quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Ruralistas, médicos cubanos e trabalho escravo

Deputado Federal Ronaldo Caiado (DEM/GO)
Por Pedro Ferreira 

Entre os mil argumentos levantados pela direita reacionária contra a vinda de médicos cubanos para atuar no programa ‘Mais médicos’ lançado pelo governo federal, um me chamou bastante atenção – O de que os médicos cubanos serão submetidos a condições análogas ao trabalho escravo.

Foi durante a primeira audiência pública convocada pela câmara dos deputados na ultima quarta-feira (04/09) para debater o programa - O deputado e médico Ronaldo Caiado (DEM-GO) figura histórica da UDR (União Democrática Rural) importante líder da bancada ruralista subiu na tribuna para condenar a vinda de médicos cubanos alegando que os mesmos irão atuar em regime de escravidão. Pois ao contrario dos médicos de outros países, os cubanos receberam apenas parte dos salários, o restante do recurso será enviado para o governo cubano.

O deputado federal Ronaldo Caiado ao protestar com veemência contra o trabalho escravo ao qual segundo ele serão submetidos os médicos cubanos nos revela a face hipócrita da burguesia brasileira – Pois este mesmo deputado que agora se mostra defensor dos direitos humanos participa da bancada ruralista que foi responsável por fazer com que os trabalhos da CPI do trabalho escravo que investiga a utilização de mão de obra no regime análogo ao da escravidão, sobretudo em grandes propriedades de terra acabassem em pizza. 

Os ruralistas recusaram-se a colocar no relatório da CPI o termo trabalho escravo, o que fez com que o setor oposicionista aos ruralistas apresentasse um relatório paralelo. A atitude dos ruralistas de não reconhecer o trabalho escravo, sobretudo em grandes propriedades rurais é no sentido de dificultar e combater a proposta de lei que destina áreas que utilizam mão de obra escrava para o programa de assentamento de famílias sem terra já aprovado na câmara.

Qual o conceito de trabalho escravo tem o nobre deputado Ronaldo Caiado?

Os ruralistas, grupo do qual o nobre deputado Ronaldo Caiado é um dos principais lideres – Não aceitam qualificar como trabalho escravo o trabalhador encontrando trabalhando em condições desumanas, sobretudo em grandes propriedades de terra, pois os dados que investigam a utilização de mão de obra análoga à escravidão no Brasil aponta que os principais focos estão no campo, sobretudo na região norte do Brasil, o ultimo levantamento apontou os estados do Pará e Tocantins como os campeões de casos de utilização de mão de obra escrava.

Estes trabalhadores são submetidos a condições de trabalho insalubres, sem alimentação adequada, alojamento, assistência médica como também sem direitos trabalhistas como salário mínimo, férias, decimo terceiro entre outros. Na maioria dos casos os trabalhadores são privados de sua própria liberdade, sendo obrigados a se submeter a este tipo de trabalho sub a ameaça de jagunços armados. No entanto para os ruralistas isto não é trabalho escravo, ao contrario eles utilizam abertamente desse tipo de exploração da classe trabalhadora campesina com a anuência do estado.

Por trás do discurso hipócrita de defesa dos direitos humanos da direita reacionária representada pelo discurso do deputado Ronaldo Caiado esta o interesse de manutenção da ordem vigente. De privilégios e regalias para os setores abastardo da sociedade, da concepção mercadológica da saúde, educação entre outros serviços públicos fundamentais para a população.

Não nos iludamos não será o programa ‘Mais médicos’ que fará com que tenhamos uma saúde pública de qualidade, no entanto não podemos negar a sua necessidade em um país onde mais de 700 municípios não tem se quer um médico atuando na saúde preventiva. Mas além de médicos são necessário hospitais estruturados, aparelhos e profissionais preparados, é necessário também à descentralização dos serviços de saúde e acima de tudo combater a logica mercadológica desde a formação do profissional, pois ninguém pode lucrar com a doença do outro, precisamos fortalecer o SUS e não privatiza-lo.

Aqueles que se colocam contra o programa, em especial a vinda de médicos cubanos continuaram procurando argumentos absurdos tal como esta de que os cubanos serão submetidos a trabalho escravo, o que é uma inverdade, mas esses senhores que ao longo da nossa historia construíram suas riquezas e privilégios através da exploração, da alienação e da opressão do povo não tem a sinceridade como uma virtude.


Que seja bem vido ao nosso país os médicos cubanos que dão um exemplo extraordinário de solidariedade internacionalista atuando em mais de 56 países. Fazendo um belíssimo trabalho humanitário sem visar o lucro, e é por isso que parte dos salários desses médicos vai para o governo cubano investir na formação de novos profissionais e o no desenvolvimento da medicina cubana. Medicina esta que não esta a serviço apenas do povo cubano, mas de todos os povos do mundo que dela necessitar.

*Pedro Ferreira é Educador Popular, Bacharel em Serviço Social e militante do Bloco de Resistência Socialista.

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