Apesar da crescente (embora modesta) mobilização social, não dá para dizer que, do ponto de vista do movimento popular, tenha havido alguma conquista. Mais fácil afirmar que os trabalhadores tiveram fortes perdas no mundo inteiro. Começando pela Europa, aonde os governos vêm atacando direitos conquistados e promovendo o rebaixamento do padrão de vida do povo europeu, sem exceções. Nem mesmo a tão proclamada potente Alemanha está conseguindo escapar da crise financeira, que beneficia pequenos e poderosos grupos ocultos de financistas, enquanto vai provocando a “bancarrota” dos países membros da comunidade do euro. Essa tal “crise financeira” está afetando todo o sistema produtivo industrial, gerando crescente desemprego, especialmente entre a juventude que sente seu futuro sem perspectivas de uma vida economicamente segura e humanamente feliz. Para as novas gerações, o futuro é muito sombrio.
Não é diferente em outras partes do mundo. Seja na Ásia, Oceania, África ou na América do Norte, o presente revela grandes dificuldades e o futuro assombra a todos, sem exceção. O Oriente Médio continua em chamas, literalmente: guerras, revoluções, gerações dizimadas, vitimando indiscriminadamente crianças, jovens, adultos e idosos. Enquanto a fome se instala cruelmente em centenas de países.
A América Latina não escapa deste mapa. As dificuldades que afetam o sistema capitalista atingem em cheio os países latinoamericanos, uns mais, outros menos, mas afeta a todos, porque dependentes dos países da matriz capitalista. Seus governantes não têm a visão de estadistas, não têm a perspectiva nem a coragem para a ruptura com essa dependência. Quase todos têm mostrado falta de visão e de compromisso com a construção de países autônomos e independentes. Permanecem com sua cultura de colônia e assumem o papel de “lambe-botas” do capital. E o povo vai pagando o preço dessa incapacidade e pusilanimidade.
Ainda que com uma realidade tão deprimente, não se pode dizer que tudo caminhou na maior tranquilidade. Movimentos de insurreição vêm ocorrendo em várias partes do mundo. Populações ocuparam e ocupam praças em dezenas de capitais e cidades importantes em todos os continentes; protestos contra o assalto a direitos e à espoliação dos povos marcaram o ano de 2012 em várias partes do mundo; movimentos de libertação contra ditaduras continuam a ocorrer em vários países; protestos contra a destruição do planeta se multiplicaram e greves marcaram a retomada do movimento dos trabalhadores. São sinais de esperanças que ocorrem em nível mundial. Mas, a correlação de forças é ainda muito desfavorável ao povo que trabalha. Os partidos políticos de esquerda perderam seu rumo e os grandes sindicatos sucumbiram ao poder cooptador do capital. O grande capital ainda é todo poderoso e vêm nos impondo derrotas seguidas.
No Brasil, o ano que se finda revelou ligeiro crescimento da consciência crítica de parte significativa das gerações mais novas – que vinham se mantendo distante de tudo até bem pouco tempo. Desiludidos do “mar de rosas” oferecido pelos meios de comunicação e do vazio de vida desse mundo de fantasias oferecido pelo sistema, decepcionados como os “salvadores da pátria” eleitos, saturados com a corrupção em alto estilo, com a falência dos podres Poderes da República, com a falta de expectativa para suas vidas, parte dessas jovens gerações resolveu descruzar os braços e dar os primeiros passos para ocupar os espaços que lhes cabe na vida política nacional.
A começar pelas inúmeras greves ocorridas em muitos setores de atividade, como na construção civil, nas universidades, nos bancos; do professorado em geral, do funcionalismo público, da saúde pública e privada, na aviação e na indústria. Mobilização também ocorreu com ocupações dos sem terra e dos sem teto, na resistência dos ribeirinhos e dos indígenas cruelmente massacrados. Entre os estudantes - apesar da UNE ausente porque mancomunada com o governo federal -, protestos vêm marcando a insatisfação com um sistema de ensino caduco e de baixíssima qualidade.
Em todos esses movimentos foi constatada a presença agressiva e criminosa das forças policiais dos estados, até mesmo da Força Nacional de Segurança - setor do Exército criado por Lula em 2005 para reprimir os movimentos populares –, repressão praticada com a “legitimação” da Justiça, revelando, mais uma vez, que os poderes públicos estão a serviço do capital, em prejuízo do povo e da justiça social. Enquanto isso tudo acontece, centrais sindicais e históricos movimentos populares continuam fazendo de conta que estão preocupados com a vida do povo, promovendo manifestações vazias de conteúdo, sem coragem de romper com forças políticas que um dia estiveram com o povo.
Entre pequenas conquistas e algumas derrotas, um novo movimento social vai se esboçando, apesar da ausência de alguma força unificadora dessas novas forças, capaz de organizar um plano de lutas comum, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Ainda teremos uma longa caminhada até chegarmos a um desejável e possível momento em que a correlação de forças venha sofrer a alteração necessária e o povo tomar para si o protagonismo das mudanças historicamente desejadas. Quem nos dera um salto qualitativo venha a ocorrer já a partir de 2013!
*Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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