quarta-feira, 2 de abril de 2014

50 anos do golpe: ato no DOI-Codi pede punição aos torturadores e desmilitarização da polícia

O DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna), considerado um dos principais centros de repressão e tortura na ditadura militar, foi palco nesta segunda-feira, 31 de março, da lembrança de seus mortos e dos tantos que lutaram contra a ditadura brasileira.     Um ato que reuniu cerca de 500 pessoas lembrou as atrocidades cometidas pelo regime militar. Momentos emocionantes tomaram conta dos presentes. Entre eles, durante a leitura de um manifesto, e voz uníssona por todos os presentes.     “Hoje, 31 de março de 2014, completam-se 50 anos do golpe que implantou a ditadura militar brasileira, que atingiu violentamente nosso povo por longos 21 anos. Mais de 70 mil pessoas foram presas e perseguidas e 437 foram mortas e desaparecidas, de acordo com levantamento realizado por familiares das vítimas nas últimas quatro décadas. 

Esse número pode chegar a milhares se considerado o extermínio de indígenas a mando dos governos militares”, começava assim o manifesto cuja leitura era encabeçada por Amelinha Teles, ex-presa política e torturada; Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva; e Ivan Seixas, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP), também ex-preso político e torturado nas áreas do DOI-Codi, assim como Amelinha.     Durante a leitura do texto podia-se observar vozes embargadas e muito com lágrimas escorrendo pelo rosto.   Foi denunciada a tortura naquele prédio do DOI-Codi, onde estima-se que pelos menos 56 pessoas morreram, e também o financiamento de empresas para essas torturas e perseguições. “A prática de tortura e de outros crimes contra a humanidade foi generalizada e sistemática. Este prédio é a clara demonstração disso, pois era possível ouvir, do lado de fora, o grito das pessoas torturadas por horas e dias seguidos. O terrorismo de Estado, executado pela ditadura, teve o comando do alto escalão das Forças Armadas e foi financiado diretamente por muitos empresários e suas entidades, que se beneficiaram com a ditadura militar e ainda hoje estão na elite econômica do país e na estrutura do Estado.”     

O manifesto não se referiu somente ao passado, relacionando os resquícios da ditadura nas ações violentas que ocorrem hoje nas periferias e na criminalização dos que lutam. “A cultura da morte praticada pelas Polícias Militares é continuidade do que fizeram os assassinos do DOI-CODI, com a mesma falsa versão de resistência seguida de morte para ocultar o extermínio de jovens negros e pobres das periferias de nossas cidades. A banalização da violência por parte da PM é a pior herança da ditadura militar. Além disso, há as propostas de reformas legislativas conservadoras como a Lei Antiterror e a Portaria denominada “Garantia da Lei e da Ordem” que ressuscitam a legislação ditatorial e restauram a figura do “inimigo interno” contida na Lei de Segurança Nacional”, uma denúncia de como o governo federal vem tratando a repressão atualmente.       Por fim, o documento, assinado por mais de 140 organizações, exigia entre outras reivindicações a identificação e punição dos torturadores, estupradores, assassinos, mandantes, financiadores e ocultadores de cadáveres, assim como a desmilitarização das Polícias e rompimento do ciclo de violência perpetuado pelas corporações.   Os cartazes com imagens de vítimas do regime militar também foram marcantes durante o ato. Esses cartazes por diversos momentos foram levantados, inclusive quando foi lido os nomes dos que morreram nas dependências do DOI-Codi.   

Apresentações musicais e teatrais com referências à ditadura foram aplaudidas por todas. Um destaque para os grupos teatrais da periferia Cara e Coragem que aproveitou a oportunidade para homenagear o grupo teatro Popular e União Olho Vivo dirigido pelo conhecido advogado de presos políticos Idibal Piveta, que também esteve ato.   Por fim, aproximadamente às 13h se encerrava o ato político, iniciado por volta das 10h. Reencontros e abraços expressavam a emoção dos muitos que lutaram contra a ditadura militar e hoje cobram que o governo transforme que o DOI-Codi seja convertido em um lugar de memória.    

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