Introdução
A presença de um grande contingente populacional vivendo no campo em
condições de grande precariedade revela a persistência e gravidade da questão
agrária na sociedade brasileira. A dimensão do problema fica caracterizada
quando se leva em consideração que, no final da primeira década do segundo
milênio, cerca de 30 milhões habitam a zona rural – mais do que a população da
Venezuela – sendo que aproximadamente 55% – quase 17 milhões de pessoas -
encontram-se em situação de pobreza – população superior à chilena.
A persistência de homens pobres no campo está diretamente
relacionada à forma de exploração da terra. O predomínio de grandes empresas
agrícolas, que organizam sua atividade produtiva tendo como base o controle de
vastas extensões de terra e a mobilização de grandes contingentes de
mão-de-obra barata para produzir mercadorias em grande escala no regime de
monocultura, cristaliza o latifúndio e a superexploração do trabalho como
pilares fundamentais da vida econômica e social no campo.
Herança não resolvida da economia colonial, tal padrão de
organização da agricultura tem revelado surpreendente capacidade de resistir à
força do tempo e de opor-se a qualquer iniciativa de democratização do mundo
rural. A estabilidade da estrutura fundiária na história brasileira – expressa
na inabalável rigidez do índice de Gini – deixa patente a perfeita simbiose
entre modernização técnica e latifúndio. A baixa renda do 2 em seu
livro, Formação do Brasil Contemporâneo, na seção Vida Material; e
por Celso Furtado, em Análise do modelo brasileiro, cap. 2.
Trabalho no campo evidencia a estreita correlação entre agronegócio e superexploração. O fato fica evidente quando se constata que atualmente a renda média dos trabalhadores rurais pobres é de aproximadamente 80% do salário mínimo e que a renda média dos trabalhadores rurais não pobres é 40% inferior ao rendimento médio nacional.
Não obstante as evidências de uma grave crise social no campo, a pensamento conservador insiste em desconstruir a questão agrária. Nos teóricos mais apaixonados do novo ruralismo, tal esforço assume forma caricatural. Um de seus expoentes chega ao extremo de combinar explicitamente a exaltação do agronegócio com a naturalização das desigualdades sociais e da concentração fundiária; o ataque raivoso contra qualquer proposta de mudança no campo; e a despudorada proposta de jubileu para o processo de grilagem de terra.
Mais do que expressão objetiva da realidade, a cruzada para a
desconstrução da questão agrária constitui sintoma inequívoco do medo pânico da
burguesia brasileira em relação às ameaças de rebelião latentes no campo.
Ao aumentar a corrida por terras, a revitalização do agronegócio tende a
acirrar ainda mais as terríveis contradições que opõem o latifúndio ao homem pobre.
É a necessidade de dar uma resposta ao agravamento da crise social
no campo que recolocou a questão agrária no debate nacional. O surgimento de
uma diversidade de movimentos de trabalhadores rurais pobres e a criação do
Ministério do Desenvolvimento Agrário foram produtos históricos dessas
contradições - representam respostas opostas para as tensões e conflitos no
campo. Com a intenção de contribuir para o debate sobre o papel da questão
agrária na revolução brasileira e a importância estratégica desta para a
reforma agrária, equacionaremos, em termos bem gerais, a atualidade e os novos
desafios da luta pela democratização do campo no Brasil contemporâneo.
O artigo tratará, em grandes linhas, de cinco aspectos do problema. Na
seção ii, qualificaremos a importância da questão agrária como nó estratégico
do processo histórico de formação do Brasil contemporâneo, ressaltando a
importância estratégica do latifúndio como uma das bases fundamentais do padrão
de acumulação e dominação do capitalismo dependente. A argumentação será
desenvolvida tendo como referência o aporte teórico e metodológico do
pensamento crítico brasileiro, em particular o de Caio Prado Júnior, para a
compreensão da questão agrária como parte da problemática mais geral da
formação do Estado nacional. Em seguida, na seção iii, caracterizaremos a
solução burguesa para a questão agrária, destacando o marco institucional que
determina a naturalização do latifúndio como base da organização econômica,
social e política do campo. Na seção iv, discutiremos os parâmetros
institucionais e estruturais que condicionaram a questão agrária após o fim da
ditadura militar. Na próxima, seção v, apresentaremos os condicionantes
históricos da ascensão e da derrota da luta pela reforma agrária no período
recente (posterior a 1985). Na seção vi, relacionaremos a derrota da reforma
agrária com o fracasso do programa democrático-popular que orientou a luta por
reformas nas últimas décadas. Por fim, nas conclusões, seção vii, esboçaremos
uma rápida síntese sobre a atualidade e os desafios da reforma agrária.
leia o artigo completo no link: http://ummundomelhorpossvel.blogspot.com.br/2012/11/notas-criticas-sobre-atualidade-e-os_3183.html
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