Com a aprovação do novo Código Florestal, as consequências para o meio ambiente não tardaram a acontecer. A nova regulação apoiada pela bancada ruralista que, entre outras demandas do agronegócio anistiou desmatadores, abriu definitivamente a brecha para que a corrida pela devastação recomeçasse a todo vapor e um novo ciclo de desmatamento se iniciasse na Amazônia Legal.
Segundo o Instituto Imazon, que acompanha a perda florestal com base nas imagens de satélite SAD, entre agosto de 2012 e maio de 2013 foram desmatados 1.654 quilômetros quadrados, 89% acima do período anterior.
Pesquisa do Imazon indicou que a anistia a proprietários rurais que desmataram antes de 2008, aliada à pressão demográfica causada por grandes obras de infraestrutura e a negociações para reduzir o tamanho de unidades de conservação, teria criado um clima propício ao desmatamento na região.
Em junho deste ano foi desmatada uma área de 184 quilômetros quadrados, 437% a mais do que em junho de 2012. De agosto de 2012, véspera da votação do Código Florestal, até junho, foram derrubados 1.855 quilômetros de florestas, mais que o dobro em relação aos 1.106 quilômetros quadrados desmatados entre agosto de 2011 a julho de 2012.
Para Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon, o Código Florestal emitiu uma sinalização ruim, de perdão a desmatamentos consumados, e tanto o Congresso Nacional quanto o governo Dilma emitem sinais de afrouxamento das regras. “O risco é perder de novo o controle sobre o desmatamento na Amazônia, que estava em queda”, afirmou Veríssimo ao jornal O Globo.
O desmatamento dos últimos onze meses de monitoramento do Imazon é o maior desde o período 2007/2008, quando foram desmatados 1.758 quilômetros quadrados. Nele, está incluído o chamado corte raso, quando toda a floresta é posta abaixo para dar lugar a pastos ou ocupações. A degradação florestal, fruto de queimadas e cortes seletivos de árvores de maior valor comercial, direcionados a madeireiras, atingiu 1.462 km².
De acordo com o pesquisador do Imazon, o que está em jogo é o avanço da indústria de grilagem sobre uma área estimada em 25% da Amazônia Legal, ou 1,250 milhão de km² de terras de ocupação não consolidada, habitadas por comunidades tradicionais.
Parte do desmatamento decorre ainda da pressão demográfica exercida sobre a floresta por obras de infraestrutura, como o asfaltamento da BR-163 e a construção de hidrelétricas em Porto Velho (RO) e Altamira (PA), que atraem milhares de pessoas. Mais da metade do desflorestamento (63%) ocorre em áreas privadas ou em diversos estágios de posse, onde há expectativa de titulação.
Para o deputado federal Ivan Valente, a retomada do desmatamento na Amazônia era uma espécie de “crônica da morte anunciada”. Ivan se destacou à época da votação do novo Código como a principal voz contra as mudanças, que anistiavam desmatadores e flexibilizavam as regras de preservação ambiental. O deputado afirmava naquele momento que a aprovação das mudanças sinalizaria ao campo brasileiro que o vale-tudo estava liberado, e que a volta da devastação desenfreada era uma questão de tempo.
“Infelizmente, estávamos certos. O que a bancada ruralista vem promovendo é uma guerra contra o meio ambiente, contra os indígenas e camponeses, com a concordância tácita do governo federal, preocupado com uma governabilidade que só tem trazido retrocessos”, afirmou Ivan, que acredita que a vitória do agronegócio no Código Florestal foi a senha para uma enxurrada de iniciativas conservadoras. “As tentativas de violar terras indígenas com o PL 272, de rever os processos de demarcações com a PEC 215, além da revisão do conceito de trabalho escravo estão aí para provar”, lamenta Ivan Valente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário