quarta-feira, 25 de setembro de 2013

‘O Estado, a cada manifestação que passa, só deixa mais claro que declarou guerra à população’

“Não vai parar, não tem mais volta. Isso que aconteceu no Brasil foi uma ruptura, tanto pra escancarar a democracia disfarçada que temos, como pra fazer nossas reivindicações serem ouvidas de uma vez por todas”, resume ao Correio da Cidadania o advogado Luiz Guilherme Ferreira, um dos responsáveis por tirar da prisão os manifestantes detidos arbitrariamente, quando não a esmo, pela polícia militar, durante os protestos que o Brasil vem registrando.

Como se sabe, a brutalidade policial e seus traços de Estado de Exceção deram o tom dos atos realizados pelos estados brasileiros, no último dia 7 de setembro, mantendo na ordem do dia as pautas colocadas na mesa pela população a partir das jornadas de junho. Depois disso, o governo carioca sancionou lei que proíbe máscaras em atos de rua, em clara tentativa de criminalizar os militantes black blocks, sob as escusas de praticarem “vandalismo”, como bombardeia a mídia incessantemente.

Por outro lado, tal postura, hipócrita diante da omissão face as brutalidades do aparato de guerra do Estado, atesta que os poderes dominantes do país já estão em franco conluio pelo esvaziamento dos atos, que, lembre-se, repudiaram raivosamente antes do ponto de viragem. Para Ferreira, apenas mais um ato de criminalização da luta social, o que é comprovado pela postura arbitrária e obscurantista do Estado, através de sua polícia e delegacias, com seus inúmeros abusos sobre os direitos das pessoas, como descreve o membro dos Advogados Ativistas ao longo da entrevista.

Apesar da contra-ofensiva repressora, Ferreira não hesita em estimular as pessoas a continuarem no exercício de livre manifestação, inclusive radicalmente, esperando que o movimento se intensifique em 2014. “Vá pra rua como quiser, esse direito ainda está garantido, manifestar-se na rua, ainda, não é crime. Portanto, vá pra rua, com sua máscara, como quiser, de forma violenta ou não. Se for violento, o Estado não está autorizado a brutalizar sobre ninguém por algum crime. Faça o que pensa que vá modificar alguma coisa. Quer só levantar cartaz, levante, quer jogar pedra na polícia, também pode jogar. Não estou incitando nada disso, mas são coisas que acontecem e as manifestações estão aí pra deixar claro, os fatos estão aí provando o que ocorre nas ruas. E o Estado não está autorizado a cometer brutalidades contra o cidadão. Pelo contrário, o Estado já tem mecanismos, há muito tempo, instaurados na sociedade a fim de absorver esse tipo de atitude”, explica.

A entrevista completa com Luiz Guilherme Ferreira, novamente realizada em parceria com a webrádio Central 3, pode ser lida a seguir.

Correio da Cidadania: Desde o mês de junho, você vinha oferecendo assistência jurídica às prisões claramente arbitrárias realizadas pela Polícia Militar durante as manifestações de rua, o que se repetiu nos atos de 7 de setembro. Inicialmente, o que poderia nos contar a respeito dessas recentes manifestações, o que elas reivindicaram e criticaram com mais força?

Luiz Guilherme Ferreira: Este último ato foi chamado por diversos movimentos, com as bandeiras que todos já vinham trazendo, em nome de transporte público, desmilitarização da polícia etc. Mas a novidade, por ser um 7 de setembro, dia da falsa independência do Brasil, era que muitos setores da direita iriam comparecer. Iriam, porque na verdade não foram às ruas. Porém, isso tornou as expectativas mais tensas. E tudo acabou se confirmando, com uma repressão bem brutal da polícia.

Correio da Cidadania: Como foi a atuação dos black blocks, agora no centro da discussão política e novos alvos de criminalização por parte de governos, a exemplo da lei anti-máscara no Rio? Como se deu, mais precisamente, a repressão estatal nos atos?

Luiz Guilherme Ferreira: Em princípio, o black block é uma forma de atuação, uma tática. Não é organização e não tem líder. As autoridades estão buscando, com seus velhos parâmetros, referenciados em grupos antigos, um líder, uma organização, coisas que não existem. Por isso, a incapacidade de conseguirem lidar com eles. No mais, a incapacidade do Estado em lidar com a população sempre foi clara. Agora, fica latente com os grupos novos, que reivindicam apenas o básico para sociedade, o que incomoda os poderes dominantes.

O black block tem a ação direta como forma de atuação, que por vezes depreda patrimônio público e privado. Apenas constatar que são criminosos, e têm de ser presos, é esvaziar demais uma atuação totalmente política. Eles não saíram às ruas da noite para o dia e resolveram quebrar tudo. E com essa criminalização, pela incapacidade do Estado em lidar com tal novidade, gera-se a brutalidade policial. Assim como a incapacidade de lidar com a pobreza, e tudo aquilo que foge à realidade dos padrões de vida de classe média pra cima, gera a resposta bruta e desmedida do Estado. E insistem, ainda por cima, em chamar de “confronto”. Policiais armados até os dentes contra um bando de moleques com máscara é algo tido como “confronto”.

Mas não é novidade pra ninguém. O lado fascista da polícia paulista, carioca etc. sempre foi latente. Só que no 7 de setembro, especificamente, ao menos aqui em São Paulo, foi uma coisa desmedida. Teve gente que ficou cega, foi atropelada, torturada, conforme informações que obtivemos nas delegacias. Os próprios policiais civis e delegados tentaram impedir o trabalho dos advogados, tentaram nos intimidar... Portanto, é assim: o aparato estatal contra a população.

Correio da Cidadania: Você acha que a atuação repressora, dentro da sua visão, próxima aos fatos, confirma as opiniões que afirmam ter o Estado preparado um clima de terror psicológico contra a população, ecoado pela mídia, com a finalidade de esvaziar os protestos nesse dia simbólico?

Luiz Guilherme Ferreira: Claro. Desde o início, em todos os lugares, a polícia, como braço armado, foi colocada pra amassar as manifestações. Atualmente, dizem que o black block traz insegurança às ruas. Mas, na verdade, nem precisamos falar de manifestação. Voltando um pouquinho no tempo, por exemplo, a janeiro: estava todo mundo andando tranquilo na rua, em janeiro? Com certeza, não. E o black block, estava na rua? Tampouco. De modo que, como sempre, trata-se do Estado policialesco. Agora, a atuação deles se volta a outra faceta da população. Ainda há o massacre na periferia, mas agora resolveram massacrar um pouco mais pelo centro, massacrar outro “caráter” de pessoa, como eles dizem, não apenas os seus tradicionais “bandidos”. Claro que tentam apresentar os novos inimigos como bandidos. Mas é apenas mais uma história de criminalização de movimentos, cerceamento de direitos (como no caso das máscaras), prisões arbitrárias etc.

Correio da Cidadania: Até que ponto existe legalidade, ou não, na lei que proíbe as máscaras, aprovada no Rio de Janeiro e provavelmente vista com muito carinho pela classe política dos outros estados?

Luiz Guilherme Ferreira: Sobre as máscaras, é uma iniciativa totalmente ilegal do Estado. A quadrilha de bandidos, como podemos chamar esses que legislam, deputados estaduais, federais, senadores e respectivos governos, agora que vê uma revolta popular pisando em seus calcanhares, resolve ser rápida na resolução de determinados assuntos. Porém, é uma rapidez totalmente ilegal. A Constituição Federal garante direito de manifestação, não diz nada sobre máscara etc. Temos de levar em conta que as manifestações são atitudes legítimas do cidadão. Mas saindo do contexto da manifestação, não posso andar de máscara na rua, fora de atos? Claro que posso. Tenho de me identificar a todo momento? Não.

Assim, a manifestação não se difere muito do dia a dia, é a mesma coisa que o direito de ir e vir. E a identificação forçada que querem fazer beneficia quem? A polícia, que fica filmando e fotografando movimentos, e depois busca seus militantes em casa etc. A lei não ajuda ninguém, portanto. Eles podem andar sem identificação na farda. Podem dar tiro e cegar pessoas. Mas nós não podemos andar de máscara na rua. Nesse ponto, legalmente falando, não há o mínimo cabimento. Mas até se discutir isso numa esfera maior, leva-se tempo. E eles utilizam a lentidão, produzida por eles mesmos, pra manterem a situação tal como está.

Correio da Cidadania: Quais as manobras do Estado pra dificultar o trabalho dos advogados que tentam libertar os presos em atos políticos?

Luiz Guilherme Ferreira: Desde o início das manifestações, percebemos que são atitudes propositais. Desde a plantação de provas, colocando mochila com molotov, bola de gude, estilingue e atribuindo seus usos aos presos. Espancam os manifestantes no trajeto da rua à delegacia. Avisam que levarão os presos a uma determinada delegacia e não o fazem, levando-os a outro lugar. Os delegados tentam impedir o trabalho dos advogados, dizendo que estamos lá pra “captar cliente”, algo proibido pela OAB. Tentam usar nosso trabalho dessa forma, alegando “captação de cliente”. Omitem informações, escondem os presos.

A partir do dia 7, teve gente que passou dias presa porque não tivemos nem notícia da prisão. Gente que não teve direito ao telefonema, ao advogado, nada. De todas as formas, o uso da máscara está conectado às dificuldades que o Estado e seu aparato tentam impor às manifestações. Querem sufocar as manifestações e continuarem na vidinha bonita deles.

Correio da Cidadania: Tendo em vista que já temos presos, mortos e desaparecidos nesses tempos de democracia, vimos o caso da menina do Rio de Janeiro que teve seu nome incluído num inquérito policial por ter postado matérias do black block. Depois, até por orientação dos pais, avisou que poderia pedir asilo político na Argentina. Qual o impacto de tal fato no momento político que vivemos, trata-se de mais um caso que corrobora a ideia de semelhança do atual regime político brasileiro com a ditadura?

Luiz Guilherme Ferreira: É o complemento que faltava: a relação desses fatos com ditaduras militares. O que são ditaduras? Regimes de exceção. A que? Às leis que vigoram no país. Colocar o crime de formação de quadrilha sobre pessoas que não se conhece e administram uma página virtual do black block é uma exceção à lei. A pessoa não voltar pra casa, por correr risco de ser presa, configura exceção à lei. Uma pessoa ser detida apenas para averiguação, quando a prisão só pode ser feita em flagrante ou através de ordem judicial, é uma exceção à lei.

O que estamos vivendo hoje não é uma ruptura do dia pra noite, tal qual no golpe de 1964. Mas é algo maquiado e vem vindo aos poucos. Como eu disse, antes mesmo das manifestações, já não tínhamos nossos direitos respeitados, principalmente pela polícia. Agora, a situação apenas se agravou. A semelhança com ditaduras é gritante e só não vê quem não quer. Se sair à rua pra se manifestar e não saber se voltará pra casa, ou se voltará cego por causa da brutalidade policial, não configura regime de exceção, não sei o que pode ser um regime de exceção.

A lei está dando lugar à arbitrariedade das ditas “autoridades”. Portanto, fazem o que querem, na hora que querem, sem respeitar lei alguma. Sem a mínima dúvida, um regime de exceção.

Sobre a história da menina, como o nome diz, asilo político significa perseguição política. Num Estado dito democrático, é impensável. Mas é o que está acontecendo.

Correio da Cidadania: Quais caminhos você acredita que a sociedade e seus movimentos mais organizados podem tomar pra conter e superar, progressivamente, a truculência estatal nas manifestações, que, de norte a sul, segue a mesma linha traçada por você?

Luiz Guilherme Ferreira: Permanecer na rua. O Estado, a cada manifestação que passa, só deixa mais claro que declarou guerra à população. Mas seus representantes só estão lá porque permitimos. Portanto, em minha opinião, tem de se continuar na rua. Alguns coletivos, como os advogados ativistas, se organizam pra defender as pessoas de qualquer tipo de ilegalidade – tentam ao menos. Conforme a repressão do Estado aumenta, a articulação do povo aumenta na mesma proporção. Se eles têm o Estado a favor, temos nossa articulação do nosso lado.

Não vai parar, não tem mais volta. Isso que aconteceu no Brasil foi uma ruptura, tanto pra escancarar a democracia disfarçada que temos, como pra fazer nossas reivindicações serem ouvidas de uma vez por todas. Para que possamos ter uma vida mais digna, políticos mais dignos, viver sem uma polícia militarizada e todo o resto que disso decorreria.

Correio da Cidadania: Finalmente, o que você espera das mobilizações, principalmente nos próximos 12 meses, com eleições e olimpíadas no calendário? E que orientações jurídicas você passaria aos manifestantes?

Luiz Guilherme Ferreira: Em relação à Copa do Mundo, em minha opinião, não deveria sequer ser realizada aqui. Pra mim, tal processo deve ser travado, porque se, é pra agradar os poderosos desalojando gente, investindo bilhões em estádios, enquanto todo o resto fica às traças, não tem que ter Copa nenhuma. Minha esperança é que ,perto da Copa do Mundo, estejamos num estado de caos muito mais grave que agora. Assim espero, e gostaria mesmo que acontecesse. Estaremos na rua compondo o movimento.

Sobre orientações jurídicas, é o seguinte: vá pra rua como quiser, esse direito ainda está garantido, manifestar-se na rua, ainda, não é crime. Portanto, vá pra rua, com sua máscara, como quiser, de forma violenta ou não. Se for violento, o Estado não está autorizado a brutalizar sobre ninguém por algum crime. Faça o que pensa que vá modificar alguma coisa. Quer só levantar cartaz, levante, quer jogar pedra na polícia, também pode jogar. Não estou incitando nada disso, mas são coisas que acontecem e as manifestações estão aí pra deixar claro, os fatos estão aí provando o que ocorre nas ruas. E o Estado não está autorizado a cometer brutalidades contra o cidadão. Pelo contrário, o Estado já tem mecanismos, há muito tempo, instaurados na sociedade a fim de absorver esse tipo de atitude.

Minha orientação jurídica é a de que o cidadão vá à rua, mas sem esquecer de fazer o seguinte: tenha o número de um advogado e esteja com seu documento, pra eles não sumirem com você.

Gabriel Brito e Raphael Sanz são jornalistas.

Profissionais das escolas municipais fazem vigila na Câmara de Vereadores do Rio

Centenas de profissionais de educação das escolas municipais do Rio realizam hoje uma vigília em frente à Câmara de Vereadores, desde às 14h. Os professores e funcionários querem que a proposta de plano de carreira do prefeito Eduardo Paes seja retirada da pauta de votação. dezenas de outros profissionais, incluindo a direção do Sepe, encontram-se, neste momento, dentro da Câmara, nas galerias, onde aguardam a presença do líder do governo, vereador Guaraná. Durante todo o dia, o Sepe e profissionais visitaram os gabinetes para sensibilizar os parlamentares a não votarem no plano.

A sessão não foi realizada hoje.

A vigília continua até pelo menos quinta-feira, sempre a partir das 14h.

Na sexta, será realizada assembleia, às 10h, em local a confirmar.

Acréscimo: ao final da vigília, o vereador Luiz Antônio Guaraná, líder do governo, se comprometeu em receber o Sepe hoje, às 15h, para discutir a tramitação do PL 442 (PCCR).  (Fonte: SEPE)
5ª MANIFESTAÇÃO - RIO 
A educação pública no Rio de Janeiro segue em greve e busca a unificação das lutas
As escolas públicas do ensino infantil, fundamental, médio e técnico estão em greve. Esta greve se insere no marco das manifestações que ocorrem em todo o país contra o desmonte e privatização da educação. É parte das manifestações e greves que sacodem todo o território nacional desde junho.
Dilma e seu governo, apesar das manifestações, da queda de popularidade continua atacar os direitos, privatizar à educação e a saúde dos trabalhadores e da população. Além disso, privatiza rodovias, portos, aeroportos e as jazidas de gás e petróleo da camada de pré-sal.
No Rio, o PMDB de Cabral e Eduardo Paes, base de sustentação política de Dilma, segue sua política de desvios de verbas públicas, corrupção, ataques aos direitos, desmonte dos serviços públicos e sua privatização. Este é motivo das greves nas escolas estaduais e técnicas. Também reagem aos ataques os trabalhadores das escolas municipais.
A greve nas escolas estaduais e do município do Rio iniciaram no dia 08 de agosto. Com 32 dias de greve a assembleia dos educadores municipais ocorrida no dia 10 de setembro, suspendeu o movimento grevista como forma de voto de confiança nas promessas de Paes. Mais uma vez o prefeito repetiu o que já é sua prática nos últimos cinco anos de gestão: atacou a categoria. Sua mensagem a Câmara apelidada de Plano de Carreiras não passava de uma proposta de aumento de carga horária. No dia 20 o movimento grevista foi retomado pelos professores e funcionários sabendo que não dá para confiar no prefeito.
No dia 14 de agosto, também lutando contra o desmonte e por um Plano de Carreiras os educadores das escolas técnicas iniciaram sua greve.
Com muita disposição de luta, mais de 10 mil grevistas, conseguiram realizar uma passeata de toda a educação pública em greve no dia 20. A passeata unificada percorreu as ruas do centro passando pelas agências bancárias fechadas pela greve dos trabalhadores bancários. Mesmo sem uma unificação formal entre os grevistas da educação e dos bancos as ruas do centro da cidade maravilhosa foram sacudidas pela força da greve daqueles que não suportam mais a precarização, a privatização, os baixos salários, as terríveis condições de trabalho e a redução de direitos.
Porém os banqueiros, Cabral e Paes não perdem por esperar. Mesmo que as direções dos sindicatos se recusem a unificar as lutas, cada vez mais atos e passeatas unificarão na marra as mobilizações e greves dos trabalhadores.
Ainda não entraram em cena os trabalhadores petroleiros, mas um dia antes desta manifestação na Av. Rio Branco, estes trabalhadores realizaram um ato em frente ao Consulado Estadunidense contra a espionagem e a entrega de nossas riquezas minerais.
Desta forma fica claro que é uma necessidade das lutas a sua unificação e se esta não está ocorrendo em um mesmo ato, pelo menos ocorre na prática. A semana que terminou na sexta feira, 20 de setembro, foi mais uma de manifestações, atos, paralisações e greves em todo o Estado do Rio de Janeiro.

Fonte: CSP-Conlutas Rio de Janeiro
Foto: ABr


É preciso unificar as campanhas salariais e ampliar as lutas por direitos

As campanhas salariais do segundo semestre começaram. Metalúrgicos, bancários, petroleiros e trabalhadores do Correios estão indo à luta por aumento salarial e melhores condições de trabalho e de vida.   

Os metalúrgicos de São Paulo deram o exemplo e unificaram sua Campanha Salarial. Já realizam greves e paralisações de 24 horas em importantes fábricas de São José dos Campos e do Grande ABC, com mais de 8 mil trabalhadores parados. (veja mais aqui)   É evidente que os empresários irão usar a queda na produção da indústria, que de acordo com dados o IBGE tem retração 0,8%, para apresentar propostas rebaixadas na hora de sentar à mesa de negociações nas campanhas salariais.   

Contudo, esses setores da indústria foram os que mais receberam incentivos do governo com isenções de tributos e investimentos. O gasto do governo para salvar bancos e empresas já corroeu 16,5% do PIB (Produto Interno Bruto) o que representa R$ 832 bilhões. Essa conta eles não mostram! (veja mais aqui)   

Os trabalhadores dos Correios se enfrentam com as direções das federações que os representam: Findect (Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Correios) e Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas e Telégrafos e Similares Correios), que tentam dividir o movimento. Mas a categoria demonstra disposição e, mesmo com a volta ao trabalho de parte dos ecetistas,  a greve segue firme desde o dia 12 de setembro, cuja orientação de manter o movimento foi da FNTC (Frente Nacional dos Trabalhadores dos Correios) ligada à CSP-Conlutas.

 Neste momento, a greve tem adesão de outras bases e já soma mais de 20 estados parados. (veja mais aqui)   Os bancários, que deflagraram greve no dia 19, também se deparam com intransigência dos banqueiros em oferecer somente 6,1% de reajuste à categoria. (veja mais aqui)  

 Entretanto, os bancos obtiveram lucros exorbitantes. Só o Banco do Brasil que ultrapassou os lucros do Itaú Unibanco e no primeiro semestre registrou o maior lucro da história dos bancos brasileiros, R$10,03 bilhões.    Os petroleiros também estão em Campanha  salarial e com  slogan:  “16,53 de aumento no salário base, sim! Leilão de Libra, não!” sintetizam a batalha que a FNP  (Federação Nacional dos Petroleiros), seus sindicatos e as oposições terão nos próximos dias: demonstrar aos trabalhadores a necessidade de que as duas batalhas se convertam em uma única luta, pois com leilão e privatização não há possibilidade de uma campanha reivindicatória, de fato, vitoriosa. ( saiba mais aqui)    Incorporar a campanha contra leilão do pré-sal - A tentativa de aprofundamento das privatizações tem como principal foco para o próximo período o leilão de libra do pré-sal, previsto para acontecer no dia 21 de outubro. 

A principal campanha da Central no próximo mês será barrar esse leilão que entregará as riquezas do país para o capital estrangeiro. Nas campanhas salariais, é preciso também buscar incorporar essa campanha com a votação de moções de repúdio ao leilão nas assembleias, por exemplo, entre outras ações.  

 É preciso lutar por uma pauta ampla e unificar as lutas – Por isso, as categorias que estão em luta em suas campanhas salariais e se enfrentam com  oponentes em comum, os patrões e o governo, devem unificar suas lutas. As empresas ou o governo não medirão esforços para impedir a organização dos trabalhadores, reprimindo as greves com o corte de ponto ou acionando a justiça. E para garantir seus lucros e privilégios, irão apresentar ou já apresentaram propostas rebaixadas que, em muitos casos, não contemplam sequer a inflação do período.  

 Além disso, essas campanhas salariais ocorrem em um período de ataques, tanto político quanto econômico, aos trabalhadores.    O governo e os empresários tentam ampliar e consolidar as terceirizações com a aprovação do PL 4330.   A inflação do período avançou de 0,16% em agosto para 0,27% em setembro. Isso após ter se mantido estável pela baixa nos valores das passagens de transporte público, conquistado com mobilização. A precariedade nos serviços de saúde, educação e transporte de público e de qualidade.   Por isso, além de exigir melhores salários, é preciso também fazer a exigência de barrar os leilões do petróleo, barrar a PL 4330, das terceirizações.   

Todas essas questões e as reivindicações acerca desses temas, levantadas nas mobilizações de junho, julho e agosto, devem continuar sendo pautadas nas campanhas salariais.   Neste sentido, a luta é uma só e a unidade de todos os trabalhadores é o caminho para conquistar direitos.   

Veja o link com vídeos de membros da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas que orientam sobre os próximos passos, após o dia 30 de agosto:   http://www.youtube.com/watch?v=cwMRmCUeqj0&list=UUbUnByBna48ouwEUENkc9ww   Foto: Tanda Melo   

CSP-Conlutas participa de acampamento em frente à sede da Petrobras, no Rio, contra o leilão de Libra

A CSP-Conlutas juntamente com ativistas de movimentos sociais e sindicais está desde as 11 horas de hoje  (24) participa do acampamento em frente à sede da Petrobras, na Avenida Chile, no Rio, em repúdio ao leilão do campo de Libra, o primeiro do pré-sal. Essa ação também integra a campanha salarial dos petroleiros cujo slogan é “ “16,53 de aumento no salário base, sim! Leilão de Libra, não!”.  

 Os manifestantes pretendem permanecer acampados até que a presidenta Dilma reverta o leilão que compromete o presente e futuro do povo brasileiro.   O  dirigente do Sindpetro RJ e também integrante da CSP-Conlutas RJ Eduardo Henrique está no acampamento e informou que a disposição dos ativistas é grande. “O objetivo é de intensificarmos as ações contra o leilão de Libra.  Estamos com um calendário de mobilizações e convocamos a todos a se integrarem nessas ações”, salientou.   

No dia 3 de outubro, quando a Petrobras completará 60 anos, haverá um ato-show na Praça XV, contra a entrega das riquezas do subsolo brasileiro e o desmonte progressivo da empresa-símbolo do desenvolvimento nacional e da capacidade de luta e de resistência dos brasileiros. Dentre os que já manifestaram seu apoio a essa campanha estão os sambistas Beth Carvalho e Noca da Portela, Marcelo Yuka e o ator Paulo Betti.  

 A campanha contra os leilões do petróleo é uma das principais tarefas  colocada pela CSP-Conlutas a suas entidades filiadas e aos trabalhadores.     No dia 21 de outubro está marcado para acontecer o leilão de privatização da bacia de Libras, a maior descoberta do pré-sal brasileiro.   Nossa Central está nessa jornada de mobilizações para barrar a entrega das reservas brasileiras de pré-sal.       Na  sexta-feira última,  no Instituto Salesiano Pio XI, em São Paulo, foi realizada uma plenária que contou com a participação de diversas entidades do movimento sindical e social contrárias ao leilão.   

Essas organizações avançaram na construção de uma agenda de luta unificada para barrar o leilão do campo de Libra, o primeiro na área do pré-sal.    As entidades avaliaram que é preciso convergir todos os movimentos sociais para a luta contra a privatização desse recurso natural estratégico.    

 Por isso, a CSP-Conlutas orienta a todas as entidades a se somarem nesse calendário de mobilização cuja dada mais próxima será  terça-feira (24) com um acampamento.   

A Central também destaca desse calendário de luta o  17 de outubro, dia em que serão realizadas marchas nas principais capitais do país. É importante  que as entidades filiadas se incorporarem a essa atividade e orientem  participação dos trabalhadores nessa mobilização.     
Confira o calendário completo e participe!     

24 de setembro – início de um acampamento no Rio de Janeiro   

3 de outubro – no aniversário de 60 anos da Petrobrás, os movimento sociais realizarão atos pelo país afora e iniciam um acampamento também em Brasília 

  7 de outubro – realização de um mega ato político-cultural no Rio de Janeiro, com participação de artistas e intelectuais   

14 a 18 de outubro – a luta contra os leilões de petróleo nos estados   

17 de outubro – marchas nas principais capitais do país contra o leilão de Libra   

21 de outubro – grande manifestação nacional contra a entrega de Libra na cidade onde for realizado o leilão.  

 Com informações da Agência Petroleira de Noticias   

Ruralista: você não nos alimenta e não nos representa! #baixaabolaruralista

Conflito entre grileiros e retireiros “fecha” a cidade de Luciara, MT

Na madrugada desta segunda-feira, 23, dois tiros foram disparados contra a casa do diácono José Raimundo Ribeiro da Silva (Zecão), agente da Prelazia de São Felix do Araguaia, em Luciara, região Norte Araguaia, no Mato Grosso. O clima na cidade de pouco mais de dois mil habitantes é tenso desde a semana passada, quando na quarta-feira a casa no retiro do líder dos retireiros, Ruben Eterny Sales, foi queimada.

Desde sexta-feira o comércio da cidade foi fechado, a MT 100 que dá acesso à cidade foi bloqueada, máquinas foram colocadas na pista de pouso do aeroporto da cidade, e foram montadas estratégias para evitar a chegada de pessoas pelo rio  para evitar uma suposta visita de membros do Instituto Chico Mendes à cidade, que estaria marcada para o sábado (21), para a implantação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), de 110 mil hectares. A ação foi coordenada pela Associação dos Produtores da região e tem a participação de quase todos os vereadores da cidade.

Os proprietários de terras, com medo de que fosse realizada Consulta Pública para transformar a área reivindicada pelos retireiros em Reserva de Desenvolvimento Sustentável, barraram, no dia 19, dois geógrafos que iam realizar um trabalho de cartografia social dos retireiros. Dois homens grisalhos, armados, fizeram com que eles entrassem em seu carro e os escoltaram até o entroncamento com a BR 158, onde era o Posto da Mata, a 100 km de Luciara, onde estavam.

Também barraram por duas vezes na estrada um ônibus da UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso - com pesquisadores e um grupo de alunos de mestrado em geografia que iriam fazer um estudo de campo na região. Os proprietários (na realidade grileiros) queriam revistar o ônibus, ameaçaram incendiá-lo e proibiram que fossem tiradas fotografias. Também impediram que o grupo seguisse até São Félix do Araguaia.

O trabalho que geógrafos e alunos da UFMT iriam realizar, nada tinha a ver com a reserva (RDS), pois todo o trabalho necessário à criação da reserva já havia sido feito, inclusive o mapeamento social dos retireiros.

Na madrugada de sábado último, 21 de setembro, foram incendiados pneus em frente à casa de Ruben, na cidade. Por volta das 7h00 da manhã ele surpreendeu dois homens encapuzados com um galão de gasolina prontos para jogá-la sobre o carro de sua esposa.

Na noite de sábado para domingo mais uma liderança, Jossiney Evangelista, teve a casa de seu retiro incendiada. Jossiney é índio Kanela, retireiro e vereador da cidade. Ao tentar voltar do seu retiro para sua casa na cidade foi impedido de entrar. Um policial que estava no local, ao ser inquirido como não reagia, disse não poder fazer nada.

A bióloga Lidiane, irmã de Ruben, recebeu ameaças de ser queimada viva em cima de sua moto.

No domingo a população da cidade foi convocada para um grande churrasco no local do bloqueio da MT 100, de onde partiram em passeata para a cidade. Uma das faixas dizia: “Rubem e Zecão, diácono agente da Prelazia, mentem para o povo de Luciara”. E outra: “A Prelazia é o câncer dos trabalhadores Rurais do Araguaia”.

Foram feitos contatos com autoridades estaduais e federais, mas até o momento não se tem notícia de nenhuma ação concreta.

O que são Retireiros?

A identidade retireira tem relação com os ocupantes não-indígenas da região do Vale do Araguaia. São pequenos criadores que criam à solta seu gado nas pastagens naturais do cerrado e varjões da região, numa dinâmica de agroextrativismo do capim nativo. É uma prática tradicional, adequada às características ecológicas e sociais locais que se mantém desde a década do 1930, data da presença dos primeiros sertanejos na região de Luciara.

O gado é criado de forma extensiva em terras comuns com pouca alteração da paisagem natural. Nestas áreas há o espaço do retiro, local de moradia e manejo do gado, organizado individualmente ou em grupo. Nos retiros são construídas casas, piquetes para manejo de gado, currais e cisternas.  Varjões, lagos, rios, matas não inundáveis e toda a paisagem é de uso comum.

A criação da RDS foi solicitada pelos retireiros, apoiada por professores e alunos da Universidade Estadual do Mato Grosso - Unemat, para garantir a manutenção desta área de exploração coletiva, impedindo que acabasse mercantilizada e colocada sob o domínio de um fazendeiro qualquer. Os retireiros se organizaram na Aprumav - Associação dos Produtores Rurais do Mato Verdinho.

Maiores informações:
José Raimundo Ribeiro da Silva (diácono e agente da Prelazia de São Félix do Araguaia) – (66) 8452-1913 / (11) 2935-5768.
Cristiane Passos (assessoria de comunicação CPT Nacional) – (62) 4008-6406 / 8111-2890

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Máfia dos lotes no Tocantins – Por uma CPI na assembleia legislativa para investigar a doação e venda de areás públicas no Tocantins

Carro de empresario que denuncio o esquema foi queimado
“Não há lotes para construir moradias populares para combater o déficit habitacional no estado, mas há para doar para empresários e aliados políticos sim.”

Por Pedro Ferreira


No ultimo dia 04 de setembro o ministério público federal denunciou um esquema de venda de lotes onde procuradores, empresários e gestores estão sendo investigados. As negociações causaram um prejuízo de R$ 50 milhões ao estado. Foram negociados de forma irregular cerca de 600 lotes.


“O MPE explicou como funcionava o esquema da "máfia dos lotes", termo usado pelos promotores. Os terrenos públicos, que na época eram administrados pela antiga Companhia de Desenvolvimento do Estado do Tocantins (Codetins), eram dados em troca de favores políticos ou adquiridos por servidores e gestores públicos, que utilizavam das facilidades do cargo, para facilitar a aquisição dos terrenos. Neste caso, laranjas eram usados para não levantar suspeitas.

 

Infelizmente esta é uma prática histórica dos governos tocantinenses, diversos terrenos públicos tanto no campo como na cidade são doados para aliados em troca de apoio político. Ora e outra esses absurdos vem à tona, no entanto até o momento os responsáveis por esses crimes não são punidos, ao contrario, em vez de corrigir se legaliza. Um dos casos mais conhecido é o que envolve a senadora Katia Abreu acusada de grilar terra de camponeses na região norte do Tocantins.

 

Essa prática não é exclusiva apenas do governo estadual, nos municípios também vemos essa politica em ação. Recentemente em um artigo intitulado ‘Por uma politica habitacional para quem de fato necessita em Lajeado’ podemos ver a politica de doação de lotes e casas populares para pessoas que não necessitam, deixando de lado famílias que estão em uma situação de maior vulnerabilidade social, demostrando assim uma clara ação de compra de apoio político e troca de favores. No primeiro semestre de 2013 também vimos denuncia de doação de lotes irregular na gestão do prefeito Raul Filho (PT) entre 2004 a 2012 na prefeitura de Palmas.

Enquanto milhares de famílias tocantinenses continuam vivendo em condições precárias, sem um teto para morar. O governo criminosamente doa  áreas públicas em troca de apoio politico. Vemos por tanto que a questão do déficit habitacional no Tocantins não é resolvida por falta de vontade politica, pois áreas e recursos públicos para construir moradias populares existem.

Vamos ver qual vai ser a postura do secretario de regularização fundiária Irajá Abreu frente a este processo, esperamos que este crime não seja legalizado mais uma vez como tantos outros casos. No entanto não tenhamos ilusão à nomeação de Irajá Abreu para esta pasta já foi com o objetivo de regularizar a grilagem de terra no estado. A classe trabalhadora tocantinense, sobretudo os movimentos de luta por moradia popular devem ficar atentos e não vacilar.

Exigimos por tanto:

1-         Que o governo estadual, municipais e o ministério público suspenda imediatamente a doação de todos os lotes doados para empresários e aliados políticos;
2-         Destinação desses lotes e outras áreas públicas para construção de moradias populares para as famílias sem teto;

3-         Instalação de uma CPI da máfia dos lotes para investigar a doação de lotes públicos por parte do governo estadual  e a venda desses lotes por autoridades públicas e empresários na assembleia legislativa bem como punição a todos os responsáveis por tais práticas.

*Fonte: G1 Tocantins

Após seis mortes, indígenas Kaiowá retomam fazenda de onde foram expulsos

Acampados na beira da estrada há 14 anos, comunidade Apyka’i, de indígenas Guarani Kaiowá, que já sofreu ataques a tiros e incêndios criminosos, tenta pela terceira vez retomar seu território tradicional, em processo de demarcação ocupado por fazendas de cana.
A comunidade Guarani Kaiowá do acampamento indígena Apyka’i, às margens da rodovia BR-463, retomou parte do território reivindicado como tradicional, onde hoje incide a fazenda Serrana, a sete quilômetros do centro de Dourados (MS), por volta das 9 da noite deste domingo, 15. As famílias estão acampadas há 14 anos no local.

Em março, uma criança Kaiowá de quatro anos morreu atropelada na estrada. Além dela, outros quatro moradores da comunidade faleceram, vítimas de atropelamentos, e uma sexta pessoa foi morta envenenada por agrotóxicos utilizados nas plantações que circundam o acampamento. A fazenda que incide sobre o território indígena, em processo de demarcação e parte do Grupo de Trabalho Dourados-Peguá, é utilizada para a monocultura em larga escala de cana-de-açúcar. Em agosto, um incêndio que teria iniciado no canavial, atingindo cerca de mil hectares da terra, se alastrou pelo acampamento, destruindo barracas e pertences dos indígenas. A causa do incêndio ainda não foi confirmada.

Os indígenas temem uma retaliação por parte dos fazendeiros e, especialmente, de empresas de segurança privadas que prestam serviço a eles. “As autoridades tem que saber o que está acontecendo aqui. Nós precisamos de proteção para não acontecer coisa ruim de novo”, diz uma liderança. “A comunidade tem que ficar protegida aqui no tekoha [território tradicional]. Nós estamos aqui rezando pela nossa proteção. Nós não vamos sair”, pontua. Os indígenas se referem a uma série de ameaças e ataques feitos contra a comunidades, atribuídos a “jagunços” que prestam serviços aos proprietários e arrendatários das terras.

Gaspem

Em agosto, o Conselho do Aty Guasu, grande assembleia Guarani e Kaiowá, denunciou ao Ministério Público Federal (MPF) uma ameaça atribuída a funcionários da empresa Gaspem Segurança à comunidade Apyka’i. Segundo o documento, um grupo de seguranças impediu os indígenas de pegar água no córrego próximo à fazenda, e ameaçou de matá-los caso voltassem ao local. Na ocasião, o secretário geral da Anistia Internacional, o indiano Salil Shetty, visitou o acampamento Apyka’i e afirmou se sentir “em um lugar onde direitos humanos não existem”.

No mesmo mês, o MPF ajuizou ação para que a Gaspem fosse dissolvida e tivesse seu registro comercial cancelado. A empresa é conhecida por sua atuação em propriedades com conflito fundiário e é acusada de executar ataques contra comunidades indígenas, que resultaram em dezenas de feridos e na morte de duas lideranças. De acordo com depoimentos coletados pela Procuradoria, a empresa chegava a receber R$ 30 mil para cada desocupação violenta e os seguranças da Gaspem eram contratados para intimidar e aterrorizar as comunidades.

A participação da Gaspem nos episódios está sendo investigada, tal como o possível envolvimento da empresa nos ataques às comunidades Lagoa Rica, Laranjeira Ñanderu, Ñaderu Morangatu, Sombrerito, Pyelito Kuê e Guaiviry – todas próximas a áreas reivindicadas como tradicionalmente indígenas.

Criança atropelada

Em março, uma criança Kaiowá de quatro anos morreu atropelada no acampamento. O motorista do veículo fugiu do local sem prestar socorro à criança, e até hoje não foi identificado. Um mês antes do episódio, outro indígena do tekoha foi atropelado por uma moto, que também não parou para prestar socorro. De bicicleta e acompanhado da esposa grávida, vinha caminhando pelo acostamento, quando foi atingido por uma motocicleta.


Desde 1999, quando foram expulsos do local, seis pessoas da comunidade faleceram – cinco por atropelamento e uma por intoxicação, em decorrência do uso de agrotóxicos nas plantações ao redor do acampamento, segundo os indígenas.

Os indígenas tentaram por duas vezes retomar seu território originário. A última tentativa ocorreu em junho de 2008, quando os indígenas ocuparam uma pequena parte da fazenda, próxima à mata da Reserva Legal da área, estabelecendo pequenas roças.

No período em que ficaram acampados ali, foram vigiados pela empresa particular de segurança. A Funasa e Funai foram impedidas de prestar atendimento. A ocupação durou até abril de 2009, quando a Justiça determinou a reintegração de posse em favor do fazendeiro. Desde então, o grupo está acampado à beira da rodovia.

Com a expulsão das terras, os índios foram obrigados a ocupar a outra margem da BR-463, por causa das obras de duplicação da rodovia. Um dos maiores problemas dos indígenas de Apyka’i é a obtenção de água potável. Atualmente, eles se valem da água poluída de um córrego para beber, cozinhar e para higiene pessoal.

Um relatório do MPF-MS sobre a situação da comunidade de Apyka’i, publicado em 2009, afirmou que “crianças, jovens, adultos e velhos se encontram submetidos a condições degradantes e que ferem a dignidade da pessoa humana. A situação por eles vivenciada é análoga à de um campo de refugiados. É como se fossem estrangeiros no seu próprio país”.

Ataque

Em setembro de 2009, um grupo armado atacou o acampamento, atirando em direção aos barracos. Um Kaiowá de 62 anos foi ferido por tiros, outros indígenas agredidos e barracos e objetos foram queimados.

Segundo lideranças da comunidade, o ataque, realizado a mando dos fazendeiros, ocorreu já depois que os indígenas foram despejados da área, e que teve relação com o uso da água de um córrego que fica dentro da área da fazenda. Na ocasião, depois de terem sido despejados, os barracos e todos os pertences dos indígenas foram queimados. O ataque ocorreu por volta da 1h da madrugada, quando o grupo de índios dormia no acampamento improvisado construído no dia anterior.

A fazenda

Segundo apuração da ONG Repórter Brasil, a propriedade foi arrendada para o plantio de cana-de-açúcar pela Usina São Fernando. A usina, por sua vez, é um empreendimento da Agropecuária JB (Grupo Bumlai) com o Grupo Bertin, um dos maiores frigoríficos da América Latina.


Instalada em Dourados (MS) em 2009, a Usina São Fernando é tocada por uma parceria da Agropecuária JB (Grupo Bumlai), especializado em melhoramento genético de gado de corte, e o Grupo Bertin, um dos maiores frigoríficos produtores e exportadores de itens de origem animal das Américas.

Por Ruy Sposati, no site Campanha Guarani.

O STF diante do mensalão

Por Valério Arcary

O STF decidirá, finalmente, se deverá ou não acontecer um segundo julgamento do mensalão. O mais provável é que se pronuncie a favor dos embargos. A cúpula do PT admite que praticou crime eleitoral de Caixa 2, mas adverte que não usou dinheiro público para garantir maioria de votos no Congresso para o governo Lula. Reivindicam o benefício da dúvida. Esta argumentação é hipotética. É, também, precária, incerta e duvidosa. Ou seja, quase insustentável. Tem como objetivo único conseguir uma redução das penas para evitar a prisão de alguns de seus líderes em regime fechado, ou seja, a máxima humilhação. Que seria uma derrota simbólica importante.

Paradoxalmente, a decisão de um segundo julgamento e a possível redução de penas favoreceria a cúpula do PSDB. Estão preocupadíssimos, com razão, com o julgamento do mensalão mineiro, articulado em 1998, pelo mesmo Marcos Valério que depois foi o braço direito de Delúbio Soares. O julgamento do tucanoduto está previsto para 2014. Deve se transformar em um pesadelo para Aécio Neves, o herdeiro político de Eduardo Azeredo, que foi presidente nacional do PSDB depois de deixar o Palácio da Liberdade em Belo Horizonte.

Quando a direção do PT decidiu, por iniciativa direta de Lula na campanha de 1994, aceitar dinheiro das grandes corporações, o destino do PT estava traçado. O vale tudo eleitoral tinha, desde o início, um endereço trágico. Era, no fundo, só uma questão de tempo para que o PT evoluísse do financiamento “legal” dos monopólios para um sistema de caixa dois – a exemplo dos partidos tradicionais – e, depois, para a transferência de recursos arrecadados para os partidos aliados, o sistema de mensalão para assegurar maioria no Congresso, culminando com o enriquecimento de alguns de seus chefes, o que é sórdido. A direção do PT fez em dez anos um trajeto que a socialdemocracia levou cem anos para completar. Mas, tudo isso foi, também, uma evolução triste.

Os líderes do PT que estiveram à frente da operação financeira que culminou na fraude organizada por Marcos Valério junto aos bancos, articulada por Delúbio Soares e pilotada por José Dirceu, não merecem, portanto, solidariedade alguma. Entretanto, ao mesmo tempo, é desprezível, abjeta, e repulsiva, a hipocrisia que cercou o circo do julgamento do mensalão no STF. Porque a direção do PT não fez nada, absolutamente, nada de novo na vida política nacional.
Capitalismo e corrupção

Recordemos, então, o que a história e o marxismo nos deixaram como fundamentos “graníticos” sobre a corrupção. Primeiro, o mais importante. Nunca existiu capitalismo sem corrupção.

Capital e Estado estiveram sempre unidos através das mais variadas cumplicidades. Desde o alvorecer das pioneiras Repúblicas italianas, quando a Europa recuperou ao Islã o controle das lucrativas rotas comerciais do Mediterrâneo, passando pela conquista da América pelas Coroas ibéricas, sem esquecer os quase 150 anos de disputa entre Londres e Paris pela supremacia no mercado mundial: a corrupção estava lá, em todos os portos, em todos os tribunais, em todas as Cortes, em todas as línguas. A corrupção nunca foi privilégio dos latinos, nem dos chineses, nem dos árabes. Desde o século XIX falou, sobretudo, o latim moderno, o inglês. Comprando favores, deslocando concorrentes, driblando as leis, subornando autoridades, obtendo cargos. A força do dinheiro abrindo as gavetas do poder, e o domínio do Estado favorecendo os cofres da riqueza.

Quando argumentamos que capitalismo e corrupção sempre caminharam de mãos dadas, muitos nos perguntam se a corrupção não seria inevitável em qualquer sociedade. Porque, afinal, ninguém ignora que tanto na URSS quanto na China as burocracias estatais se regozijavam em privilégios, driblando as suas próprias leis. A corrupção não seria expressão das incoerências sombrias da natureza humana?

Os socialistas defendem que não existe fatalismo na condição humana que nos condene a corrupção. Assim como existiram sociedades que desconheceram a exploração do homem pelo homem, ignoraram, também, a corrupção. A corrupção é uma doença econômico-social, e se explica em função de circunstâncias históricas. Ninguém é, naturalmente, corruptível ou corruptor. Algumas pessoas transformam-se em corruptos, em função de cálculos de risco e benefício.

A percepção de que, no Brasil, a apropriação privada do Estado pelo mundo dos negócios teve sempre na sua raiz a impressionante desigualdade econômica e social, é chave para mantermos o sentido das proporções diante do colapso moral da direção máxima do PT. Ao se transformar, a partir de 1988, em um partido que se credenciava para a gestão do Estado sem ameaçar o capitalismo, o PT selou o seu destino.

Um programa de adaptação à gestão de um capitalismo que quase não cresce, ou cresce muito devagar e cheio de desproporções, em uma sociedade em que a desigualdade social permanece obscena, e na qual a mobilidade social vem diminuindo há um quarto de século, ou seja, um reformismo quase sem reformas, não poderia evitar a degeneração ética. Ensina a sabedoria oriental que o peixe morre pela boca. Já o Padre Antonio Vieira dizia que o peixe apodrece pela cabeça. O marxismo alerta que a cabeça não é imune à pressão do chão que os pés pisam.

O PT escolheu um caminho de socialdemocratização que já tinha sido trilhado na América Latina por muitos outros, até por organizações que encabeçaram revoluções democráticas, como os sandinistas. Se, mesmo os partidos que se formaram na severidade das condições da luta armada contra ditaduras – como a FSLN, os Tupamaros ou a Farabundo Marti – quando aceitaram se transformar em partidos eleitorais, se descobriram vulneráveis diante da pressão política e social da democracia liberal, parece inescapável que o PT, que já nasceu como um partido eleitoral, seria presa fácil da corrupção endêmica do Estado brasileiro.

O domínio do Capital sempre foi a associação legal e/ou ilegal, portanto, sempre ilegítima e imoral, da riqueza com o poder. Todos os partidos comprometidos com o regime democrático-eleitoral e, por isso, financiados pelo capital, foram aliciados, em todos os tempos e lugares, pela força do dinheiro. Nos últimos cem anos, à escala mundial, a imensa maioria dos instrumentos da representação política dos trabalhadores, no centro ou na periferia, quando se consolidaram regimes democráticos, foram absorvidos pela pressão do eleitoralismo.

A socialdemocracia europeia antes da I Guerra, ou os partidos eurocomunistas depois dos anos 60, muito antes do PT, confirmaram que é difícil, politicamente, e complexa, social e organizativamente, a construção de reservas ou filtros de imunidade diante da pressão de forças sociais hostis. Degeneraram, absorvendo, além dos métodos do eleitoralismo, os seus vícios. Seus dirigentes, fossem do SPD na Alemanha e do Labour na Inglaterra, ou do PCF na França e do PCI italiano, experimentaram, primeiro nos parlamentos, depois com o ministerialismo, um processo de ascensão econômica e acomodação social irrecuperável
Adaptação política e degeneração burocrática

Admitamos, contudo, que os privilégios dos aparelhos socialdemocratas foram a ante-sala de aberrações ainda mais graves. Não bastassem as desprezíveis excentricidades da burocracia russa, como a coleção de automóveis de Brejnev, ou a cômica sucessão de tipo monárquico, em nome do socialismo, do regime totalitário na Coréia do Norte, a esquerda do século XX viveu a degradação do assalto dos sandinistas às mansões na Nicarágua.

Pressões sociais em sociedades desiguais nunca devem ser, portanto, subestimadas: os que se deixam confundir politicamente, assimilam os métodos da política burguesa – em que tudo são mercadorias, incluindo o voto – e, finalmente, se rendem a um modo de vida de ostentação. É o que confessam os principais líderes petistas quando, de maneira até grotesca, invocam absolvição porque estavam agindo de acordo com as “regras do jogo”.

Quando o publicitário que criou o “Lulinha paz e amor” confessou seus pecados, ironia da história, enfiou uma adaga no coração da direção do PT. O enquadramento histórico parece incontornável, sob pena de qualquer análise sucumbir aos impressionismos de conjuntura. Só uma perspectiva mais ampla permitirá explicar como o partido político que foi a expressão eleitoral do movimento operário sindical e da maioria dos movimentos sociais brasileiros nos anos 80, se transformou, a partir de sua mais alta direção, irrecuperavelmente, neste espantoso amálgama de arrivistas e vigaristas.

O tema da burocratização dos partidos de trabalhadores assalariados em sociedades urbanas permanece um fenômeno polêmico. Ao analisar a socialdemocracia de cem anos atrás, Lenin recorreu ao conceito de aristocracia operária para tentar explicar a crescente diferenciação social no mundo do trabalho na passagem do século XIX para o XX, e tentar compreender porque uma maioria das bases sociais e eleitorais da socialdemocracia apoiou seus respectivos governos, quando do início da guerra de 1914.

No entanto, é menos lembrado que Lenin previu que esse apoio seria efêmero, mesmo entre os setores da classe trabalhadora que obtiveram concessões na etapa histórica anterior. A “aristocratização” de um segmento da classe operária era compreendida pela esquerda marxista como um fenômeno, essencialmente, econômico e social, enquanto o agigantamento do aparelho sindical e das frações parlamentares absorvidos pelo Estado era discutido como um processo, essencialmente, político-social.

Aristocracia operária e burocracia sindical-parlamentar não eram identificadas como o mesmo fenômeno social, porque a aristocracia, um conceito relativo às condições materiais e culturais de existência da classe trabalhadora de cada país, permanecia sendo um setor de classe, ainda que privilegiado. Enquanto a burocracia dos aparelhos que se apoiam nos trabalhadores seria uma casta exterior ao proletariado. A experiência do PT e da CUT é uma confirmação quase caricatural deste prognóstico.

Valerio Arcary é professor do IF/SP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia) e doutor em História pela USP.