“Chega de sufoco”. A máfia dos transportes e os escandalosos esquemas de corrupção entre o governo do Estado e empresas por meio de licitações do transporte público, os panes nos metrôs, os sufocos cotidianos que a população enfrenta nos trens e ônibus lotados e a defesa de um transporte público de qualidade levaram cerca de 4 mil pessoas às ruas na capital paulista nessa quarta-feira (14).
Convocada pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Movimento Passe Livre (MPL), CSP-Conlutas e outras entidades, a manifestação concentrou-se às 15h no Vale do Anhangabaú. Uma imensa faixa com os dizeres “Transporte não é mercadoria. Chega de sufoco! Por um transporte dos trabalhadores e usuários” via-se pendurada do Viaduto do Chá.
Além da CSP-Conlutas, Intersindical, CUT, CTB, ANEL, Movimento Luta Popular, PSOL, PSTU, Levante Popular da Juventude, Marcha Mundial de Mulheres, Juventude do PT, UNE, PCO, MTST, Juntos, Fórum Popular da Juventude, e anarquistas foram alguns dos grupos que coloriram o ato com bandeiras e faixas.
Sem carro de som, o ritmo da manifestação foi marcado pelos tambores das baterias de variados grupos. “Trabalho, estudo, dou duro o dia inteiro; Geraldo anda de carro e ainda rouba o meu dinheiro!”, “Se tem dinheiro pra propina de tucano, não aceito lero-lero; não pago três, não pago dois, não pago um, eu quero tarifa zero!” foram alguns dos gritos de ordem do ato, que percorreu diferentes pontos do centro da cidade, apesar do frio e da chuva fraca.
“Estamos aqui expressando nossa indignação frente a máfia dos transportes, que inclui o governo Alckmin e vai além dele”, afirma Altino de Melo Prazeres, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. “A população está mobilizada e a confiança nos politicos vem caindo todos os dias”, avalia.
Na carta de reivindicações entregue pelo Sindicato dos Metroviários ao secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, os trabalhadores exigem, entre outras demandas, a abertura da caixa-preta dos transportes, prisão “dos corruptos e corruptores”, suspensão imediata da licitação da linha 6, fim das privatizações e das terceirizações, tarifa zero, metrô 24h aos domingos e feriados com contratação de mais funcionários e gestão do transporte conduzida sem empresários, mas por trabalhadores e usuários.
“Queremos a devolução do dinheiro roubado, já se fala em R$425 milhões. E claro que o contrato com a empresa tem que ser cancelado, não é possível que se saiba que houve roubo de verba pública e o contrato continue como se nada tivesse acontecido”, critica Altino, referindo-se à declaração de Geraldo Alckmin (PSDB) de que vai processar a multinacional alemã Siemens por formação de cartel, mas manterá os contratos com a empresa que ainda estão em vigor.
Na coletiva de imprensa realizada na terça-feira (13) o procurador-geral do Estado, Elival da Silva Ramos, afirmou desajeitadamente que “se há uma contradição, é da legislação. O Estado não tem o poder de dizer ‘como uma empresa praticou um ilícito, vou romper os contratos’”.
Para Marcelo Hotmisky, integrante do MPL, as denúncias de superfaturamento de contratos do metrô e da CPTM escancaram como “o dinheiro público está servindo, uma vez mais, aos interesses dos empresários e políticos”. “O protesto de hoje tem a mesma lógica dos que fizemos contra o aumento da tarifa, tarifa que barramos com as forças das ruas”, descreve.
O protesto seguiu pela rua Libero Badaró e fez uma parada em frente ao Ministério Público de São Paulo, passou pelo Pátio do Colégio, a rua Boa Vista e ateou fogo em uma catraca em frente a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos. O boneco de um empresário, com uma cartola, também foi queimado.
Ao final, a maioria dos manifestantes ficou na praça da Sé e alguns grupos se dirigiram por outros trajetos. Alguns subiram a av. Brigadeiro Luís Antônio, outros foram para a frente da Assembleia Legislativa de São Paulo, onde houve confronto com a Polícia Militar e outros se dirigiram para o que se transformou em uma ocupação na Câmara Municipal de São Paulo, também com repressão policial.
Para o membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas José Maria de Almeida, o Zé Maria, além de apontar os problemas do transporte em São Paulo, a marcha também serve como preparação para a paralisação nacional de 30 de agosto. “É importante apontar aqui os problemas relacionados os transporte em São Paulo e transformar essa iniciativa em uma preparação para o dia 30, quando trabalharemos com bandeiras mais amplas, entre elas o arquivamento do PL (Projeto de Lei) 4330, que precariza ainda mais o trabalho e hoje teve sua votação adiada para setembro pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara dos Deputados.
Após protesto, estudantes ocupam a Câmara Municipal de São Paulo em defesa do passe livre
A Câmara foi ocupada pela CSP-Conlutas, a ANEL, o DCE da USP, estudantes da Escola de Sociologia Política, entre outras entidades. A principal reivindicação é o agendamento de uma audiência pública para debater a viabilidade do passe livre.
Durante a ocupação da Câmara, Clara Saraiva, da Secretaria Executiva da Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre), disse que a ação faz parte da “jornada de agosto”, em que Câmaras estão sendo ocupadas em todo o Brasil. O passe livre é o principal eixo da pauta de reivindicações dos manifestantes. “Nosso objetivo é ficar aqui até que seja agendada uma data para uma audiência pública sobre este tema”, explicou a estudante.
Os ocupantes também querem a garantia de que não vão sofrer retaliações e que não irá se repetir violência por parte da polícia, como aconteceu durante a entrada no prédio da Câmara Municipal e com mais intensidade na ocupação da Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), realizada por outros grupos.
O vereador Ricardo Young (PPS) conversou com representantes das entidades e movimentos presentes. Está em discussão a possibilidade de realização de uma audiência pública na quinta-feira, 22, com a presença de todos os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Transportes, no salão nobre, com capacidade de 380 pessoas.
Young afirmou, em transmissão ao vivo pela internet, que concorda que a CPI é “chapa branca” e se comprometeu em ouvir todos os movimentos. “Todos os movimentos organizados vão poder explanar sobre seus pleitos, mas não se esqueçam que é uma audiência com a CPI. É a hora de ficar cara a cara com a CPI. CPI não se sabe quando começa nem quando termina, depende da pressão popular”, disse.
Além de reivindicar o passe livre, os manifestantes são contra a corrupção e defendem a abertura da caixa preta dos transportes; o fim das privatizações; a estatização do metrô, trens e ônibus; a redução das tarifas; o fim das terceirizações etc. A pauta foi construída através do Fórum em Defesa do Transporte Público, com a participação, por exemplo, do Sindicato dos Metroviários e do MPL.
Gabi Moncau e Lara Tapety
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