SERÁ PRECISO MAIS 20 ANOS?
Companheiros e companheiras a situação aqui na região do Araguaia está tensa, cada dia mais preocupante.
Após idas e vindas à Brasília daqueles que são opositores à
desintrusão não contavam com a firmeza do Supremo Tribunal Federal ao
manter a decisão da desocupação do território de Marãiwatséde,
historicamente pertencente ao povo Xavante. Criou-se uma expectativa de
que o prazo máximo da desintrusão seria cumprido, afinal o Governo
Federal garantiu sua tropa de Elite para o cumprimento dessa ordem
judicial.
Mas o que estamos vendo e assistindo através da mídia é que, ao invés
de se resolver um problema que já se arrasta por mais de 20 anos, estão
criando centenas de outros, principalmente para as cidades do entorno.
O nosso bispo D. Pedro Casaldáliga, foi forçosamente obrigado a ir
para o exílio – está fora de sua casa para não ser sequestrado e
assassinado.
Uma indígena Xavante estava em trabalho de parto e saiu da aldeia na
viatura da saúde, escoltada pela polícia da Força Nacional e mesmo assim
não conseguiram ultrapassar a barreira feita na BR 158, que está
acontecendo desde a cidade de Barra das Garças até o local da
desintrusão (Posto da Mata).
Em várias cidades aqui da região já começa acontecer o
desabastecimento de alimentos, combustível, etc. O pior dessa situação é
que cresce assustadoramente a Ideologia do etnocentrismo acompanhada de
forte preconceito de morte aos povos indígenas, particularmente
Xavantes. Não foi por acaso, que tentaram assassinar o cacique Damião e
seu filho Mário, por pouco não morreu em uma emboscada próximo à aldeia.
Comenta-se por aqui que até pistoleiros do Estado do Pará foram
contratados para executarem alguns trabalhos na região. Boa coisa não
pode vir daí. Surge o boato de que até o linhão (cabos de energia que
abastecem a região) serão cortados caso o “Governo” não desista da
desocupação. Pasmem todos se isto, de fato vir acontecer.
Os agentes de pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia são
frequentemente hostilizados quando saem às ruas, nos supermercados, etc.
Tememos que o pior possa acontecer com alguns deles.
A situação está gravíssima a ponto de acontecer uma tragédia sem
precedentes, a qualquer momento. É claro que não queremos violência, mas
sim uma operação da força do governo mais enérgica e eficaz, no sentido
de garantir a população em geral o seu direito de ir e vir e que a vida
continuasse “normal”. Toda a população irá ficar refém de um grupo de
oportunistas que, conscientemente roubararam a terra dos Xavantes e
agora estão espalhando o terror em toda a região com bloqueio nas
estradas, pontes, obrigando as pessoas a caminharem a pé para trocar de
ônibus na BR 158.
Antes de terminarmos essa carta chegou a notícia da continuidade da
barbárie, atingindo diretamente a aldeia dos Xavantes com a derrubada de
uma ponte deixando-os completamente isolados sem água potável e
alimentos suficientes para aguardarem o fim da operação desintrusão, que
lhes reparará essa injustiça que já dura meio século.
Acreditamos que o aparato montado para executar o processo de
desintrusão deva, ao mesmo tempo em que colocar os intrusos para fora,
garantir que a vida das pessoas das cidades do Baixo Araguaia continue
sem ter que ficar a mercê de um pequeno grupo de pessoas que querem a
todo custo continuarem sobre ao território tradicional de Marãiwatsédé
desde sempre.
Segue abaixo os nomes dos agentes de pastoral da Prelazia de São
Félix do Araguaia que participaram da construção dessa carta, que tem
como objetivo chegar ao conhecimento de entidades e autoridades
constituídas desse país, a fim de juntos buscarmos uma solução para esse
estado de coisas, garantindo a segurança do povo xavante que aguarda
com ansiedade a hora de tomar posse de uma vez por todas da terra que
lhes pertencem.
Pedimos aos companheiros e companheiras que na medida em que forem
lendo essa carta acrescente o seu nome para fortalecer mais ainda esse
grito de defesa a Vida.
Diacóno José Raimundo Ribeiro da Silva
Rita de Cássia de Azevedo
Padre Paulo César Moreira Santos
Francisco Machado
Diácono Eliseo Gobato
Umbelina de Oliveira
Irmã Olímpia Soares
Irmã Eismar Vieira
Dandara Terra de Azevedo e Silva
Antonio Carlos Pereira da Silva – Tonny
Edevaldo Aparecido Marques
Luiza Pedrolina Dantas
Eder Francisco da Silva
Cheila M. Subenko Olalla- MNDH- São Paulo
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