segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Depois de 20 anos em São Paulo, tucanato mostra sua cara

Por Waldemar Rossi

Quando Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi eleito presidente da República, em 1994, Mário Covas também se elegeu governador pelo estado de São Paulo. O PSDB planejava ficar no governo por 20 anos, pelo menos. Convenhamos, um projeto ousado. Com FHC não funcionou, bastaram oito anos para que o povo brasileiro acordasse, e vivesse nova (?) experiência com o PT. Mas com Covas/Alckmin/Serra deu certo. Deu certo?

Não houve alternância no governo paulista: Covas-Alkmin-Serra-Alkmin e lá se vão os 20 anos planejados. Com o apoio de um eleitorado estadual majoritariamente conservador e a cobertura midiática, conseguiram passar goela abaixo todos os projetos que interessavam ao capital, ditados pelo Consenso de Washington (CW).

FHC deu o passo inicial com a doação das empresas públicas para o capital privado, operação batizada de “privatizações” e que depois se rebatizou como “privatarias” (misto de privatização com pirataria), tantas foram as falcatruas praticadas com o patrimônio do povo brasileiro (*). De acordo com o CW, todas as empresas estatais que geram lucros deveriam passar para empresas privadas, de preferência às de capital internacional. E isto foi e continua a ser feito.

Covas e outros governadores tucanos aplicaram a mesma política de FHC. Em São Paulo, aconteceram casos escabrosos como o sucateamento das administrações do Banespa e da Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista) para “justificar” as privatizações, ou melhor, doações, porque “vendidas” a preço de banana. Depois, seguiram-se as entregas de tantas outras estatais paulistas, como a de telefones, de energia elétrica, das estradas de rodagem (cujos pedágios são um assalto ao bolso do cidadão).

Enquanto Covas foi governador, seu vice, Alkmin, foi o responsável pela privataria paulista. Durante o governo do Serra, a Nossa Caixa/Nosso Banco teve seu atendimento precarizado para, finalmente, ser entregue ao Banco do Brasil, embora Serra planejasse entregá-lo a algum banco internacional.

Covas, colocando Rose Neubauer como Secretária da Educação, deu início ao desmanche do ensino no estado. Salários arrochados, escolas fechadas, professores (não concursados) dispensados aos milhares, alunos concentrados em até 50 por classe e, pior ainda, eliminação de matérias que ajudam os alunos a pensar.

Resultado: de estado líder em Educação, em 12 anos tornou-se o 24º entre os 27 do país. Alunos do fundamental e do segundo grau semialfabetizados, incapazes até de resolver simples problemas de aritmética, segundo os vários institutos de avaliação do próprio governo. Era necessário manter as novas gerações na ignorância para continuar a reinar.

Muitas outras falcatruas foram sendo praticadas, sempre camufladas e protegidas pela mídia. Já no tempo de Covas, abandonaram-se as nossas fábricas de material ferroviário para favorecer a importação e serviço das multinacionais. O famoso caso da “doação”, pelo governo espanhol, de trens sucateados na Espanha foi feito com o pagamento da reforma dos mesmos por um preço acima do valor de mercado, e isto a imprensa não teve como esconder, embora fizesse seu abafo logo a seguir.

O tempo revela que as políticas públicas tucanas se voltaram para grandes obras superfaturadas, em prejuízo total dos serviços essenciais ao povo, como a própria educação e saúde públicas, transporte coletivo, saneamento básico etc. O arrocho nos salários de professores e médicos fez com que esses profissionais tivessem que buscar outras fontes de renda, o que provocou o rebaixamento do padrão desses serviços. O objetivo claro foi estimular a educação e a saúde particulares, cujos serviços passaram a ser objeto de lucro, e não mais um dever do Estado, como rege a nossa Constituição. Pelos dados que hoje temos, revelados pela própria mídia, que já não tem como escondê-los, o povo começa a descobrir o quanto tem sido sacaneado por aqueles que deveriam “administrar a Justiça para o povo” (Ex. 18, 20 e seguintes).

O caso mais grave que vem à tona neste momento é o do descaso e das falcatruas com as obras e a manutenção do metrô paulistano e dos trens suburbanos (do governo do estado). Graves acidentes diários, superlotação que gera desespero entre os usuários que precisam ir para o trabalho, revolta popular, ondas de quebra-quebra, brigas e mortes, intervenção violenta da polícia estadual etc.

Políticas como essas estão na raiz da crescente marginalização. Com tudo isto o povo se revolta e se manifesta de inúmeras formas. Parte desses marginalizados se entrega ao vício, ao roubo, ao latrocínio. Foi em São Paulo que o crime organizado sentiu estímulo para crescer e se impor como segunda força social do estado, até porque conta com a colaboração de muita gente ligada aos órgãos de segurança – que se transformaram em “órgãos de repressão e covil de criminosos”.

De quebra, o estado paulista tem um dos mais altos custos de vida entre as grandes cidades do mundo, mas nosso povo trabalhador tem salários dos mais baixos entre os países chamados de emergentes. E os tucanos não podem e não têm força moral para negar as evidências de que têm responsabilidades diretas no caos que impera por aqui.

Fica a pergunta: para o povo, o tucanato deu certo em São Paulo? Até quando o povo permanecerá politicamente cego e surdo?


(*) Ver “Brasil Privatizado” de Aloisio Biondi – Fundação Perseu Abramo.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
  

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