segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Entrevista com o historiador Mario Maestri: 2013: sob uma nova ofensiva do capital


O ano de 2013 começa bastante embaraçado.

Olhando para fora, como amplamente avaliado na edição especial retrospectiva deste Correio, este ano se inicia sob a persistência e intensificação da crise econômica mundial, que se arrasta desde a sua eclosão entre 2007 e 2008. Uma crescente perda de autonomia nacional, através da ingerência de órgãos supranacionais, tais como Banco Central Europeu, União Europeia, FMI, Banco Mundial, é a face mais visível dessa crise, face a movimentos de resistência que não têm conseguido ultrapassar propostas cosméticas de enfrentamento da crise capitalista.

Internamente, 2013 começa à sombra do que se pode concluir serem duas categorias de acontecimentos do ano anterior. Por um lado, aqueles que apenas reforçaram mais do mesmo, tais como a criminalização e repressão de movimentos sociais em um ano marcado por fortes protestos populares. Por outro lado, fatos como o chamado mensalão e os resultados das eleições municipais trouxeram à cena política situações que, para muitos, pareceram inusitadas e peculiares.

Ao mesmo tempo, como ressalta o Editorial desta edição prospectiva, não se pode pensar em 2013 sem levar em conta 2014 – ano de Copa e eleições presidenciais. Episódios que certamente farão retroagir para 2013 a inevitável pressão que exercerão sobre os orçamentos públicos e os direitos sociais.

historiador Mário Maestri é o nosso entrevistado para esta edição especial prospectiva. Em sintonia com a voz geral dos colunistas e colaboradores desta edição, o historiador faz eco à noção de que, no plano interno, a grande aposta para 2013 é a retomada do investimento privado - que foi uma grande decepção em 2012, ano no qual se apresentou de modo cabal a desindustrialização do país. Segundo avalia Maestri, “no início do governo Dilma Rousseff, devido ao perigo inflacionário, aumentaram-se os juros, negou-se qualquer aumento dos salários públicos e mínimo e cortou-se o orçamento. A presidenta foi aplaudida pelo conservadorismo pela nova forma de governar, diferenciada do populismo lulista. Com a regressão da economia, inverteu o passo: retomou o programa de gastos públicos, desonerou segmentos da produção, exportação e comércio, com forte incidência nos ingressos públicos (...),  empreendeu desvalorização relativa e limitada do real (...), impulsionou lentamente a queda da taxa básica de juros (Selic) para 7,25%”.

O que, no entanto, ressalta como essencial das avaliações prospectivas nesta edição do Correio é a limitação de visão estrutural e o limitado arco de ação redistributiva nos quais se enquadram medidas tais como as acima citadas. E que, certamente, e infelizmente, deverão dar o teor predominante de um ano que, conforme ressaltado, será de corrida contra o tempo em face dos eventos esportivos e eleitorais que se avizinham para 2014.

Conforme ressalta o economista Guilherme Delgado, “em resposta à crise do crescimento externo, o sistema econômico recalibra suas estratégias de defesa, agora cada vez menos encadeadas com uma política social distributiva e cada vez mais concentradas com os segmentos do setor primário-exportador. Aposta-se demasiado numa fantasia verbal – ‘o espírito animal do empresários’ – em detrimento do argumento da igualdade social”.

No que diz respeito a uma reação mais orgânica e efetiva a esta lógica, Maestri não se mostra otimista: “no Brasil e no mundo, grupos e movimentos que se propõem como revolucionários afastam-se da influência do mundo do trabalho e estabelecem espaços de colaboração com o grande capital”. Quanto ao Brasil especialmente, são também lembrados pelo historiador os efeitos nefastos do “lulismo”, “efeito e causa da fragilidade do movimento social brasileiro”, assim como as consequências das políticas lulo-petistas, “que procuram manter o controle estatal e político sobre enorme lúmpem-proletariado, em geral jamais realmente incorporado à produção”.

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