terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2013 um ano para entrar para história. 2014 promete ser um ano que as massas vão para as ruas de novo.

*Por Joaquim Aristeu 'Boca' da Silva

O ano de 2013 se inicia com aumentos nas passagens de ônibus em varias cidades do interior e capitais do país. No Rio de Janeiro estava programada para Janeiro e foi suspensa depois que o povo ameaçou ir para as ruas, depois veio Guarulhos e várias outras cidades do país, Porto Alegre e Natal os estudantes foram para as ruas e disseram não e as prefeituras recuaram.

Ao mesmo tempo o movimento popular já no inicio de 2013, em janeiro, começou a questionar os crimes e as desocupações da copa. Em Brasília o MTST realiza uma grande ocupação, os índios e ativistas no RJ resistem à truculência da policia de Cabral que tenta desocupar o museu do índio na aldeia Maracanã.

Operários das obras do maracanã cruzam os braços por um dia, trabalhadores do transporte de Portugal organizam uma greve geral, na Bahia os vigilantes do estado entram em estado de greve em busca da periculosidade, e a CSP Conlutas acelera as assembleias e a campanha contra o ACE (Acordo Coletivo Especial) em todo o país e aponta para uma semana de mobilização em abril, fechando com a preparação da marcha a Brasília em 24 de abril.

Isto fez com que as bandeiras do dia internacional de luta das mulheres girassem para a preparação das manifestações contra o ACE e pela garantia dos direitos das mulheres.

O dia 17 de abril quando os lutadores pela reforma agrária relembram o massacre de Eldorado do Carajás onde vários sem terras foram mortos em 1996, e até agora muitos dos criminosos estão impunes, realizou se uma jornada de luta em todo o pais com ocupações de terra e de prédios públicos e paralisação de estradas.

Em Abril tivemos também uma forte greve dos professores da rede estadual e municipal de SP que só não foi mais forte devido à traição de sua direção “a APEOESP CUT”. Neste mês também os setores organizados na luta contra os acidentes e doenças do trabalho organizaram varias manifestações pelo dia 28 de abril. - Dia internacional de luta em memória dos lesionados em acidentes e doenças do trabalho. Ainda no mês de abril varias manifestações e seminários para organizar o dia 24 de abril. - Dia nacional de luta contra o ACE com uma marcha a Brasília.

No dia 24 de abril aconteceram manifestações em vários locais do país, mais de 20 mil manifestantes em Brasília ocuparam a explanada dos Ministérios. CSP Conlutas, CUT pode Mais, CNTA, FENASP são algumas das entidades que jogaram peso nesta que foi a segunda maior manifestação de 2013, ficando só atrás das manifestações de junho e julho.

Em seguida tivemos o 1° de maio, a exemplo do que ocorreu nos demais países, aqui no Brasil as organizações classistas - Fórum unidade de ação, setores do MST, Frente de Resistencia Urbana e os demais setores combativos do movimento popular e o Movimento Passe Livre realizaram atos e protestos denunciando a falta de investimentos na reforma agrária, as remoções e despejos para realização de obras para copa do mundo de futebol, os ataques aos direitos dos trabalhadores, o arrocho salarial, os aumentos das passagens dos ônibus e a criminalização do movimento.

Quando nem mesmo o mais otimista dos revolucionários acreditava no crescimento das mobilizações veio o assenso e as jornadas de junho e julho.

Na avaliação da maioria da esquerda no Brasil, diferente do que ocorria em diversos países, inclusive na Europa, África do Sul, nos Estados Unidos e mesmo no Oriente Médio onde a crise econômica varria as grandes economias e o autoritarismo das ditaduras a exemplo do Egito e Síria entre outros países que enfrentavam lutas populares. Aqui no Brasil a crise estava sobre controle e Dilma rumava para consolidar o seu segundo mandato. É então que um barril de pólvora se acende a partir de um palito de fósforo chamado 0,20 centavos e crimes da copa.

Dia 06 de junho coincidentemente dia do meu aniversário ganhei um presente que achava que não viria mais até o final de minha militância.

O Movimento Passe Livre - MPL e vários outros movimentos incluindo setores do movimento sindical de SP como Metroviários e CSP Conlutas vão as Ruas da Capital de SP contra o aumento das passagens de ônibus feito por Haddad e Alckmin.  O Governo reage e coloca a policia para reprimir o movimento no dia 06, e depois no dia 07 de junho a repressão se repete. A juventude e os ativistas mantém se nas Ruas, e um novo ato é marcado para SP e em vários locais do país para o dia 13 de junho.

Dia 13 de junho a PM DE Alckmin com o apoio de Haddad acende o estopim das lutas sociais.

Milhares nas Ruas, agressões a jornalistas, ativistas presos e feridos. Saldo mais de 220 prisões, dezenas de ativistas internados, acende o estopim e as manifestações espalham pelo país. Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Porto Alegre, Natal. Grandes, médias e pequenas cidades, milhões foram às ruas, também foi parte das bandeiras das mobilizações as manifestações contra os crimes e remoções da copa. Em São Paulo no dia 14 o MTST junto com outras dezenas de organizações que compõem o movimento popular Frente de Resistencia Urbana e entidades sindicais, a exemplo da CSP Conlutas onde tivemos o prazer de falar em nome da CSP Conlutas. Realizamos um grande ato denominado “Copa pra quem”, um dia depois do triste episódio protagonizado pela policia de Alckmin. Estas manifestações tiveram continuidade e no dia 15 de junho as imediações do Mané Garrincha em Brasília foi palco de grandes manifestações que mais uma vez o MTST e o comitê contra os crimes da copa estavam lá. Dilma foi vaiada dentro de campo pela torcida, e estas manifestações duraram todo o período da copa das confederações.

Dia 17 de junho o dia D das mobilizações – O dia que o Brasil parou

Um milhão toma as ruas do Rio de Janeiro, mais de 100 mil em São Paulo, milhares em Brasília e nas demais capitais do país. Atos massivos ocorriam de norte a sul deste país. No exterior os brasileiros juntavam os moradores das regiões que vivem e iam para frente das embaixadas brasileiras e realizavam atos em solidariedade as lutas no Brasil. Tive o privilégio de participar em São Paulo deste grande dia - A candelária, Av. Brasil, Paulista, a Esplanada dos Ministérios em Brasília e as praças e ruas nas demais cidades se tornou um verdadeiro oceano de gente querendo mudanças.

A esta altura a luta não era mais só contra o aumento das tarifas e os crimes da copa, mas também contra a saúde e educação precária, falta de segurança, contra a corrupção, pela garantia de direitos, por empregos, reforma agrária e urbana e melhores salários.

As prefeituras recuaram nos aumentos das passagens, o governo desgastado reabriu a pauta sobre saúde e educação e até os corruptos começaram a ser presos.

A Classe operaria entra diretamente na luta

A CSP Conlutas, CUT pode Mais, FERAESP, FENASP, Junto com outras centrais entram para valer com suas reivindicações e chamam o dia 11 de julho como dia nacional de lutas. Mais de 3 milhões de trabalhadores participaram de alguma forma das mobilizações neste dia. -Fabricas importantes como a GM de SJC e dezenas de metalúrgicas pararam um dia ou alguma hora. “Na Alimentação onde milito parou a segunda maior cervejaria” Heineken de Jacareí por 24 horas, estradas foram interrompidas e outras dezenas de fabricas paralisadas, em Porto Alegre houve greve geral no transporte. No dia 30 de agosto as lutas sindicais se repetem e milhares de trabalhadores vão às ruas e manifestações estouram por todo o país novamente.

Passado este momento as lutas continuaram com greves e ocupações.

Passado este período veio às lutas das campanhas salariais - Metalúrgicos, Petroleiros, a luta contra a venda das áreas do pré-sal, bancários, construção Civil, Correios, professores do RJ, Trabalhadores da AMBEV de Jacareí entre vários outros setores. Sentindo se fortalecidas pelas lutas da jornada de junho e julho também obtiveram importantes vitorias. O movimento estudantil também não deu trégua greve nas universidades como UNICAMP, ocupações a exemplo da USP e mobilizações pelo passe livre em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, esta luta ainda não esta fechada.

O movimento Popular também não deu trégua e a Frente de Resistencia Urbana tendo a frente o MTST, o Movimento Luta Popular, setores do MST e o Terra Livre fizeram lutas, ocupações de sem tetos, ocupações de terra o que nos aponta que em 2014 vai ter muita luta e mobilização contra os crimes da copa, por mais dinheiro para as reformas urbana e agrária e neste contesto a CSP Conlutas já votou em suas instancias que será linha de frente na organização destas lutas “Copa pra quem” queremos dinheiro para saúde, educação e mais empregos e por garantida de direitos incluindo a nossa luta contra a precarização do trabalho, contra o grande numero de acidentes e doenças do trabalho dentro das empresas e por salario justo aos aposentados.

Nós estaremos juntos a todas e todos em 2014 para fazer deste ano mais um ano de lutas e mobilizações. Não as remoções de pobres para favorecer os ricos na copa, por mais emprego, salários dignos e por um governo dos trabalhadores e trabalhadoras construindo a partir de um programa discutido e construído pelos trabalhadores e movimento popular, com candidaturas classistas e socialistas. Sem dinheiro dos patrões e sem alianças com os partidos da burguesia. Que seja uma candidatura que tenha sustentação nas lutas e mobilizações.

Feliz fim de 2013 e um 2014 com muita luta e mobilizações!

*Joaquim Aristeu ‘Boca’ da Silva - Militante do Bloco de Resistencia Socialista, membro da direção estadual da CSP Conlutas de SP, militante da LSR – tendência interna do PSOL.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

2013 foi um ano especial. Vamos fazer de 2014 ainda melhor!

As manifestações de junho entraram para a história de nosso país e o colocaram na história atual das lutas, manifestações e protestos. Nas ruas, os estudantes e o povo gritaram: “Da Copa eu abro mão, quero saúde e educação”. Levantaram ainda muitas outras bandeiras, mas esta marcou. Ficou confirmado que “nunca foi só por vinte centavos”!


Mas não foram somente as manifestações. Em 2013, os trabalhadores não se cansaram de lutar. Os operários da construção civil com suas greves radicalizadas; os professores da rede pública na luta pelos 10% do PIB e pela implantação do piso nacional; os petroleiros que, com a mais forte greve desde 2005, denunciaram Dilma pela entrega do petróleo brasileiro para o capital privado nacional e estrangeiro; os bancários, que expuseram a superexploração a que estão submetidos pela ganância e o lucro dos banqueiros; as mobilizações dos servidores públicos federais. Foram muitas lutas neste ano.


Os embates contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) desnudaram as contradições de um estado conservador que impõe um parlamentar homofóbico para a Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional. As bandeiras contra a violência e por igualdade moveram mulheres por todo o país. O 1º Encontro Nacional de Mulheres do Movimento Mulheres em Luta (MML), que reuniu 2300 lutadoras, expressou os avanços da organização dessas bandeiras entre as trabalhadoras.  Em 2013, a luta contra o racismo denunciou novamente que são os negros e pobres das periferias os mais afetados pela violência policial neste país, e gritou: Somos todos Amarildo!


As ocupações urbanas trouxeram mais uma vez à tona a cruel situação em que vivem setores mais pauperizados da sociedade que nem sequer conseguem pagar seus alugueis: Ocupação Esperança, em Osasco (SP), e Ocupação Willian Rosa, em Contagem (MG) são dois exemplos expressivos dessa perseverança na luta por moradia e que se espelham na inesquecível batalha do Pinheirinho e tantas outras lutas e resistências que ocorrem com a mesma energia e garra, seja em São Paulo, Amazonas ou qualquer outra parte de nosso país.

Foi também um ano de muitas lutas em todo o mundo. Ocorreram greves na Europa contra a retirada de direitos por causa da crise do capital, revoltas no norte da África contra governos ditatoriais e na America Latina com mobilizações em vários países. É neste contexto que foi fundamental a realização do Encontro Internacional do sindicalismo alternativo e de luta, em março na França, com representantes de mais de 30 países. Surge então a Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas. Este encontro cumpriu um papel fundamental para avançarmos na solidariedade e nas iniciativas para ações de lutas articuladas em todo o mundo.

A CSP-Conlutas se orgulha de ter estado presente em muitas dessas lutas. Nossa Central manteve e unificou o seu programa ao das mobilizações dos trabalhadores, das lutas contra as opressões, do movimento popular urbano e rural e da juventude. Para além de nossas fronteiras orgânicas, depositamos nossas forças no chamado à unidade com os mais diversos setores, desde o Espaço de Unidade de Ação à outras centrais sindicais. No ano que se encerra podemos contabilizar a realização de uma marcha que reuniu mais 25 mil trabalhadores em Brasília e dois dias nacionais de paralisações contra a política econômica do governo.


Se de um lado os trabalhadores e estudantes foram à luta em 2013, do outro o governo das três esferas e os patrões não deixaram por menos no contra ataque. Assim a repressão às manifestações, a judicialização, com o “enquadramento” de ativistas em “formação de quadrilha”, as punições administrativas ou demissões, sumiços, sequestros e assassinatos foram a tônica de nossos opositores que, agora, buscando enfraquecer a nossa organização, anunciam a regulamentação da proibição das greves no período da Copa do Mundo e as já famosas (pelo seu signo reacionário) leis da Copa e “antiterror”.


O norte de nossa intervenção em 2014 continuará sendo manter e intensificar as lutas contra a criminalização dos movimentos sociais, em defesa da saúde, educação, transporte, moradia e pela reforma agrária. Nossa militância estará ao lado dos atingidos pela Copa, no enfrentamento à cúpula dos BRICS, nas manifestações de rua durante a realização da Copa do Mundo, no chamando à unidade e nos apoiando nas ações das categorias em suas campanhas salariais, bem como nas ações dos movimentos de luta contra as opressões, camponeses, estudantes e de luta por moradia.
  

A preparação dessas mobilizações já começou. Os servidores públicos federais já estão organizado sua campanha salarial, os operários da construção já estão com manifestação nacional marcada para maio em Brasília, os trabalhadores da educação básica já indicam retomar a luta nacional pelo piso nacional no início do ano, trabalhadores dos transportes e estudantes se estão começam a se mobilizar contra o aumento das tarifas.

Buscaremos dar um sentido comum a essas lutas e lutaremos para unificá-las durante a “Contracúpula” dos BRICS e na Copa do Mundo.


  1. Sabemos dos limites de nossas forças, tanto quanto nos orgulhamos de tê-la, assim nos dirigimos a cada um de nossos aguerridos militantes, que compõem as entidades filiadas à Central para dizer-lhes: Agora é hora de desfrutar desse curto período festivo com nossos familiares e amigos. É hora das festas de final de ano!



E daqui a pouco vamos encarar 2014, não somente como um ano de Copa e eleições, mas como um importante ano para as lutas de nossa classe, já que o signo de junho nos aproximou dos cenários das lutas internacionais.


Boas festas e, logo depois, vamos agarrar 2014 com as mãos!

Estudos sobre o agronegócio tocantinense e seus efeitos econômicos e sociais

Introdução

Nessas ultimas décadas o agronegócio tem se desenvolvido no Tocantins voluptuosamente, sobretudo com o apoio e financiamento por parte do estado. A criação de bovinos é ainda a principal atividade desenvolvida no Tocantins com um rebanho de 8 milhões de cabeça e ocupando uma área de 7.498,50 hectares de pastagem, no entanto essa realidade tem mudado, no ultimo período houve um avanço de plantação de soja. Tanto que hoje a soja se tornou o principal produto de exportação do Tocantins, sendo responsável por 80% do que o estado exporta.

A propaganda oficial mostra que o desenvolvimento do agronegócio e a modernização da agricultura brasileira trouxeram altos índices de produtividade bem como gerou riqueza para o país. No entanto omite a violência no campo contra camponeses, quilombolas e os povos indígenas que tem os seus territórios usurpados e que dignamente lutam pelos seus direitos. O trabalho escravo e a destruição ambiental, flexibilização das leis trabalhistas e ambientais, uso abusivo de agrotóxico que contamina o meio ambiente assim como afeta a saúde da população.

A modernização no campo brasileiro vem acompanhada do aumento das desigualdades sociais no campo, as riquezas produzidas que são muitas, não são distribuídas, fica concentrada na mão de poucos.

No Tocantins o apoio do poder público tem sido decisivo no avanço do agronegócio. Milhares de recursos públicos são destinados a empresas privadas investirem no desenvolvimento do setor. Doação de áreas públicas, flexibilização das leis ambientais, incentivos fiscais as empresas transnacionais que atuam no campo. Tudo isso frente à justificativa de que as vantagens dadas pelo governo ao setor contribuem para geração de emprego e riquezas para o povo.

Já não bastasse a secretaria de agricultura e pecuária que historicamente é gerida pelos ruralistas, acaba também de ser criada pelo governo do estado a secretaria de desenvolvimento agrário e regularização fundiária que também será comandada pelos ruralistas.

Há também a delegacia de conflitos agrários e a policia militar agrária, que atua reprimindo a luta dos camponeses sem terra e assegurando a propriedade privada outrora usurpada dos indígenas, quilombolas e camponeses.

Dados do ultimo censo agropecuário mostra que o numero de emprego ofertado pelo setor é mínimo, a agricultura familiar e camponesa gera muito mais posto de trabalho. Há também o alto indicie de utilização de mão de obra escravizada por parte do setor. Já a geração de riqueza é incontestável, no entanto é preciso apontar para quem vai e como sãodistribuídas as riquezas geradas, e sob a que custos sociais e ambientais elas são geradas.

Nesse sentido o estudo a seguir tem o objetivo de mostrar os efeitos sociais e econômicos do modelo agrícola tocantinense, que nada é mais do que o modelo hegemônico desenvolvido no campo brasileiro pautado na grande concentração de terra, na produção de monocultura, utilização de mão de obra escravizada, uso abusivo de agrotóxico e destruição ambiental entre outros. Bem como no sentido de ser um instrumento para osmovimentos populares e demais organizações populares que lutam por reforma agrária e por um modelo agroecológico.

Pedro Ferreira Nunes

Veja o artigo completo no link: http://pt.slideshare.net/PedroTocantins/estudo-sobre-os-efeitos-sociais-e-economicos-do-agronegocio

2013: acabou a paz social

“2013 deixa um sinal muito positivo”. Essas são as palavras do sociólogo e professor aposentado da USP Chico de Oliveira nos momentos iniciais da entrevista que concedeu ao Correio para a edição especial retrospectiva de 2013.

A efervescência do mês de junho, com a massividade dos protestos populares em todo o Brasil, faz de 2013 um ano, sem dúvida, bastante singular. Uma população há anos esgotada com a precariedade e ausência de serviços públicos, e assistindo erguerem-se à sua frente monumentais e luxuosos estádios de futebol para atenderem à Copa do Mundo de 2014, se pôs acesa pela bandeira da Tarifa Zero, levantada pelo Movimento Passe Livre.

A renitência inicial dos governos federal, estaduais e municipais rendeu-se à força dos movimentos; a tradicional criminalização de protestos e manifestantes promovida pela grande mídia caminhou rapidamente para a suavização do tom em um primeiro momento adotado.

Passados, no entanto, os primeiros e intensos meses de democracia viva das ruas, governo e mídia reapropriam-se aos poucos de sua postura de surdez face às demandas populares. A ortodoxia econômica a la FMI do governo cresce a passos largos neste final de ano; já a mídia, passou a linha auxiliar dos legislativos na tentativa de minar as manifestações, criminalizando o que chama de radicalismos, que têm justificado a edição e reedição de leis que permitem encarcerar manifestantes.

Para Chico, nada muito surpreendente: “Qualquer governo tende à repressão, às vezes muito violenta, como em 2013. Quem faz oposição não pode se assustar. É assim mesmo e vamos em frente”. Assim como também não se assusta face à surdez do governo e ao recrudescimento no conservadorismo: “Esse é um dos pontos precisamente fracos dos governos Lula, seguidos por Dilma: não tem política econômica para as áreas sindical e trabalhista, é um repeteco um tanto desqualificado da própria política econômica do FHC”.

Em uma avaliação mais estrutural sobre os governos Lula e Dilma, acrescenta ainda o sociólogo que “o lulismo é grave. É um movimento de cooptação da classe trabalhadora, comandado pelo seu expoente máximo. Como disse certa vez o velho gaúcho Leonel Brizola, com muita amargura, mas precisão quase sociológica, ‘o lulismo é a esquerda que a direita pediu’”.
Para o futuro, Chico descrê de previsões específicas, que extrapolem a observação dos fluxos e refluxos dos movimentos sociais. Este olhar permite apenas dizer que as atuais movimentações certamente voltarão, não se sabe quando e nem com qual intensidade.

Veja a seguir a entrevista completa.

Correio da Cidadania: Falar de 2013 é falar do ano em que a população brasileira foi massivamente às ruas de todo o país em busca de direitos. Como você enxerga essas manifestações, pensando em todo o processo anterior de mobilização que a elas conduziu, no estalar e dimensão adquirida no mês de junho e no momento posterior à efervescência inicial?

Chico de Oliveira: É um sinal positivo do ponto de vista da sociedade, porque diz que sua capacidade de mobilização não esmoreceu. Geralmente, a gente pensa que uma sociedade de massas, como já é a brasileira, seja mais ou menos indiferente aos grandes temas. Mas as manifestações de junho, e também as subsequentes, mostram que isso não é verdade e, felizmente, a sociedade brasileira ainda tem alta sensibilidade às questões tratadas ao longo desse período. 2013 deixa um sinal muito positivo.

Correio da Cidadania: E esse momento positivo veio para ficar?

Chico de Oliveira: Não é assim, não. Em nenhuma sociedade consegue-se manter a mobilização 24 horas por dia, 365 dias por ano. Em certas ocasiões, ela se manifesta, depois reflui. Dependendo do tema e da mobilização, volta a se manifestar. Não há nada que diga que uma sociedade tem de se manter de plantão 24 horas. De modo que uma apreciação tão otimista desconhece as formas pelas quais a sociedade se mobiliza.

Correio da Cidadania: O que pensa da forma com que os vários níveis de governo, municipal, estadual e federal, enfrentaram e têm enfrentado tantos e legítimos protestos populares, no que se refere ao atendimento às demandas sociais?

Chico de Oliveira: Todo governo tende a reagir como governo da ordem. É para isso que estão lá, foram eleitos para manter a ordem. Sempre pensamos, ou tendemos a pensar, que os governos estão para promover a desordem, mas essa é uma fala de quem está na oposição. A tarefa de qualquer governo é manter a ordem.

Portanto, a reação oficial aos manifestos de 2013 é típica dos governos: manter a ordem custe o que custar. E cabe aos que estão contra a ordem achar meios de negá-la. Essa é a tarefa dos que fazem oposição.

Correio da Cidadania: Quanto ao enfrentamento policial aos manifestos que têm se espalhado por todo o país, qual a sua opinião?

Chico de Oliveira: É normal. Normal dentro das características que descrevi aqui, de governos cuja tarefa é manter a ordem. Se os grupos que querem subvertê-la mostram força, a tarefa do governo fica mais difícil, e rapidamente qualquer um deles tende à repressão, às vezes muito violenta, como em 2013. Quem faz oposição não pode se assustar. É assim mesmo e vamos em frente.

Correio da Cidadania: O que dizer, face a esse contexto, dos chamados black blocks e de toda a polêmica que têm trazido à cena política nacional? Como encara este fenômeno?


Chico de Oliveira: Não acho muito importante. Na verdade, dentro do processo, dos vários momentos em que eles apareceram e perturbaram a ordem, deu-se uma certa valorização e publicização. Acontece com movimentos internos da população, desta vez foi o caso do black block. Mas eles não são tão importantes assim.

Correio da Cidadania: 2013 foi o ano anterior àquele da Copa no Brasil, quando também ocorrerão as eleições presidenciais. Muitos estudiosos e analistas previram um ‘saco de maldades’ para 2013, com vistas a ‘sanear’ um orçamento que será mais complicado de ser manejado em ano futebolístico e eleitoral. Como viu 2013 neste sentido da condução da política econômica interna, levando-se em conta, além do mais, a forma como o governo enfrentou o cenário de desaceleração econômica?

Chico de Oliveira: Isso fica ligado à questão anterior, da tarefa desses governos de manterem a ordem que os alçou aos cargos de poder. E mantê-la custe o que custar, contra qualquer grupo que se insurja contra os interesses da ordem. De modo que não tem muito a ver, especificamente, com o fato de no ano que vem termos eleições e Copa do Mundo. Se não tivesse nada disso, o que aconteceria?

Tampouco se pode dizer, na análise do que aconteceu, que, se o governo não reagisse, o movimento tenderia a crescer. Não é verdade. Porém, qualquer movimento mais intenso tem uma espécie de curva ascendente em determinado momento. Depois que mudam os temas e a capacidade de mobilização, vem uma queda. Se o governo atua com repressão, o decaimento poderá vir mais rápido, de forma violenta. Mas nenhum dos dois lados tem fôlego para prolongar por muito tempo seus movimentos políticos.

Correio da Cidadania: Face a este cenário, como tem enxergado, de modo geral, o mundo do trabalho no Brasil, especialmente no que diz respeito à condução de políticas e medidas nas área trabalhista e sindical nestes três últimos anos sob o governo de Dilma Rousseff?

Chico de Oliveira: Não vejo nenhuma política voltada às áreas trabalhista e sindical. O que há com o movimento sindical é uma cooptação, que se deve à apreciação que o Partido dos Trabalhadores tem do movimento sindical. E ao próprio fato de que o Lula é produto desse sindicalismo. Portanto, não vejo nada de especial, não penso que o governo prestou atenção ao movimento sindical ou à questão trabalhista.

Aliás, esse é um dos pontos precisamente fracos dos governos Lula, seguidos por Dilma: não tem política econômica para tais áreas, é um repeteco um tanto desqualificado da própria política econômica do FHC, o que é surpreendente, por ser um governo federal nascido no PT e na forte influência desse mesmo movimento sindical. É claro que esperávamos mais.

Correio da Cidadania: Se 2012 já havia se encerrado marcado pelo chamado Mensalão, 2013 o trouxe à mesa de modo que se pode dizer espetacular. O que este episódio e a sua visibilidade e repercussão dizem de nosso contexto político?

Chico de Oliveira: Dizem muito. Tanto governo como oposição não possuem instrumentos para processar conflitos sociais. E o mensalão foi um conflito social, evidentemente elevado pela mídia, ao nível de um processo exclusivamente político, o que não é verdade.

Mas, de qualquer forma, a sequência do mensalão mostra que governo e oposição estão mal preparados para lidarem com os novos conflitos, de uma sociedade já nitidamente capitalista. Todos os conflitos brasileiros no fundo remetem à questão principal, isto é, o conflito capital versus trabalho.

Correio da Cidadania: Estudiosos, como o sociólogo do trabalho Ruy Braga, referem se a um processo de concessões reais que embasam aquela que é chamada de ‘hegemonia lulista’, basicamente calcada em um consentimento passivo das bases sociais e em um consentimento ativo por parte das direções sindicais, o que teria sido a base para um forte desmobilização nos anos Lula. Como encara hoje o que se chama de ‘lulismo’ e tantas tentativas de se entender este que seria quase um conceito?

Chico de Oliveira: Acho que o Ruy Braga e o André Singer são hoje os melhores analistas desse fenômeno apelidado de lulismo.

O lulismo é grave. É um movimento de cooptação da classe trabalhadora, comandado pelo seu expoente máximo. Como disse certa vez o velho gaúcho Leonel Brizola, com muita amargura, mas precisão quase sociológica, “o lulismo é a esquerda que a direita pediu”. É isso, um movimento de apaziguamento de conflitos, de contenção da classe trabalhadora, apaziguamento e rendição às classes dominantes.

Correio da Cidadania: À luz desse entendimento, qual é o vigor e/ou importância que você considera ter hoje este ‘lulismo’? Como ele tem sobrevivido ao governo Dilma e como se interconecta à própria massividade dos protestos populares em 2013?

Chico de Oliveira: O lulismo não tem muito fôlego. Não é um movimento que possa se tornar algo como o varguismo aqui, ou o peronismo na Argentina. Não deve durar além do governo Dilma.

Felizmente, o lulismo passará, mesmo porque o Lula, apesar de sua envergadura política, não tem a estrutura de um movimento de massas como o associado aos dois fenômenos que citei. Podemos ficar tranquilos.

Correio da Cidadania: Faria alguma diferença entre Lula e Dilma em suas respectivas conduções política, econômica e social da nação?

Chico de Oliveira: É evidente. A Dilma não tem os requisitos e carisma que o Lula encarnou tão bem. Por isso ela, também por sua fraqueza, é monitorada o tempo todo pelo próprio lula, que não a deixa governar como talvez pudesse ter feito, se assim quisesse. A diferença entre ambos é marcante, e não se deve tanto a defeitos da Dilma. Deve-se, muito, à sombra que o lulismo projeta sobre toda a política nacional.

Correio da Cidadania: Qual a sua opinião quanto ao cenário eleitoral que se está armando para 2014? Arrisca, ademais, algum palpite?

Chico de Oliveira: Está se desenhando que a Dilma, com todas as dificuldades, nada de braçada. E o PSDB, principal partido de oposição, é tão fraco que está sendo ofuscado até pela dupla Marina Silva-Eduardo Campos. Aqui, não precisa ser sociólogo. Basta acompanhar os jornais pra entender que a eleição já está decidida. A oposição tucana será pavorosa.

Correio da Cidadania: Acredita que haja espaço nesse cenário para a entrada de uma esquerda que apresente novidades e receba atenção do grande público eleitor?

Chico de Oliveira: Não, não tem nenhuma chance. Deve continuar fazendo seu papel, que é a crítica, sobretudo ao sistema. Mas não tem nenhuma chance de influir positivamente nesta eleição.

Correio da Cidadania: E o que senhor considera ‘esquerda’ no atual momento?

Chico de Oliveira: Isso é uma definição que nem uma reunião de todos os sábios do mundo será capaz de fazer. É a esquerda e ponto.

Correio da Cidadania: O que espera para a economia mundial e nacional nos próximos tempos, após um período de evidente desaceleração e/ou baixo crescimento que têm vitimado a Europa, os Estados Unidos e a nações em desenvolvimento, na Ásia, África e América Latina, o Brasil dentre elas?

Chico de Oliveira: A economia capitalista se move em ciclos. Isso é clássico desde o século 19, de modo que não há muita previsão a ser feita. É bobagem. A economia continua tendo seus ciclos de altas e baixas, dependendo dos estímulos de ação dos seus atores centrais. E os economistas têm aí seu Waterloo, pois qualquer previsão é de naufrágio.

Correio da Cidadania: Você possui uma visão esperançosa para o futuro das movimentações sociais que vêm rondando o mundo, desde a primavera árabe até a grande quantidade de movimentos ‘Occupy’ que têm varrido diversos países, passando por alguns protestos massivos na Europa e, agora, os do Brasil em 2013?

Chico de Oliveira: Não tenho esperança, sou sociólogo e cidadão, não vivo de esperança. Estou aqui observando movimentos da sociedade. O máximo que se pode dizer é que, entre fluxos e refluxos, esse movimento se repetirá. Qualquer tentativa de previsão para além de generalidades tende a fracassar.

Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

Entidades aprovam ações contra a reunião dos BRICS, campanha pela eleição da Fifa como pior empresa e mobilizações no período da Copa

Não dá pra deixar que essa Copa do Mundo aconteça no Brasil sem que o povo vá às ruas denunciar o verdadeiro “Padrão Fifa” que vem sendo imposto em nosso país

 As mobilizações de junho indicaram: “Da Copa eu abro mão, quero dinheiro pra saúde e educação”; O ânimo dos trabalhadores e as lutas permanecem e, com a proximidade do evento, torna-se ainda mais necessário fortalecê-las, afinal, segue a crise econômica internacional, bem como os seus reflexos em nosso país. O governo já percebeu que as lutas se intensificarão em 2014, por isso vem apontando medidas que criminalizam as lutas e os ativistas dos movimentos sociais.


Para discutir essa situação e pensar iniciativas, ocorreu, no último dia 14, uma reunião no Rio de Janeiro, com a presença de diversas entidades. Organizada pelo Jubileu Sul e a ANCOP (Articulação Nacional dos Comitês dos Atingidos pela Copa), a reunião contou com a participação da CSP-Conlutas, e também estiveram presentes as representações da ANCOP de diversos estados – Bahia, Paraná, Ceará, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro e o Distrito Federal -, assim como o MPL-RJ, CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), MTST, o Grito dos Excluídos de Porto Alegre (RS), o Sindicato dos Petroleiros do Rio, a CSP-Conlutas/RJ, entre outras entidades.

  

Campanha Fifa, a pior! 
Na reunião, duas iniciativas prioritárias foram aprovadas. Uma delas é fortalecer a campanha da eleição da Fifa como pior empresa do mundo. A votação é referente ao prêmio Public Eye Awards, criado em 2000. Conhecido como o “Nobel” da vergonha corporativa mundial, que apresenta uma lista com indicações das piores empresas do mundo, escolhida por voto popular em função de problemas ambientais, sociais e trabalhistas. O resultado é apresentado durante o Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos.


Desta vez, a Fifa, entidade que administra o futebol mundial e organiza a Copa do Mundo, disputa entre as oito companhias a votação de 2014. A entidade presidida por Joseph Blatter é acusada de incentivar violações de direitos e mau uso de dinheiro público nos países que recebem o megaevento, em favorecimento de empresas parceiras e com anuência de governos locais.


A campanha pela eleição da Fifa como pior empresa já começou. A votação é eletrônica. Está em sites e redes sociais. Assim como já fizeram a ANCOP e o Jubileu Sul, a CSP-Conlutas se integra à campanha e convoca a todos os militantes ligados à Central para que participem e votem. As orientações estão no nosso site e nas redes sociais – página da Central no Facebook, nos grupos e no Twitter.


O dia 13 de janeiro foi definido como um dia nacional de coleta de votos e agitação da campanha. Para isto orienta-se que se façam panfletagens, coleta de assinaturas, organização de pontos de votação eletrônica em locais públicos; também no dia 16 de janeiro será feito um Twittaço.

Para votar, siga as orientações ao fim da página


Contra-Cúpula dos BRICS 
Outra atividade importante são os protestos na reunião dos BRICS. O governo federal ainda mantém indefinido o local da realização do evento, se em Fortaleza ou em Brasília. Sobre esse tema, a reunião definiu o seguinte encaminhamento:


- Ato público contra as agressões ao povo pobre e a criminalizações dos movimentos sociais em virtude da realização da Copa do Mundo em nosso país no local da realização da Cúpula dos BRICS;


- Organizar um curso de formação sobre o tema “Banco dos BRICS”, paralelo a realização da Cúpula;


- Realizar, nos mesmo período e local, uma Plenária nacional dos Atingidos pela Copa com a participação de atingidos por grandes projetos.


- Ficou ainda definido o dia 15 de maio como Dia Nacional de Mobilização contra as agressões ao povo pobre e a criminalizações dos movimentos sociais, em virtude da realização da Copa do Mundo em nosso país.


A CSP-Conlutas fortalecerá e buscará integrar-se no apoio a todas essas iniciativas orientado, desde já, seus ativistas a se incorporarem nas articulações nos estados, intensificar a divulgação e votação na Fifa como pior empresa do mundo e organizar sua participação no ato público que será realizado durante a reunião dos BRICS, e juntamente com os parceiros do “Espaço de Unidade de Ação”, do Jubileu, da ANCOP e seus comitês, a Central buscará planejar as ações para o período da Copa.


“O desafio é ampliar a unidade entre todos os que estejam dispostos a construir um calendário de mobilização para o período de realização da Copa do Mundo, vamos fazê-lo em defesa dos direitos de nossa classe e contra a criminalização dos movimentos sociais; Precisamos enfrentar e denunciar a absurda ‘Lei da Copa’ que, combinada com a chamada ‘Lei Antiterror’, tenta nos impor um verdadeiro estado de exceção, e dão ainda mais condições para criminalizar as nossas lutas, como pretendem a Dilma, os empresários e os governos estaduais”; é o que diz Atnágoras Lopes, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas que, juntamente com Miguel Leme (também da Executiva) representou a Central nessa reunião.


No dia 21 de março ocorrerá a reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas, e é prevista a participação de centenas de ativistas de todo país para atualizar as discussões e encaminhamentos das mobilizações do primeiro semestre de 2014 que, além do calendário acima, incluem as campanhas salariais de diversas categorias (como a dos Servidores Públicos Federais que já tem pauta e calendário)  a luta contra as opressões, em defesa da moradia, luta pela terra e reforma agrária e em defesa da educação pública, entre outras tantas batalhas.


Pior empresa do mundo: Vote FIFA!

É sempre assim: a FIFA põe governos e parlamentares de joelhos, viola direitos, come nosso dinheiro, explora nossa força de trabalho, desrespeita nossa cultura. Depois vai embora, com lucros bilionários para si e seus patrocinadores, ignorando todos os prejuízos deixados para a população dos países-sede. Mas no Brasil, algo novo aconteceu: durante a Copa das Confederações, a população se levantou contra uma série de absurdos, e um dos motivos foi justamente a atuação da FIFA em conchavo com governos e empresas.


Ainda assim, a FIFA continua tentando vender uma imagem de melhorias para os países-sede. Agora, para começar bem o ano da Copa, queremos dar à FIFA o prêmio de pior empresa do mundo – o Public Eye Awards, conhecido como o “Nobel” da vergonha corporativa mundial. É uma forma de manchar sua imagem, constranger seus patrocinadores e alertar a população de todos os países. Seu voto pode desmascarar a FIFA



Ocupações se espalham pelo país. Em São Paulo, mobilização reuniu 10 mil trabalhadores sem-teto.

O MTST segue em luta até em época de recesso!
Mobilizamos quase 10 mil trabalhadores sem-teto na cidade de São Paulo na quarta-feira, 11 de dezembro. Eram moradores das ocupações Nova Palestina, Dona Deda, Capadócia, Estaiadinha, Vila Andrade, dentre outras,
Fomos até a Prefeitura para cobrar do Prefeito Fernando Haddad respostas às demandas do Movimentos. Apresentamos à Sehab há cerca de dois meses 10 indicações de terrenos para construção de moradias, incluindo 3 ocupados. Não houve nenhum retorno no período.
Seguimos fazendo luta em vários locais do país, como Distrito Federal, Roraima, Rio de Janeiro, Tocantins e Roraima.
Mantemos nossos ideais ombro a ombro com os companheiros que integram aFrente de Resistência Urbana, com movimentos do país todo!
E garantimos que 2014 será um ano inesquecível de lutas, onde os trabalhadores sem-teto mostrarão sua cara em um ano de Copa onde os poderosos querem é que os pobres não apareçam em cena.
MTST! A LUTA É PRA VALER!
CRIAR! CRIAR! PODER POPULAR!

"2013 é o pior ano da Reforma Agrária", diz João Paulo Rodrigues

Por Luiz Felipe Albuquerque
Da Página do MST

O ano de 2013 não deixará saudades aos Sem Terra de todo o país. No que tange a luta pela terra, o balanço é positivo, já que as mobilizações, marchas e ocupações de terras e prédios públicos aconteceram praticamente durante o ano inteiro.

Mas no que se remete à política de Reforma Agrária, quase nada se fez, sendo que em muitos casos o governo teve a proeza de andar para trás. Essas são as avaliações de João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, sobre a política agrária estimulada pelo governo federal durante todo esse ano.    

Como consta Rodrigues, algo que sempre esteve ruim nesse governo conseguiu piorar ainda mais. “Até agora, só 159 famílias foram assentadas em todo o país. É uma vergonha. Não passam de 10 os imóveis desapropriados pelo governo Dilma. Pior que o último governo militar do general Figueiredo, quando foram desapropriados 152 imóveis”, destaca. 

Confira a entrevista: 

Como você avalia a luta pela terra em 2013 num período de completa paralisia da Reforma Agrária?

Apesar de ter sido um ano completamente negativo em relação à Reforma Agrária, os camponeses seguem firmes na luta pela terra.

Em março, por exemplo, montamos um acampamento permanente em Brasília durante três meses, realizando lutas constantemente na capital federal, como marchas, ocupações de ministérios e atos políticos.

No mesmo mês aconteceu a jornada das mulheres, quando mais de 10 mil camponesas se mobilizaram para exigir o assentamento das 150 mil famílias acampadas em todo país, ocupando terras, empresas de agrotóxicos, prédios públicos, fazendo marchas e trancando rodovias. 

Logo na sequência, no mês de abril, os Sem Terra fizeram outra jornada de caráter nacional, com mobilizações em 19 estados mais no Distrito Federal. Novamente trancaram dezenas de rodovias, ocuparam mais terras, prédios públicos, prefeituras e realizaram marchas e atos políticos por todo o país. 

Em junho e julho o Movimento se somou às manifestações que saíram nas ruas das principais cidades do país trancando diversas rodovias. Nessa onda, a juventude Sem Terra organizou sua jornada de lutas no começo do mês de agosto. No final desse mês, o conjunto do Movimento realizou, junto às centrais sindicais, uma mobilização nacional, com as centrais realizando greves e paralisações nas cidades, enquanto nós do campo trancávamos as rodovias.

No mês de outubro mais de 12 estados se mobilizaram em torno da Jornada Unitária por Soberania Alimentar, quando mais uma vez a população do campo promoveu marchas, ocupações de terras e prédios públicos. Nesse mesmo mês, a jornada dos Sem Terrinha repautou a luta no campo e necessidade da Reforma Agrária, ocupando ministérios e secretarias estaduais. 

Tudo isso só para falar das lutas de caráter nacional, sem contar as lutas regionais, nos estados. Ou seja, falar que não há mais luta no campo é uma grande mentira.

E onde entra a questão da Reforma Agrária?

Aí é que vem o grande problema, com um balanço extremamente negativo. Trata-se do pior ano da Reforma Agrária. O governo Dilma, que sempre esteve péssimo nessa questão, conseguiu piorar ainda mais. Até agora, só 159 famílias foram assentadas em todo o país. É uma vergonha.

Não passam de 10 os imóveis desapropriados pelo governo Dilma. Pior que o último governo militar do general Figueiredo, quando foram desapropriados 152 imóveis. 

Outro grave problema é o que o governo federal está chamando de “emancipação dos assentamentos”, passando o título dos lotes para os assentados. Na prática, isso serve para o Estado deixar de ter responsabilidade sobre as famílias. Mas o pior é que essa política vai criar uma contra Reforma Agrária, já que grandes fazendeiros passariam a pressionar os assentados para que vendessem seus lotes, colocando tudo por água abaixo e aumentando ainda mais a concentração da terra no país.    

E a que se deve essa dificuldade em avançar na Reforma Agrária?

Podemos citar duas grandes questões cruciais.

A primeira é o fato do governo estar completamente refém da Bancada Ruralista, a maior frente no Congresso Nacional. São 162 deputados e 11 senadores, sem contar a legião de adeptos de última hora.

Só para se ter uma dimensão do problema, por mais absurda que seja a pauta desse setor, eles estão conseguindo sair vitoriosos em todas, mesmo em propostas inconstitucionais. 

Podemos pegar desde o estrangulamento do Código Florestal, passando pela alteração da PEC do Trabalho Escravo, o retrocesso sobre a legislação referente à demarcação de terras indígenas, a criação de uma comissão especial para liberar com maior facilidade novos agrotóxicos – ignorando o trabalho de avaliação da Anvisa e do Ibama - e a liberação de novas sementes transgênicas.

Nenhuma dessas propostas é de interesse da sociedade brasileira. Todas são exclusivamente dos interesses particulares desse setor e estão sendo vitoriosas. A Bancada Ruralista é um câncer no povo brasileiro.

A outra questão é a ilusão do governo em relação ao agronegócio. As grandes exportações de commodities promovidas por esse setor permitem ao governo a manutenção da política de geração sistemática de superávit primário, garantindo o destino de recursos orçamentários para o setor financeiro, como o pagamento de juros e serviços da dívida pública, o que é lamentável.

Mas ao mesmo tempo tem se criado algumas políticas públicas para a agricultura familiar e camponesa.  

Primeiro é muito importante ressaltarmos que todas as políticas públicas são conquistas das lutas dos movimentos sociais. Lutamos pela garantia da compra de alimentos e conquistamos o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Lutamos pela educação no campo e conquistamos o  Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).

Lutamos pela agroindustrialização da nossa produção, e conquistamos o Programa Terra Forte. Lutamos por um outro modelo de agricultura, e conquistamos o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica - Brasil Agroecológico. Isso só para constar alguns exemplos.

No entanto, temos em mente que embora essas medidas sejam importantes, elas também têm seus limites. São muito desproporcionais se comparadas com os investimentos destinados ao agronegócio. Para se ter uma idéia o Plano Safra 2013/2014 da agricultura familiar representa pouco mais de 20% em relação ao que é destinado a agronegócio.

Além disso, contamos com essas políticas públicas hoje, mas nada nos garante que poderemos contar com elas amanhã. Uma simples troca de governo, por exemplo, pode acabar com todas as nossas conquistas.  

O que é preciso fazer, então?

É preciso priorizar a produção camponesa e familiar, e não tratá-las como algo secundário. O governo precisa entender que a única solução à pobreza é uma ampla Reforma Agrária, criando milhares de empregos no campo. Ao contrário disso, resta apenas o inchaço dos grandes centros urbanos e a favelização das periferias ao redor dessas grandes cidades.   

Ou seja, mudar a lógica e a estrutura da produção agrícola no Brasil. A própria FAO reconheceu que a única saída à crise ambiental e a garantia da soberania alimentar está na agricultura familiar. Quem disse isso foi o José Graziano, diretor da FAO. Tanto é que 2014 será o Ano Internacional da Agricultura Familiar pela ONU. 

Mas por que ambos os modelos de agriculturas não podem ser conciliadas?

São modelos que se contrapõem em sua lógica e essência. A ganância do agronegócio junto aos seus gigantescos recursos econômicos inviabiliza outro tipo de agricultura, pois sempre buscarão incorporar as terras dos camponeses e os recursos naturais ao seu modelo de produção de commodities.

Para se ter uma idéia, nas duas últimas décadas mais de 6 milhões de pessoas foram expulsas pelo agronegócio no campo brasileiro. E foram para onde? Para as favelas dos grandes centros urbanos. O agronegócio não gera emprego, já que mais de 70% da mão de obra empregada no campo é da agricultura familiar, e se apropria das pequenas e médias propriedades, uma vez que a concentração de terras no Brasil segue aumentando ano a ano.

No âmbito da produção de alimentos básicos do povo brasileiro a situação também é gravíssima. De 1990 a 2011, as áreas plantadas com alimentos básicos como o arroz, feijão, mandioca e trigo declinaram entre 20 a 35%, enquanto os produtos nobres do agronegócio, como a cana e soja, aumentaram 122% e 107%. E tudo voltado à exportação. Estamos tendo que importar até arroz e feijão da China. Isso é alarmante.

Em fevereiro de 2014 o MST realizará seu 6° Congresso Nacional. O que o Movimento pretende com essa atividade?

Nele consolidaremos nossa proposta em torno da Reforma Agrária Popular. Mais do que nunca a Reforma Agrária é urgente e necessária. No entanto, é uma Reforma Agrária de novo tipo, o que chamamos de Popular.

Entendemos que a Reforma Agrária não é mais uma política voltada apenas para a população do campo. Ela é urgente e necessária para o conjunto da sociedade como um todo. 

Se quisermos comer um alimento cheio de veneno que nos dará câncer, se quisermos cultivar uma produção que destrói o meio ambiente e contribui com a crise climática, expulsa os camponeses do campo aumentando a população pobre das grandes cidades, então a Reforma Agrária de fato não é necessária.

Mas se quisermos, por outro lado, um modelo produtivo que concilie sua produção com a preservação ambiental, que o povo brasileiro tenha alimentos saudáveis e sem agrotóxicos, que a miséria e a pobreza deixem de existir em nosso país, então ela nunca se fez tão necessária.

Por isso, temos que mostrar sua importância à sociedade para que o conjunto da classe trabalhadora ajude na realização da Reforma Agrária Popular, que só será possível com uma ampla reforma no sistema político.

E quais as perspectivas da luta para o próximo período?

Nesse último período, construímos e ampliamos a unidade entre todos os movimentos sociais do campo, com os olhos voltados para um programa de agricultura que realmente interesse ao povo brasileiro. E isso tende a se fortalecer cada vez mais.

Paralelamente a isso, aumentam as evidências das contradições do modelo do agronegócio, como sua destruição do meio ambiente, o enorme uso de agrotóxicos e a insegurança quanto aos preços dos alimentos.

Além disso, fruto das grandes lutas desse ano, as organizações sociais construíram o Plebiscito Popular por uma profunda reforma política em 2014, que permitiria mudar drasticamente o quadro atual.