Por Murilo Silva
Do Conversa Afiada
Entregou-se ontem à Polícia Civil do município de São Félix do Xingu, sul do Pará, o último suspeito envolvido na morte do tratorista Webert Cabral Costa, morto no dia 24 de julho, na fazenda Vale do Triunfo, unidade que pertence à agropecuária Santa Bárbara, controlada pelo grupo Opportunity, de Daniel Dantas.
Como revelou reportagem da Repórter Brasil o corpo de Webert Costa foi encontrado no dia 22 de agosto, já em estado avançado de decomposição, dentro do terreno da propriedade, a cerca de 20 quilômetros de uma das porteiras da fazenda, onde Webert foi visto pela última vez.
O capataz Maciel Nascimento, que se entregou ontem (11), na delegacia de São Félix, acompanhado de dois advogados da Santa Bárbara, negou participação no crime.
No começo do mês, dia 02, o outro suspeito, Divo Ferreira, funcionário da fazenda, já havia se entregado. Divo Ferreira admitiu ter matado Webert Costa, segundo ele, em legítima defesa. A família de Webert conta que ele fora até o escritório da fazenda naquele dia, 24 de julho, para tratar de uma questão trabalhista.
Na versão de Divo Ferreira, houve uma discussão. Webert teria feito menção de pegar uma arma, foi quando Divo disparou contra ele.A família alega que Webert não estava armado. Segundo o delegado Lenildo Mendes, encarregado pelo caso, a suposta arma de Webert não foi encontrada.
Fato é que: Webert Costa foi morto com um tiro na nuca, o que segundo o delegado, é um indício de que a vítima foi executada.Além disso, uma testemunha ocular, posta sob proteção do sigilo, presenciou a cena.
De acordo com essa testemunha, Webert foi morto por Divo Ferreira que, com a ajuda de Maciel Nascimento, colocou o corpo da vítima na caçamba de uma camionete S-10, branca.
Segundo o advogado Rivelino Zarpellon, que acompanha o caso pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, essa testemunha reconheceu a camionete branca entre outras três camionetes iguais, que foram apreendidas pela polícia.
Ainda de acordo com o advogado, que presenciou o exame pericial do carro, apesar das lavagens feitas no veículo, o luminol (substância usada pela polícia para detectar vestígios de sangue) detectou presença de sangue na caçamba da camionete.
O exame de DNA foi pedido, mas a pericia ainda não foi concluída.
Lago da morte
Motivado pelo caso Webert, e com base em outras denúncias, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), instalou uma Comissão Externa para investigar a fazenda Vale do Triunfo.
A Comissão será coordenada pelo deputado Cláudio Puty, do (PT-PA), e terá como relator o deputado Protógenes Queiroz, (PCdoB-SP).
Segundo o deputado Cláudio Puty, Webert já havia dito à família que pessoas eram mortas na fazenda: “Webert contou aos familiares que essas pessoas eram jogadas em um lago, coincidentemente, o lago era chamado de ‘Justa Causa’”, conta o deputado.
Além da versão da família, fontes da região informaram à Comissão sobre a existência de mais dois corpos, que teriam sido encontrados na mesma fazenda. O delegado Lenildo Mendes confirma a existência de pelo menos mais um caso, um assassinato ocorrido em janeiro desse ano na Vale do Triunfo.
De acordo com o deputado Puty, um dos objetivos da Comissão é identificar os mandantes do assassinato de Webert, e desses outros supostos crimes. Para o deputado Protógenes, a missão da Comissão é investigar um caso de ”genocídio”, ocorrido na fazenda Vale do Triunfo, em São Félix do Xingu.
A Comissão deverá viajar para o Pará, na próxima quarta-feira (17), com o apoio da Aeronáutica e da Polícia Federal.Originalmente, a Comissão foi formada por três deputados.
Essa semana, às vésperas da viagem, foram incluídos outros quatro deputados, todos da linha de frente da bancada ruralista.São eles: Wandenkolk Gonçalves (PSDB-PA); Paulo César Quartiero (DEM-RR); Josué Bengtson (PTB-PA) e Giovanni Queiroz (PDT-PA).
Santa Barbara
A Santa Bárbara, agropecuária de propriedade do grupo Opportunity, tem sede em Campinas, São Paulo.
Está no Pará desde 2005, onde já foi alvo de uma operação do Ministério do Trabalho que, em 2009, libertou cinco funcionários em condições análogas à escravidão (como noticiou o Conversa Afiada à época.
Em 2009, a Comissão Pastoral da Terra, da diocese de Marabá, denunciou um esquema de grilagem envolvendo a empresa.
Segundo a CPT, a Santa Bárbara se apropriou, ilegalmente, de pelo menos 25 mil e 500 hectares de terras públicas no sul do Pará.
A Santa Bárbara tem no Pará, dividida em cinco unidades de produção, cerca de 500 mil hectares de terra – cada hectare corresponde, mais ou menos, a um campo de futebol.
Nessas cinco unidades, a Santa Bárbara mantêm um rebanho de mais de 500 mil cabeças de gado.No site da companhia, a empresa destaca os trabalhos sociais que desempenha junto às comunidades em que atua.
A certa altura do texto, descreve o que são os “valores” da empresa: “somos objetivos, focados no resultado, não toleramos o baixo desempenho e adotamos a meritocracia. Somos obsessivos no controle de gastos, fazendo mais com menos, sem deixar de fazer o que é estratégico para o negócio”.
Ao relembrar sua viagem de volta do município de São Félix do Xingu – quando foi tomar parte do caso de Webert Costa, em nome da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – o advogado Rivelino Zarpellon narra uma triste coincidência: “me lembro que voltando de carro ouvi aquela música do Xangai (músico baiano) ‘Mutirão da Vida’, que canta assim: Nas frentes de trabalho/Nas terras do fazendeiro/A gente encontra a morte/E ele muito dinheiro.
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