir palmares”, declamava o membro do Movimento Luta Popular Luan, na poesia “Rei Palmares”, de sua autoria. Isto ocorreu durante a mística que abriu o debate sobre movimentos populares, na parte da tarde do segundo dia da Coordenação Nacional.

Além da mística que emocionou a todos, o início da reunião teve como um dos destaques a presença do indígena da etnia Guarani Kaiowá, Ladio Veron (Ava Taperendy). O companheiro veio pedir a solidariedade política e financeira dos trabalhadores para a luta travada por sua comunidade no Mato Grosso do Sul. Eles lutam pelo direto às suas terras, denunciam as condições subumanas a que os indígenas daquela  região estão submetidos e ainda vivem na mira dos pistoleiros.


A mesa, coordenada por Julio Condaque do Quilombo Raça e Classe, teve como expositores, além do indígena, a integrante do Movimento Luta Popular Helena Silvestre, João Batista do MTL (Movimento Terra Trabalho e Liberdade) e o membro do Movimento Tribunal Popular, Sassá Tupinambá.


O indígena denunciou as condições precárias a que seu povo está submetido. Três liminares já foram expedidas contra os guaranis para tirá-los de suas terras. “A gente [lideranças indígenas] se reuniu e pediu para o governo federal nos exterminar, eles veem a gente como bichos, Lula não fez nada, agora tá a Dilma e que também não fez nada”, frisou.


Quarenta e seis áreas indígenas estão esperando demarcação, e segundo Veron, “por causa dessa demora, os indígenas estão passando por uma situação desumana”.
 O índio comparou a sua luta com a dos trabalhadores: “vejo o enfrentamento de vocês com o governo e enfrentamos a mesma situação”, e desabafou: “Nós não aguentamos mais”.
O indígena clamou por ajuda: “Vim aqui pedir ajuda de vocês, um apoio político e financeiro porque meu povo está morrendo, morando debaixo de lonas na beira da estrada, enfrentando chuva, doença e falta de medicamento, vim trazer a queixa desse povo sofredor”.

“Façam pressão contra o governo que não quer receber a gente, nós estamos cansados, elaboramos a carta com 38 lideranças indígenas com esse clamor”, destacou.

A atuação do movimento popular na Central – A integrante do Movimento Popular, Helena, falou da importância de uma Central que abrange os setores popular e sindical e de como atuar para cada vez mais integrar esses setores nas lutas. 


Segundo ela, existe uma grande ofensiva contra os movimentos populares e o conjunto da classe, com militarização de morros e a repressão da policia contra a juventude negra nas periferias. “A gente tem uma tarefa de olhar o território como espaço de enfrentamento contra o capitalismo, assim como os trabalhadores utilizam as greves para lutar por direitos, temos que ver formas de buscar como mobilizar os que se organizam no movimento popular, que sofrem uma verdadeira faxina étnica”, explicou.

Helena fez a denúncia do que representa o projeto Minha Casa Minha Vida. “As pessoas não alcançaram o direito à moradia [com esse projeto], o que as pessoas têm conseguido é ser consumidoras da moradia, transformam tudo em consumo”, destacando que esses serviços são direitos que deveriam ser garantidos e não comprados.

“A cidade é um palco de disputa e nós trabalhadores precisamos de uma cidade pautada na vida, em contraponto com o capital que é pautado no lucro”, disse.

Helena explicou que a concepção do Movimento Luta Popular, recém fundado, e que integra a CSP-Conlutas, não se firma em uma única bandeira: “lutamos por espaço, por moradia, pela apropriação pública da cidade através das ocupações urbanas, nas lutas nos bairros, em núcleos de luta para pessoas que tem moradia, mas precária, e na tentativa de nos organizar nos processos de resistência cultural”.

Para ela a perspectiva que a CSP-Conlutas representa de unidade sindical e popular é fundamental para o fortalecimento das lutas. “A classe trabalhadora é classe trabalhadora onde trabalha e onde mora. O projeto de uma nova sociedade precisa chegar à classe seja onde ela estiver”, finalizou.

João Batista destacou a necessidade de a CSP-Conlutas atuar como protagonista também da luta agrária, já que, segundo ele, o MST deixou de existir como um movimento autônomo, pois se atrelou ao governo. Além disso, ele destacou que o movimento agrário não é monopólio do MST. “Hoje existem mais de cem movimentos de luta pela terra espalhados pelo país”, afirmou.

Julio Condaque salientou sobre a luta dos Quilombolas pela demarcação dessas terras que é a mesma luta dos indígenas. Os ataques aos quilombos do Brejo dos Crioulos (MG) e dos Macacos (BA), consequência do novo código florestal, permite aos exploradores entrarem em áreas de preservação ambiental, atingindo os interesses dos povos originários, tanto os índios como quilombolas.  Para ele isso fere o artigo 68 da Constituição Federal que trata da titulação das terras dos povos originários e também o artigo 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), do qual o Brasil é signatário, em que o país se compromete a não discriminar nenhum povo.

Um intenso debate foi feito, com falas de diversas entidades e movimentos, reforçando a importância da discussão.

Ao final, Helena concluiu dizendo que o debate foi importante para consolidarmos o caráter da CSP-Conlutas: “ a realização de debates como este é fundamental para que sindical e popular  não sejam apenas duas letras na sigla da Central”.

Alertou ainda que a Central tem muito a percorrer para que isso ocorra. “É um caminho grande, a coragem de começar já tivemos, agora temos que ter a perseverança de seguir com esse projeto”, finalizou.

Ladio Veron reforçou o chamado para a luta travada pelos povos Guarani Kaiowá. Todos aplaudiram de pé o indígena e entoaram num só coro: “Pra resistir, e pra lutar, somos todos Guarani Kaiowá”.



No domingo, último dia da reunião, foi aprovada a resolução sobre o preenchimento das três vagas remanescentes da SEN, antes destinadas ao MTST.

Elas serão preenchidas pelos setores que não acompanharam a decisão do MTST de romper com a Central (Amazonas, Minas Gerais, Pará e Ceará) e pelo novo movimento Luta Popular.

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