Os parlamentares brasileiros foram
reconhecidos, pelo estudo da Organização Transparência Brasil, divulgado em
2010, como os mais caros do mundo. Em nenhum lugar, os parlamentares possuem
tantas regalias como no Brasil. “Juntos, o Congresso Nacional e 16 Assembléias
Legislativas desembolsam cerca de R$ 252,5 milhões com o pagamento de salários
extras, o famoso auxílio-paletó, a parlamentares federais e estaduais, ao longo
de quatro anos de mandato”
(http://www.sinpolgo.org.br/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=4372&Itemid=280
- 26/11/12).
É realmente lamentável! Neste escrito,
refiro-me somente ao caso das ausências não justificadas de Vereadores da
Câmara Municipal de Goiânia e de Deputados Estaduais da Assembléia Legislativa
de Goiás (não de todos) como uma amostra da imoralidade parlamentar. No Brasil
(e até no mundo inteiro), existem muitos outros casos. "Ao custo de R$
206,35 milhões desde o início de 2009 até agosto deste ano, a Câmara de Goiânia
gastou aproximadamente R$ 5,89 milhões com cada um dos 35 vereadores que foram
escolhidos pelos 845.321 eleitores que a capital possuía em 2008”. Vejam que
absurdo! "Mesmo com custos tão elevados aos cofres públicos, a Casa
registrou um total de 604 faltas (refiro-me somente às faltas não justificadas)
dos parlamentares nos últimos três anos e meio” (O Popular, 09/09/12, p. 18.
Leiam a íntegra da reportagem, com o número de ausências não justificadas de
cada vereador).
Os vereadores de Goiânia - é bom
lembrar - só têm o compromisso obrigatório e, portanto, a responsabilidade de
manter a presença em plenário e votar as matérias, das 9h ao meio dia, três
vezes por semana. Será que isso é trabalho demais pelo salário que recebem? Na Assembléia
Legislativa de Goiás a situação não é diferente. É até pior. “Cada deputado
estadual recebe um salário aproximado de R$ 20 mil, além de verba indenizatória
de R$ 21 mil, ao mês, para despesas com passagens, telefonia, combustível,
serviços gráficos e mecânicos, entre outros.
De acordo com a Constituição, os
deputados estaduais podem receber até 75% do salário dos deputados federais.
Além disso, cada parlamentar goiano tem direito a orçamento de R$ 45 mil para
despesas com pessoal. Assim sendo, um deputado estadual pode custar ao
contribuinte R$ 86 mil ao mês, ou mais de R$ 1 milhão ao ano. Multiplicado
pelos 41 parlamentares, equivale a dizer que a Assembléia Legislativa possui
gasto superior aos R$ 42 milhões por ano. Isso, sem incluir verbas com a
presidência, que possui um gabinete a mais e, portanto, mais despesas com
pessoal, material e afins”. Em 2011, por exemplo, “o custo da Assembléia
Legislativa, com certeza, superou essa projeção. Somente na aquisição de
iPhones, para deputados, secretários e assessores, a Casa gastou a bagatela de
R$ 214 mil dos cofres públicos. A justificativa para o mimo, no valor
individual de R$ 1.982, foi propiciar aos parlamentares, diretores e chefias o
acesso com mobilidade aos sistemas corporativos em desenvolvimento naquela Casa
de Leis. Ao todo, foram adquiridos 108 aparelhos.
Portanto, o gasto de R$ 86 mil mensais
revela uma projeção modesta”
(http://www.sinpolgo.org.br/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=4372&Itemid=280
- 26/11/12). É uma situação estarrecedora! Mesmo com todos esses privilégios,
que não se justificam e são uma afronta aos trabalhadores, “os 41 deputados
estaduais que compõem a atual legislatura da Assembléia Legislativa somaram 938
faltas sem justificativa entre o início do ano e 31 de outubro.
Na prática, é como se os deputados
tivessem deixado de comparecer a 22 das 93 sessões agendadas para o período ou
se, somados aos 90 dias de recesso parlamentar concedidos no fim e no meio do
ano, cada um deles não aparecesse na Casa por cinco meses desde dezembro do ano
passado” (O Popular, 18/11/12, p. 10. Leiam a íntegra da reportagem, com o
número de ausências não justificadas de cada deputado neste ano). Reparem! “As
938 faltas sem justificativa acumuladas pela Assembléia Legislativa entre o
início dos trabalhos em 15 de fevereiro deste ano e 31 de outubro é maior do
que o total acumulado pela Câmara de Goiânia nos últimos três anos e meio” (604
faltas sem justificativa) (Ib.).
Em matéria de maracutaia, a Assembléia
Legislativa ganha da Câmara Municipal. É bom lembrar que a Assembléia
Legislativa - como a Câmara Municipal - só tem sessões ordinárias durante a
tarde e apenas três vezes por semana, entre terça e quinta-feira. Coitados dos
deputados! É muito trabalho pelo salário que recebem e pelos privilégios que
gozam! Mesmo que as principais atribuições constitucionais dos deputados sejam
legislar e fiscalizar atos do governo estadual, as faltas não justificadas
causaram “o acúmulo de cerca 40 projetos do governo estadual na pauta da Casa,
que só teve quorum em 15 das 42 sessões realizadas no segundo semestre” (Ib.).
As motivações para as faltas não justificadas - assumidas pelos deputados - são
as mais diversas, entre as quais, uma das principais é a motivação eleitoral.
Na realidade, só há uma motivação para
essas faltas: a total falta de ética e de vergonha na cara. O Ministério
Público Estadual deve investigar tamanha falcatrua e exigir que o dinheiro das
faltas não justificadas (dinheiro roubado) dos vereadores de Goiânia e dos
deputados do Estado de Goiás seja devolvido aos cofres públicos. É o mínimo
que, em nome da justiça, deve ser feito, enquanto não houver no Brasil (e é
urgente que isso aconteça) uma reforma estrutural dos Parlamentos.
*Fr. Marcos Sassatelli é Doutor em Filosofia e Frade dominicano.
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