quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Violência da PM gera onda nacional de solidariedade à greve da Educação no Rio

Truculência na desocupação da Câmara aumenta repúdio a Eduardo Paes e Sérgio Cabral, que governam o Rio com o PT, PCdoB e outros partidos
A truculenta ação da Polícia Militar na retirada de professores e outros profissionais das escolas municipais que ocupavam a Câmara dos Vereadores do Rio, na noite de sábado (28), repercutiu nacionalmente e provocou uma onda de solidariedade aos grevistas. Os trabalhadores acusam a Prefeitura de ter desrespeito o acordo que fizera com a categoria ao enviar aos vereadores um projeto de plano de cargos que não contempla o teor do que fora acertado. Por conta disso, ocupavam a Câmara desde quinta-feira (26), para impedir que a proposta fosse votada.
A PM invadiu a Câmara por ordem do governador Sérgio Cabral Filho, que, no dia seguinte, declarou que não viu nem irregularidades nem truculência na ação. Pelo menos 20 trabalhadores ficaram feridos, aparentemente sem gravidade. Dentro da Câmara, professoras relatam que foram agarradas pelo pescoço e arrastadas para fora do plenário. Os policiais usaram bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo na repressão ao redor da Câmara. As imagens que percorreram o país mostram os profissionais da educação municipal, a maioria mulheres, sendo agredidas. Não houve qualquer depredação do patrimônio público.
Imagens desmentem comando da PM
A violenta desocupação fez com que a greve pautasse a segunda-feira (30) no Rio. Grevistas e apoiadores ocuparam as ruas desde a manhã, numa manifestação de desagravo aos trabalhadores agredidos e de solidariedade ao movimento. Em entrevista ao RJ TV, jornal da TV Globo, o comandante da PM no Rio, coronel José Luís Castro Menezes, negou qualquer truculência ou uso de spray de pimenta. Questionado pelo repórter, que afirmou existirem imagens que mostram atos de truculência e o uso de gás de pimenta, alegou que o spray só foi usado do lado de fora da Câmara.
No mesmo noticiário, a dirigente do sindicato da categoria no Rio (Sepe-RJ) Suzana Gutierrez é entrevistada e diz que o projeto de plano de cargos da Prefeitura é inaceitável para a imensa maioria dos professores. O tamanho da repercussão do caso pode ser medido pela ida do prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao programa, para falar ao vivo. Paes disse que os grevistas mentem sobre o projeto e que a desocupação da Câmara foi correta. Provocado pelo repórter, alegou que está aberto a novas negociações, mas ao mesmo tempo disse que isso agora é só com os vereadores na Câmara.
Greve também na rede estadual
A CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular) divulgou manifesto em apoio aos trabalhadores e repudiando a violência policial. "Diante desta justa luta a resposta de Eduardo Paes, com o auxílio do governador Sergio Cabral, agora é a brutal repressão policial. A CSP-Conlutas manifesta seu incondicional apoio à luta dos profissionais da educação da cidade do Rio de Janeiro. As entidades, oposições e movimentos que compõem nossa Central desde já estamos realizando campanha de denúncia da violência sofrida por nossas irmãs e irmãos trabalhadoras e trabalhadores da educação pública da cidade do Rio de Janeiro e exigindo o imediato atendimento de suas reivindicações", diz trecho do documento, que cobra do prefeito a reabertura das negociações. Dirigentes da Intersindical também repudiaram as agressões e defenderam total apoio aos grevistas.
A ação da polícia provocou mais críticas ao governador Sérgio Cabral Filho, que igualmente enfrenta uma greve nas escolas estaduais e cuja rejeição por parte da população vem sendo registrada pelas pesquisas de opinião. Cabral governa o estado a partir de uma coalizão de partidos que vai do PMDB ao PCdoB, passando pelo PT, PPS, PSC, PSB e PDT, dentre outras legendas. Esses partidos também integram a base aliada do prefeito Eduardo Paes. Os dois são aliados da presidente Dilma Rousseff, que, recentemente, defendeu a continuidade da aliança.
Ambos foram eleitos com apoio declarado de sindicalistas da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que, agora, soltou nota criticando a ação da PM e a postura dos dois governantes. "A direção da CUT-RJ manifesta seu mais veemente repúdio à agressão sofrida pelos profissionais da educação e cobra do governo do estado a apuração das responsabilidades, com a consequente punição dos agentes do estado", diz trecho da nota.
Caetano defende apoio aos grevistas
Os trabalhadores da educação receberam apoio de artistas, como o do cantor e compositor Caetano Veloso. "Educação é o tema mais importante dentre todos os que a sociedade brasileira fez questão de mostrar que a afligem e impacientam. O modo como os professores do Rio vêm sendo tratados pela prefeitura deveria despertar protestos mais audíveis e visíveis. A classe média (e não só a classe média) saiu às ruas muitas vezes recentemente para demonstrar que não está sedada. O clamor por melhoria no tratamento dado à educação, em todos os níveis, foi ponto central dessas movimentações. Que os professores continuem se manifestando, através da greve e de idas em grupo à Câmara dos Vereadores, é sinal de que o essencial do desassossego brasileiro não está amortecido.", assinalou, no domingo (29), em seu artigo no jornal "O Globo", escrito, naturalmente, antes da ação da PM na véspera.
Mais adiante, defende a solidariedade à greve. "Levar uma palavra ou um gesto de apoio ao movimento dos profissionais da educação é, neste momento, uma mostra de coerência da parte de quem se mexeu para não deixar tudo como está. Estive viajando e trabalhando muito, por isso não pude ver melhor tudo o que se passa nesse drama. Mas não quero deixar de fazer aqui um aceno em direção os professores grevistas", escreveu. 
Luta Fenajufe Notícias
Por Hélcio Duarte Filho

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