(a frase do título é do ministro da Fazenda, Guido Mantega)
*Por WALDEMAR ROSSI
Diante da já prolongada greve dos professores de 57 das 59 Universidades Federais (desde 17 de maio), além dos docentes dos Institutos Federais, o ministro Guido Mantega soltou essa pérola cultural: “Investimento em educação vai quebrar o Brasil”.
E as negociações para resolver o “imbróglio” grevista, até agora deram em nada porque o governo Dilma insiste em rebaixar o sistema de ensino brasileiro, pondo em prática orientações vindas do Consenso de Washington: reduzir o Estado, poupar e retirar dinheiro do orçamento federal para fazer superávit primário. Isto é, tirar dinheiro que atende aos interesses e à vida do povo para cumprir com os acordos da agiotagem internacional – sem falar das privatizações em curso e da terceirização de inúmeros serviços públicos.
Aliás, a mesma agiotagem que vem quebrando tradicionais países europeus. Não se pode esquecer que Dilma e Mantega, que é o chefe da economia tupiniquim, sacanearam a nação em 2011 retirando 45% do orçamento, destinando nada menos que R$708 bilhões para a quadrilha de banqueiros nacionais e internacionais, “credores” do país através da chamada Dívida Pública (interna e externa). Ainda assim, a Dívida Pública atingiu os incríveis R$ 3 TRILHÕES (isso mesmo, TRÊS TRILHÕES DE REAIS), sobre os quais pagamos juros altíssimos e nos endividamos sempre mais (*).
O que, de fato, está quebrando o Brasil, senão o cumprimento da Carta aos Brasileiros, de Lula? O que quebra um país senão a entrega das empresas estratégicas rentáveis para o capital internacional explorar ao máximo? O que quebra um país senão a concessão de redução de impostos às grandes e altamente lucrativas empresas nacionais e internacionais, em prejuízo da Seguridade Social? O que quebra mais o país do que obras faraônicas, extraordinariamente superfaturadas para atender as exigências de uma FIFA corrupta e corruptora, apenas para abrigar jogos de futebol, em que, assim como no carnaval, “tudo se acaba na quarta feira”, sem mudar um nadinha na estrutura política, econômica e social do país?
Brigamos muito com o governo tucano por causa do criminoso rebaixamento do padrão de ensino no Brasil, de modo especial no estado de São Paulo, que ostenta um dos piores índices de educação entre todos os estados. E agora nos vem um ministro petista querendo justificar o injustificável, defendendo práticas financeiras que estão gerando gerações e gerações de semialfabetizados, enquanto contribui para aumentar a já gigantesca concentração de dinheiro e poder nas mãos de um punhado de especuladores canalhas, nacionais e internacionais! E, o que é pior, apoiado incondicionalmente pela presidente que o povo escolheu para administrar um pouco de justiça social neste país-colônia, totalmente corrompido em todas as suas instâncias oficiais.
Vejamos o comentário do leitor Rolando Lazarte: “Não quebra um país que investe na educação. Ao contrário, aí é que um país deixa de ser um amontoado de gente e começa a se tornar um país (uma Nação) de verdade”. Ou o comentário do articulista Júlio Cesar Cardoso: “Ora bolas, que risco poderá comprometer a nossa solidez fiscal com a canalização de recursos para o fortalecimento da escola que irá produzir os alicerces de nossa estrutura social, financeira, econômica etc.? O país poderá quebrar por outras razões, mas não por investimentos educacionais”.
A propósito da importância de investimentos na educação, Priscila Cruz – Diretora Executiva do Movimento Todos Pela Educação – faz o seguinte comentário em seu artigo (“Para romper com o analfabetismo funcional”): ‘Nossas atenções devem estar voltadas para o nível pleno de alfabetismo – e aqui houve retrocessos preocupantes. Entre 2001 e 2011, o domínio pleno da leitura caiu de 22% para 15% entre os que concluíram o Ensino Fundamental II, e de 49% para 35% entre os que fizeram o Ensino Médio. Com ensino superior, 38% não chegam ao nível pleno’.
É inconcebível que um governo possa se considerar inteligente se não é capaz de olhar para a vida do seu povo, se não é capaz de ver a verdadeira carnificina que ocorre em todos os cantos do país, dizimando vidas, gerando o pânico coletivo e a neurose crescente em todas as camadas da sociedade; é inconcebível também que este governo tenha seus olhos e mente voltados para os interesses dos poucos exploradores que comandam a economia mundial e não olhe para dentro do seu próprio país, onde seu povo padece e morre por falta de saúde pública com um mínimo de eficiência; que não olhe para a decadência da educação que vem gerando gerações e gerações de analfabetos diplomados nas escolas públicas e privadas; que feche seus olhos para a falta de amplo serviço de saneamento básico, para a imensa multidão de trabalhadores que espera por um punhado de terra e apoio logístico a fim de viver e produzir exatamente o que falta às mesas dos que produzem nossas riquezas!
Se é fato que herdamos da ditadura militar profundo retrocesso inclusive na educação pública, também é verdade que os governos posteriores continuam aprofundando esse abismo cultural. Quem, depois de tantos anos de lutas esperava mudanças estruturais capazes de sanar tanta injustiça, tem que lamentar e condenar a nefasta política educacional desses 10 anos de governo federal petista?
Aliás, será interessante refletir sobre a projeção de 4 a 5 bilhões de reais que em tese serão acrescentados à Educação para atender suas demandas urgentes e comparar com os R$ 708 bilhões que foram entregues sem nenhuma contrapartida para os banqueiros, e aí encontrar apenas um pouquinho do uso da inteligência humana. Ou de vergonha!
Encerro este comentário com as palavras do Roger: “Vacilou, Guido! Seria melhor ter ficado calado”.
(*) Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida, com dados do Ministério da Fazenda e do Banco Central.
*Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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