Ivan Richard - Agência Brasil
Brasília – A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara aprovou há
pouco o projeto de decreto legislativo que autoriza o tratamento psicológico
para alterar a orientação sexual de homossexuais, chamado de "cura
gay". Único contrário à proposta no colegiado, o deputado Simplício Araújo
(PPS-MA) tentou obstruir a votação, sem sucesso. A matéria segue agora para
análise da Comissão de Constituição e Justiça.
“Vocês [deputados evangélicos] não vão entregar para a comunidade evangélica
o que estão prometendo, porque não há tratamento para o que não é doença. Quem
dera que o Conselho Federal de Psicologia pudesse curar a cara de pau e todos os
distúrbios da classe política deste país” disse Araújo. Para o deputado, a
votação da proposta tem caráter "eleitoreiro".
O deputado Roberto de Lucena (PV-SP) rebateu a acusação. "Em nenhum momento
foi a nossa tônica. Não quero polemizar, mas dizer que me sinto desrespeitado.
Essa é a Casa do debate. Não admito o carimbo. Tive a oportunidade de analisar o
projeto em outra comissão, tivermos audiências públicas, debatemos com todas as
opiniões e faço questão de rejeitar o carimbo", criticou.
O relator da proposta, deputado Anderson Ferreira (PR-PE), argumentou que a
proibição fere a Constituição. “A regulamentação tem graves implicações no plano
jurídico e constitucional”, frisou.
Para o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), a votação da projeto da “cura
gay” é inócua. Segundo ele, a comissão não tem prerrogativas para deliberar
sobre disposições do Conselho Federal de Psicologia. “Estamos aqui brincando, me
parece que está clara aqui a esterilidade do debate. É preciso que o tema tenha
alguma relação com uma prerrogativa concreta do que se está propondo.
Não
podemos discutir aquilo que não pode ser revogável por esse Poder”,
ponderou.
O projeto de decreto legislativo foi aprovado depois de várias tentativas de
votação frustradas. O projeto, que está sendo chamado de Projeto da Cura Gay,
propõe a suspensão da validade de dois artigos de uma resolução do Conselho
Federal de Psicologia, em vigor desde 1999.
De autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), o projeto quer suprimir um dos
trechos da Resolução nº 1/99, que proíbe os profissionais de participar de
terapia para alterar a orientação sexual e de atribuir caráter patológico (de
doença) à homossexualidade. Os profissionais também não podem adotar ação
coercitiva a fim de orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.
O autor do projeto argumenta que as restrições do conselho são
inconstitucionais e ferem a autonomia do paciente. Representantes dos psicólogos
criticam a proposta sob o argumento de que não se pode tratar a homossexualidade
como doença.
Edição: Beto Coura
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