domingo, 26 de maio de 2013

Audiência Pública sobre o deficit habitacional no Tocantins

Como desdobramento da marcha unificada dos movimentos populares do Tocantins, será realizado nesta terça-feira (28/05) ás 14h na Assembléia Legislativa do Tocantins, uma audiência pública para discutir o deficit habitacional no estado. Segue abaixo a pauta dos movimentos sociais que serão apresentado aos deputados e demais autoridades.

É importante a presença de todas as organizações de luta da classe trabalhadora tocantinense para discutir e fortalecer essa importante mobilização que vem sendo realizada de forma pioneira no Tocantins.

Carta dos Movimentos Sociais do Tocantins 

Palmas-TO, 28 de Maio de 2013

Senhores Deputados e demais autoridades,

Conforme dados do governo do Tocantins, atualmente o estado convive com um deficit habitacional de  90.604 (Noventa Mil Seiscentos e Quatro) moradias, e só em Palmas, mas de mil sem tetos moram nas piores condições.

É imprescindível a participação da sociedade civil organizada na luta para reduzir esse gigantesco deficit habitacional, mas é necessário que o poder público estadual estimule a participação dos movimentos populares que já foram  reconhecidos pelo Ministério das Cidades que está liberando recursos para essas entidades produzir habitação de excelente qualidade no Tocantins.

Segue nossa pauta de reivindicação junto ao governo estadual:

1- Entrega imediata de 800 lotes no setor Taquari para as famílias organizadas pelo MTST, famílias essas que hoje estão ocupando uma área no setor União Sul em Palmas-TO.

2- Desafetação da quadra AVNO 51, passando de área verde para área residencial e comercial, para produção de habitação de interesse social em parceria com os movimentos de luta por moradia no Tocantins (MTST, MNLM, CONAM, UNMP, OPM).

3- Disponibilização de 50% das áreas ALCNO 13, 33 e 43 para produção de habitação de interesse social a ser destinadas ás famílias cadastradas pelos movimentos.

4- Disponibilização aos Movimentos Sociais Urbanos e Rurais de equipe técnica formada por Arquitetos, Engenheiros e Assistentes Sociais para contribuírem na elaboração, aprovação e acompanhamento de projetos de habitação e regularização fundiária.

5- Elaboração do Plano Estadual de Reforma Agrária em Terras Públicas de propriedade do estado do Tocantins em parceria com os Movimentos Populares.

Atenciosamente,

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - MTST
Movimento Nacional de Luta por Moradia - MNLM
União Nacional de Luta por Moradia - UNLM
Organização Popular por Moradia - OPM
Conselho Nacional por Moradia - CONAM
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST
Movimento dos Atingidos por Barragem - MAB

O poder das corporações que controlam o comércio dos agrotóxicos


O tema agrotóxico vem sendo tratado nas últimas décadas, por organizações ambientais, universidades e entidades científicas, como um dos assuntos mais complexos e preocupantes quanto aos impactos provocados por seus princípios ativos na dinâmica da biótica planetária. No entanto, embora os alertas tenham sido freqüentes e permanentes acerca dos perigos resultantes do uso de tais substâncias, o que preocupa é o crescimento vertiginoso de novas marcas de herbicidas, fungicidas, inseticidas etc., liberadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o combate às “pragas” - porém, quando ingeridas pelo ser humano através dos alimentos, produzem alterações significativas no genoma humano, contribuindo para o aumento da incidência de doenças degenerativas, dentre elas, o câncer.

Foi a partir do fim da segunda guerra mundial que grandes empresas fabricantes de armamentos e substâncias químicas usadas para enfrentar os inimigos, dentre eles o gás mostarda e o desfolhante laranja, como forma de evitar a ruína financeira, reformularam seus parques industriais, passando a fabricar tratores e implementos agrícolas em vez de tanques; agrotóxicos para uso agrícola em vez de gás mostarda para uso bélico. Começava aí a longa e paradoxal epopéia de um novo modelo de agricultura, que rapidamente se espalharia por toda a Europa e os Estados Unidos e que chegaria ao Brasil a partir do começo da década de 1960, com a denominada “Revolução Verde”. Com a política desenvolvimentista adotada pelo regime militar, cuja proposta era expandir a fronteira agrícola em direção ao Centro Oeste e Norte do Brasil, transformando o país em um dos principais celeiros agrícolas mundiais, dezenas de corporações multinacionais ligadas às commodities foram atraídas, encontrando aqui ambiente propício para multiplicar suas fortunas e também se tornando co-responsáveis pela degradação de todo um ecossistema.

País do agrotóxico

A idéia de tornar o Brasil principal fornecedor de commodities, de recursos naturais e produtos agrícolas continuou pairando no imaginário das autoridades e do agronegócio até os dias atuais. Acreditava-se que, com a ascensão de governos populares, como a que ocorreu em 2002 com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, haveria uma transformação significativa nas políticas que vinham sendo adotadas na área econômica, abrindo caminhos para um grande debate nacional a fim de discutir qual o tipo de desenvolvimento melhor se adequaria aos interesses da maioria da sociedade brasileira. Tanto não aconteceu, como foram mantidas as mesmas políticas dos governos anteriores, e com um agravante: intensificou-se a degradação do ecossistema brasileiro com as políticas de incentivo ao agronegócio, de uso de agrotóxicos, de construção de barragens na Amazônica e de desestruturação das sociedades tradicionais, indígenas e quilombolas.

As políticas de incentivo ao agronegócio vêm cada vez mais aguçando os interesses de grandes companhias transnacionais ligadas à produção e comercialização de máquinas agrícolas, fertilizantes e “defensivos” agrícolas, que encontram no Brasil um porto seguro para multiplicar seus ganhos financeiros. Com todas as facilidades oferecidas pelo Estado às multinacionais ligadas ao agronegócio, e com a fragilidade dos órgãos fiscalizadores, um mercado paralelo ligado aos agrotóxicos também vem criando corpos mediante o aval de organismos públicos - Anvisa e Embrapa - e privados, que fazem vistas grossas quando da liberação a comercialização de substâncias tóxicas para uso agrícola, proibidas nos seus países de origem.

Para se ter noção da dimensão desse mercado, nos últimos três anos, o Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos, perto de um bilhão de litros utilizados, um crescimento de 190% em dez anos. Soja, cana-de-açúcar, algodão, tabaco e eucalipto são as variedades agrícolas que lideram no consumo de agrotóxicos. Nesse conjunto, destacam-se os agrocombustíveis e as espécies exóticas empregadas no reflorestamento (pinos e eucaliptos) ou para a queima nos fornos das siderúrgicas de ferro-aço.

Um dado estarrecedor é em relação ao volume de agrotóxicos movimentados no segundo semestre de 2012. Do total de 936 mil toneladas comercializadas, 833 mil foram produzidas no Brasil; o restante, 245 mil, foi importado. Somente as lavouras de milho, soja, algodão e cana-de-açúcar absorveram 80% do volume total comercializado. Em comparação aos demais países, em 2010 o Brasil comercializou 19% do total global de agrotóxicos, movimentando cifras equivalentes a US$ 7,3 bilhões. Este percentual garante ao Brasil um triste título de maior consumidor do planeta, ficando atrás apenas dos EUA, que movimentaram 51,2 bilhões de dólares. Entre as variedades de agrotóxicos com maior demanda agrícola, os herbicidas são os preferidos, representando 45% do total comercializado. Em segundo plano, estão os fungicidas, com 14%, inseticidas, 12%, e os demais, que, juntos, totalizam 29%. No ano de 2011, dos 75 milhões de hectares plantados com culturas temporárias - soja, cana-de-açúcar, milho e algodão - e as permanentes - cítricas, café, frutas e eucaliptos -, o montante consumido chegou a 853 milhões de litros de agrotóxicos, sendo 12 litros por hectare ou 4,5 litros por habitante.

De acordo com dados do IBGE, entre os anos de 2002 a 2011, o consumo de pesticidas em milhões de litros saltou de 599,5 milhões para 852,8. Já o mercado de fertilizantes, que era de 491 milhões de litros, passou para 674,3. Diante desse quadro ameaçador, a flexibilização da legislação federal e do próprio código florestal, patrocinada pela bancada ruralista, que representa o agronegócio, tornando legal o cultivo e comercialização de espécies transgênicas, vem provocando discussões acaloradas quanto aos riscos dessas variedades modificadas para espécies da fauna, flora e a saúde humana. O que é visível nesse imbróglio legislativo são os lobbies patrocinados por grandes companhias que controlam as pesquisas e patentes das sementes e dos agrotóxicos. Além do mais, as mesmas empresas que são detentoras dos monopólios das variedades modificadas, especialmente das sementes de soja, dominam o mercado dos agrotóxicos, do fungicida glifosato, que é aplicado no combate da ferrugem asiática.

Dentre as variedades agrícolas cultivadas no Brasil, a soja participou com 40% do volume dos herbicidas, fungicidas, inseticidas, acaricidas entre outros, vindo em seguida o milho, com 15%; cana-de-açúcar e algodão, com 10%; cítricos, com 7%; café, trigo e arroz, com 3%; feijão, com 2%; pastagem e tomate, com 1%; maçã, com 0,5%; banana, com 0,2%; e demais culturas, com 3,3%. Sobre os registros no Ministério da Saúde e do Meio Ambiente, são 434 ingredientes ativos e 2.400 formulações. Dos 50 tipos de agrotóxicos mais utilizados nas lavouras do Brasil, 22 deles estão proibidos na União Européia. Em relação ao percentual de aplicação nas lavouras entre os estados da federação, o Mato Grosso do Sul lidera o ranking com 18,9%, ficando à frente de São Paulo, com 14,5%; Paraná, com 14,3%; Rio Grande do Sul, com 10,8%; Goiás, com 8,8%; Minas Gerais, com 9%; Bahia, com 6,5%; Mato Grosso, com 4,7%; Santa Catarina, com 2,1%; e os demais juntos somam 10,4%.

De acordo com as estimativas de crescimento das commodities/produtos primários, para 2020 a 2021, haverá um acréscimo significativo do consumo de agrotóxicos para três lavouras específicas: a soja, 55%; milho, 56,46%; e cana-de-açúcar, 45,8%. Análises laboratoriais realizadas em 63 amostras de alimentos apresentaram contaminações por metais pesados. Do total de ingredientes ou princípios ativos analisados, 28% deles não são autorizados pela Anvisa. As pesquisas comprovam que, nos últimos trinta anos, o governo brasileiro lançou quatro portarias visando a legalização de agrotóxicos para uso agrícola. A primeira delas ocorreu em 1977, quando foram homologados 12 tipos; em 1990, foram 13; em 2004, foram 22 tipos; enquanto que, em 2011, o governo legalizou 27. Portanto, entre a primeira e a última portaria, houve um aumento de novas marcas que superou 100%.

Mercado em expansão

Durante algum tempo o problema dos agrotóxicos era exclusivo das regiões centro sul do Brasil. Atualmente, a incidência de tais substâncias vem se espalhando para outras regiões do Brasil, dentre elas o Nordeste, que tem na fruticultura uma das suas principais matrizes econômicas. Por ser uma atividade que se sustenta graças à irrigação, a aplicação de substâncias tóxicas em quantidades elevadas está agravando a qualidade do solo e dos mananciais hídricos, que abastecem a população da região. Situação semelhante ocorre no Centro Oeste do Brasil, mais especialmente no estado do Mato Grosso do Sul, cujas águas dos rios e a própria chuva vêm apresentando elevadas incidências de contaminação por metais pesados.

Como se não bastasse o problema dos agrotóxicos, está em discussão no Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) a liberação de portaria visando a reutilização de resíduos industriais, como sobras de fundição de siderurgia, para a produção de micronutrientes a serem empregados na produção de fertilizantes agrícolas. O que causa preocupação é a quantidade de metais pesados presentes nos insumos, como chumbo, arsênico, cádmio, mercúrio manganês etc. A pressão de entidades ambientais e científicas contrárias a esta aberração é em decorrência da insustentabilidade da proposta de resolução do Conama.

No primeiro Congresso Mundial de Nutrição e Saúde, ocorrido no Rio de Janeiro em 2012, além das diversas temáticas que foram abordadas no campo da alimentação sustentável, o que marcou o encontro foi o manifesto promovido pelos presentes contrários à resolução do Conama, que tenta liberar a produção de micronutrientes para a produção de fertilizantes a partir de resíduos industriais. Pois, ocorrendo a liberação, intensificará a contaminação do solo e dos alimentos, com impactos imprevisíveis ao ambiente e à saúde humana.  O mercado dos agrotóxicos, insumos e das sementes, além de movimentar cifras bilionárias anualmente, que supera o PIB de vários países, tem a fabricação e comercialização desses produtos controladas por um cartel (acordos entre si) constituído por seis grandes multinacionais - Basf, Bayer, Dupont, Monsanto, Syngenta e Dow. O poder é tanto que, em países com pouca tradição democrática, como o Brasil, muitos dos agrotóxicos e sementes modificadas liberados para comercialização ocorreram mediante acordos públicos envolvendo empresas como a Embrapa, considerada uma das mais conceituadas no campo das pesquisas agropecuárias no mundo.

Em se tratando de Brasil, nas empresas gigantes do agronegócio, 90% dos produtos formulados para a produção de inseticidas, fungicidas, herbicidas etc. são de matéria prima oriunda da China. Outro dado assustador é o modo como são comercializados esses produtos: 44% ocorrem direto com o cliente; 24% vão para a indústria; e 32% têm como destino a revenda. Com base nesses números, o que fica evidenciada é a situação de risco no qual a população brasileira está assentada. Não há como controlar tamanha aberração e o pior de tudo é o desconhecimento quase por completo do teor de toxidade dos alimentos consumidos atualmente pela população. Uma das saídas, como forma de evitar possíveis contaminações, seria procurar caminhos alternativos, como o consumo de orgânicos, porém, os preços cobrados inviabilizam a aquisição dessas variedades, especialmente pela população de baixa renda.

Falta de rigor na regulação

Outro aspecto estarrecedor é quanto ao valor pago à Anvisa pelas multinacionais para registrar um novo produto. A cada nova marca registrada, a Agência reguladora recebe noventa reais. Nos Estados Unidos, o valor cobrado pela EPA chega a 600 mil dólares. Além do mais, lá existem 854 técnicos trabalhando na regularização dos registros de agrotóxicos, enquanto no Brasil o número de profissionais é de aproximadamente 50.

Como foi anteriormente descrito acerca dos oligopólios que controlam o mercado dos agrotóxicos, na área da alimentação, o domínio se dá através do comércio varejista, reunindo três grandes multinacionais – a Nestlé, com 26%, vindo atrás as empresas Coca Cola e Pepsi. Na área dos fertilizantes, o controle é dividido entre a holandesa Bunge, Yara e Mosaic. Um dado importante acerca do mercado dos fertilizantes no Brasil, no começo da década de 1990, empresas estatais como a Fosfértil e Ultrafértil mantinham o controle desse segmento. Com a abertura econômica patrocinada pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello e levada adiante pelos sucessores, as empresas transnacionais vinculadas ao agronegócio encontram no Brasil espaço fértil para expandir seus negócios, aproveitando as vantagens oferecidas pelo Estado mediante subsídios fiscais.

Com essas políticas, abriram-se as portas para que companhias estrangeiras conquistassem no Brasil status de poder capaz de influenciar os poderes legislativos e executivos na regulação de leis menos restritivas, especialmente no que tange a comercialização de fertilizantes e agrotóxicos. Nesse aspecto, diante da concepção de economia sustentável que o governo brasileiro tenta incutir no imaginário social, na defesa de uma alimentação mais saudável e nutritiva, esconde-se uma política perversa e terrorista, dominada por setores agroquímicos, que vêm introduzindo a venda casada de sementes geneticamente modificadas e agrotóxicos.

O argumento utilizado para justificar essas políticas de estímulo à transgenia refere-se à escassez de alimentos em face de forte demanda populacional. O problema, no entanto, não está na escassez, e sim na forma como é distribuído o alimento, onde se privilegiam os países mais ricos, que absorvem maior parcela do que é produzido globalmente. Com isso, o combate à fome e à pobreza extrema exige enfrentamento de suas causas profundas, que estão na forma como tais sociedades foram organizadas, divididas em classes, uma que detém a maior parcela das riquezas produzidas, e outra, que congrega a base da pirâmide social, refém das políticas assistencialistas dos governos e condicionada à dependência da classe dominante. No caso brasileiro, o problema da fome e da miséria está vinculado ao modo como a propriedade agrícola está constituída, controlada por grandes corporações do agronegócio, pautadas numa matriz agrícola baseada na monocultura de exportação.

Pautada numa política de custo-benefício, a introdução dos transgênicos se apresenta como um divisor de água entre o tradicional e o moderno no que tange a cultura de alimentos. É preciso relativizar os argumentos lançados por entidades científicas acerca da segurança do consumo das variedades geneticamente modificadas. Além do fato de a semente passar por um processo de mutação genética, que não se sabe ainda qual o risco que pode provocar nos organismos vivos, há ainda o agravante de que a mesma se torna resistente a certos agrotóxicos.

Epidemia de contaminações?

Em relação às substâncias tóxicas, de acordo com informações do Ministério da Saúde, anualmente 400.000 mil pessoas são contaminadas, totalizando quatro mil mortes. Porém, esses dados são relativos em virtude da precariedade dos órgãos da saúde que monitoram os dados. Muitas pessoas, ao procurarem a unidade de saúde apresentando algum sintoma suspeito de intoxicação, não têm, nos prontuários apresentados, relatos de ingestão ou contaminação por algum tipo de substância proveniente do manejo de agrotóxico. Portanto, admite-se que, de cada indivíduo avaliado com intoxicação, outros cinqüentas ficam de fora. O processo de contaminação do solo, dos alimentos e da intoxicação das pessoas no Brasil é ainda maior quando se sabe que expressiva parcela da população residente no campo, que apresenta baixa escolaridade. Outro fator é a falta de treinamento oferecido para o seu manejo dos instrumentos e aplicação dos produtos. Muitas vezes, por falta de instrução, o agricultor aplica inúmeras vezes o produto no solo, esperando uma resposta imediata. Não tem o conhecimento de que, quando aplicados no solo os aditivos que compõem o produto, como o glifosato, considerado um dos mais comuns, o mesmo sofre transformações moleculares, destruindo por completo os microorganismos responsáveis pela biodegradação - tanto das plantas, como do próprio componente químico, cuja durabilidade ou tempo de vida no solo pode ser pequena, média ou grande.

Também a falta dos microorganismos afeta a qualidade das plantas, tornando-as suscetíveis a novas pragas, cada vez mais resistentes aos venenos, fazendo com que o agricultor faça mais aplicações. Dentre as substâncias mais utilizados estão aqueles cuja composição química é formada pelos “organofosforados”. Análises feitas em abelhas em Itajaí/SC constataram a presença desse componente no seu organismo. Outro exemplo de contaminação ocorreu na cidade de Gavião Peixoto, interior de São Paulo, onde foi presenciada grande mortandade de abelhas. Após análises feitas, constatou-se que as mesmas apresentavam no seu organismo partículas de Fibronil, inseticida utilizado nos canaviais da região.

Em relação às abelhas, esse inseto está no planeta há mais de sessenta milhões de anos, e desenvolveu um sistema mutualista perfeito com os vegetais. São ou eram 40 mil espécies conhecidas no mundo; somente no Brasil esse número chegava a três mil. Das 250 mil variedades de plantas conhecidas e que produzem flores, 90% delas depende dos insetos para a polinização, sendo as abelhas uma das principais responsáveis pela dispersão do pólen. Porém, nos últimos anos, em decorrência do crescimento do uso de veneno na agricultura, vem se registrando o desaparecimento de milhares de colméias, especialmente nos países onde a aplicação de inseticidas e outras substâncias tóxicas têm sido maior, como nos Estados Unidos, alguns países europeus e o próprio Brasil.

Diante desse fenômeno, a EFSA, agência europeia que regula a comercialização de agrotóxicos, exigiu que fossem submetidos a exames três inseticidas da classe dos neonicotinoides produzidos pela Bayer. A entidade reguladora alega que estaria na aplicação desse inseticida uma das possíveis causas pelo desaparecimento das abelhas. Como tentativa de resolver o problema, países como Itália, França, Alemanha e Eslovênia proibiram o comércio dessa substância na agricultura. Além de a contaminação se dar sob a forma indireta, ou seja, mediante pulverização, outro processo que já está se tornado corriqueiro é a comercialização de sementes com veneno, que, ao germinarem, introduzirão no DNA das plantas partículas tóxicas que se acumularão no pólen das plantas.

O problema da fiscalização acerca do comércio dos agrotóxicos no Brasil é imenso, situação essa constatada quando da análise feita em alimentos, onde foi verificada a presença de partículas do agrotóxico “Metamidofós”. O estranho é que tal produto foi proibido na China junto com outros cinco produtos em 2007. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) confirmou que, depois da sua proibição, houve aumento de importação do mesmo em 2008, e os gastos para sua aquisição superaram os 15 milhões de dólares.

Outro ingrediente ativo para vários inseticidas, herbicidas e acaricidas, o “Endossulfam”, considerado muito perigoso, o governo brasileiro proibiu sua importação a partir de 2011. No entanto, mesmo proibido, sua fabricação continuou até 2012, e, mesmo após essa data, a comercialização foi mantida, cujo prazo expirará em 31 de julho de 2013. Portanto, tal ingrediente continua fazendo parte dos agrotóxicos utilizados na agricultura brasileira. O que assusta em relação ao Endossulfam é que partículas desse ingrediente, em contato com o organismo humano, alteram o sistema imunológico, provocando doenças degenerativas como o câncer e lesões no fígado, rins e testículos, reduzindo a fertilidade. Com relação ao Endossulfam, em Petrolina e Juazeiro, municípios do estado de Pernambuco, cuja economia está baseada na fruticultura de irrigação, duas marcas de agrotóxicos que têm como base ativa o Endossulfam estavam entre as mais vendidas.

Como não bastasse o envenenamento da população pelas empresas que controlam o comércio de agrotóxicos, essas mesmas multinacionais jogam toda responsabilidade pela coleta e reciclagem das embalagens para o município ou para os próprios agricultores, que são forçados a promoverem campanhas de tríplice lavagem dos equipamentos e das embalagens dos agrotóxicos. No manuseio dos equipamentos e dos frascos, o agricultor corre novamente o risco de sofrer nova contaminação, como também a contaminação dos mananciais.

A região Centro Oeste do Brasil, onde estão concentradas as nascentes dos principais rios que alimentam o Amazonas e a Bacia do Rio da Prata, sofre com o processo de contaminação proveniente da expansão da fronteira agrícola. Dentre as dezenas de substâncias tóxicas aplicadas na agricultura de milho, algodão, cana-de-açúcar, o DDT faz parte do pacote, produto esse banido no Brasil desde 1985.

Jairo Cezar é professor de História da Escola de Educação Básica de Araranguá/SC

Direitos Humanos: relatório Figueiredo que mostra extermínio de aldeias é encontrado


Depois de 45 anos desaparecido, um dos documentos mais importantes produzidos pelo Estado brasileiro no último século, o chamado Relatório Figueiredo, que apurou matanças de tribos inteiras, torturas e toda sorte de crueldades praticadas contra indígenas em todo o país — principalmente por latifundiários e funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI) —, ressurge quase intacto. Supostamente eliminado em um incêndio no Ministério da Agricultura, ele foi encontrado recentemente no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, com mais de 7 mil páginas preservadas e contendo 29 dos 30 tomos originais.
Em uma das inúmeras passagens brutais e revoltantes do texto, a que o Estado de Minas/Correio teve acesso com exclusividade, um instrumento de tortura apontado como o mais comum nos postos do SPI à época, chamado “tronco”, é descrito da seguinte maneira: “Consistia na trituração dos tornozelos das vítimas, colocadas entre duas estacas enterradas juntas em um ângulo agudo. As extremidades, ligadas por roldanas, eram aproximadas lenta e continuamente”.
Entre denúncias de caçadas humanas promovidas com metralhadoras e dinamites atiradas de aviões, inoculações propositais de varíola em povoados isolados e doações de açúcar misturado a estricnina – um veneno –, o texto, redigido pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia, ressuscita incontáveis fantasmas e pode se tornar agora um trunfo para a Comissão da Verdade, que apura violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988.
A investigação, feita em plena ditadura, a pedido do então ministro do Interior, Albuquerque Lima, em 1967, foi o resultado de uma expedição que percorreu mais de 16 mil quilômetros, entrevistou dezenas de agentes do SPI e visitou mais de 130 postos indígenas. Jader de Figueiredo e sua equipe constataram diversos crimes, propuseram a investigação de muitos mais que lhes foram relatados pelos índios, se chocaram com a crueldade e a bestialidade de agentes públicos. Ao final, no entanto, o Brasil foi privado da possibilidade de fazer justiça. Albuquerque Lima chegou a recomendar a demissão de 33 pessoas do SPI e a suspensão de 17, mas, posteriormente, muitas delas foram inocentadas pela Justiça.

Os únicos registros do relatório disponíveis até hoje eram os presentes em reportagens publicadas na época de sua conclusão, quando houve uma entrevista coletiva no Ministério do Interior, em março de 1968, para detalhar o que fora constatado por Jader e sua equipe. A entrevista teve repercussão internacional, merecendo publicação inclusive em jornais importantes como o New York Times. No entanto, tempos depois da entrevista, o que ocorreu não foi a continuação das investigações, mas a exoneração de funcionários que haviam participado do trabalh o. Quem não foi demitido foi trocado de função, numa tentativa de esconder o acontecido. Em 13 de dezembro do mesmo ano, o governo militar baixou o Ato Institucional nº 5, restringindo liberdades civis e tornando o regime mais rígido.

Preocupação

O vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória, Marcelo Zelic, foi quem descobriu o conteúdo do documento. Ele afirma que, antes de ser achado, o Relatório Figueiredo já havia se tornado motivo de preocupação para setores que estão possivelmente envolvidos nas denúncias. “Já tem gente tentando desqualificar o relatório, acho que por um forte medo de ele aparecer, as pessoas estão criticando o documento sem ter lido”, acusa.

“É espantoso que exista na estrutura administrativa do país repartição que haja descido a tão baixos padrões de decência. E que haja funcionários públicos cuja bestialidade tenha atingido ta is requintes de perversidade. Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos em monstruosos e lentos suplícios, a título de ministrar justiça”, lamentava Figueiredo em uma das páginas recuperadas por Zelic. Em outro trecho contundente, o relatório cita chacinas no Maranhão, em que “fazendeiros liquidaram toda uma nação, sem que o SPI opusesse qualquer reação”.

Fonte: Felipe Canêdo – Correio Braziliense/CUT              

Dieese divulga que número de greves no país em 2012 é o maior em 16 anos


O Brasil teve em 2012 o maior número de greves dos últimos 16 anos, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Foram 873 ocorrências, número que não era alcançado desde 1996, quando a pesquisa identificou 1.228 greves. Em relação a 2011, o aumento foi de 58%.

O Dieese contou 87 mil horas paradas no ano passado, maior nível desde 1990, ano em que os trabalhadores acumularam 117 mil horas de greve.

As principais reivindicações foram reajuste de salário e introdução, manutenção ou melhoria do auxílio alimentação.

Os dados incluem as paralisações, que os pesquisadores chamam de “greves de advertência”, aquelas que são iniciadas já com data para terminar e normalmente duram um dia.

Ao contrário do que se poderia pensar, o aumento do número de greves, neste momento, não está relacionado à piora do mercado de trabalho, mas justamente ao oposto disso. Com o desemprego em baixa, os assalariados se sentem mais seguros para se manifestar. Do outro lado, os empregadores têm mais dificuldade de substituir seus funcionários.

Essa tese fica evidente quando se olha para os resultados alcançados e para as reações das empresas. No balanço do Dieese, nota-se que a maior parte das reivindicações (75%) foi atendida pelo menos parcialmente, ao mesmo tempo em que medidas patronais como desconto de salário ou ameaça de demissão foram mínimas (8% do total).

Em outras palavras, o poder de barganha dos assalariados aumentou, fato que é reforçado também por uma outra pesquisa do Dieese, segundo a qual 95% das negociações coletivas de salários no ano passado terminaram com reajuste acima da inflação. Em 2003, apenas 19% delas tiveram esse resultado.

“Gente que antes não fazia greve porque tinha sensação de insegurança com oemprego, agora está fazendo. Se os salários atrasam, os trabalhadores param mesmo”, disse Rodrigo Linhares, do Dieese.

Setor privado lidera

Os empregados do setor privado fizeram mais greves (53% do total) e foram mais bem sucedidos. Nesse segmento, 85% dos movimentos foram ao menos parcialmente atendidos e em menos de 2% os pedidos foram inteiramente rejeitados. Ainda no setor privado, quase 30% das greves terminaram com o compromisso de que as negociações prosseguissem após a volta ao trabalho.

As colunas somam mais de 100% porque algumas vezes as reivindicações são parcialmente atendidas durante a greve e, ao mesmo tempo, os empregadores dão prosseguimento às negociações após a volta ao trabalho.

O estudo também mostra que a reação dos empresários foi menos incisiva do que a das autoridades públicas. Apenas um terço dos casos registrados no setor privado foi parar na Justiça; no setor estatal, a proporção foi de 41%.

Investimentos

O fato de os assalariados terem obtido sucesso nas negociações coletivas de salário representa uma conquista no curto prazo. A dúvida é se tal situação é sustentável por um período mais longo.

Para que as empresas paguem bem aos funcionários e se mantenham competitivas, é necessário que a produtividade acompanhe os reajustes salariais. Do contrário, as companhias podem perder espaço no mercado internacional.

O governo cortou impostos sobre a folha pagamento de diversos setores, mas essas medidas não foram suficientes, pelo menos até o fim do ano passado, para estimular os empresários a investirem mais. Ao contrário, ao mesmo tempo em que os empregados conseguiram reajustes acima da inflação, os investimentos caíram de 19,3% do PIB (produto interno bruto), em 2011, para 18,1%, em 2012.

Fonte: http://achadoseconomicos.blogosfera.uol.com.br/2013/05/23/pais-tem-maior-numero-de-greves-dos-ultimos-16-anos-diz-dieese/

Todo apoio à greve geral dos trabalhadores bolivianos por aposentadoria integral


Os trabalhadores bolivianos estão em greve geral desde o dia 5 de maio. Já são mais de 15 dias. Eles reivindicam o pagamento integral da aposentadoria e não 60% como quer implantar o governo de Evo Moralez por meio da lei de pensão n º 065.  

Na última sexta-feira (17), uma reunião ampliada de líderes da Central Operária Boliviana (COB), a maior organização sindical do país, determinou uma radicalização da greve com o fechamento de estradas. A decisão ocorreu após nova negativa do governo às reivindicações dos trabalhadores. Foram feitos cerca de 35 bloqueios de estradas e pontos de interrupção em toda a Bolívia, segundo informou o próprio governo nacional à imprensa

“O ampliado da COB decidiu (na madrugada desta sexta-feira) radicalizar a luta de ação, massificar e fortalecer a greve”, informou o líder Juan Carlos Trujillo à agência de notícias AFP. As maiores iniciativas ocorreram em La Paz, sede do governo boliviano.

O governo de pagar uma aposentadoria de 4.000 bolivianos (US$ 578) e a COB exige uma aposentadoria de 8.000 bolivianos (US$ 1.149).

Lá e aqui – Os planos aplicados pelo governo de Evo Morales não são diferentes de planos defendidos em países da América do Sul como Brasil, Argentina e Venezuela. São governos que por mais que digam o contrário, atuam a serviço dos grandes bancos, do agronegócio transnacional e dos empresários. Aos trabalhadores cabe arrocho salarial e retirada de direitos.

Também não são governos diferentes dos europeus que buscam soluções para a crise econômica do capital retirando direitos, salários e empregos da classe trabalhadora.

No Brasil os ataques à aposentadoria já são implementados desde FHC, quando aplicou o tempo de contribuição sobre o tempo de serviço.

Em 2003, o governo Lula chegou a comprar parlamentares corruptos para aprovar a reforma da previdência que prejudicou os servidores públicos. Foi o chamado escândalo do mensalão – os servidores estão em campanha pela anulação da reforma. Também aprovou o fator previdenciário, que acabou com a integralidade da aposentadoria.

E, o governo Dilma tem sim planos de novos ataques. Entre eles, a proposta de substituir o fator previdenciário pela fórmula 85/95 que amplia o tempo para a aposentaria e, pasme, já tem engavetada a fórmula 95/105, em que para se aposentar a soma do tempo de serviço e idade para as mulheres deve atingir 95 anos e para os homens 105.
Todo apoio à greve – Diante de tais ataques dos respectivos governos, é fundamental o nosso apoio à greve geral dos trabalhadores bolivianos. Um apoio que deve estender-se internacionalmente e ser fortalecido pela entidades filiadas da CSP-Conlutas.

A nossa Central já enviou um moção de solidariedade aos trabalhadores bolivianos. Leia:

Compañeros
Juan Carlos Trujillo – Secretário Executivo de Central Operária Boliviana (COB)
Miguel Pérez – Secretário Executivo da Federação Sindical de Trabalhadores Mineiros da Bolivia (FSTMB)
Ronald V. Colque – Secretario Geral dos Sindicato Mixto de Trabalhadores Mineiros de Huanuni (S.M.T.M.H.)
Severino Stallani
Secretario Geral do Sindicato dos Trabalhadores Mineiros de Colquiri

A todos os trabalhadores bolivianos MOBILIZADOS

Nosso apoio  aos trabalhadores bolivianos que lutam por uma aposentadoria justa!

A Central Popular e Sindical – Conlutas (CSP-Conlutas), central brasileira que mantém a independência política absoluta do governo de Dilma Rousseff e prioriza a ação direta dos trabalhadores, declara seu apoio e solidariedade à justa luta da classe trabalhadora boliviana por uma aposentadoria, cuja pensão seja igual a 100% dos salários com base nos últimos 12 dos holerites.

Essa luta pretende mudar a atual lei n º 065 de pensão, que mantém conteúdo neoliberal com regime de capitalização individual, em que os trabalhadores se aposentam com apenas 60% de sua renda.

Entendemos que o governo de Evo Morales atua como o governo da Venezuela, da Argentina, do Brasil: duros com os trabalhadores e subservientes ao agronegócio transnacional e aos empresários.

Por isso, entendemos a importância e a necessidade de os trabalhadores bolivianos levarem essa luta em frente. É hora de fazer valer a solidariedade internacional para fortalecer nossas reivindicações em cada país e internacionalmente.

Então, enviamos para todos os trabalhadores bolivianos, nossos irmãos de classe, a nossa mais profunda solidariedade e apoio na mobilização com a realização de bloqueios de estradas. Doze dias atrás, vocês eram vítima de uma campanha nacional desencadeada pelo governo, empregadores e da mídia aliada ao governo, com o objetivo de desacreditar a justiça das reivindicações de vocês.

O governo tenta colocar a população contra a essa luta usando falsos argumentos de que os mineiros têm salários altos e que a mobilização é um alegado golpe de Estado para derrubá-lo. Nós, da CSP-Conlutas, cerramos fileiras com os mineiros, professores, trabalhadores e pessoas em geral, que estão na luta por uma aposentadoria justa. Estamos à disposição para realizar uma pressão internacional por meio de organizações da classe trabalhadora exigindo que o governo Evo Morales atenda imediatamente a reivindicação dos trabalhadores bolivianos feita pela Central Operária Boliviana.

Dirceu Travesso
Secretário Nacional Executiva
CSP Conlutas – Brasil
São Paulo, 20 de maio de 2013

Justiça Federal dá parecer favorável às famílias do assentamento Milton Santos


Da Página do MST
A 21ª Vara Federal do Estado de São Paulo decidiu que a área onde se localiza o assentamento Milton Santos, no município de Americana, pertence ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A área do assentamento pertencia à família Abdalla e foi repassada em 1976 ao INSS, como forma de pagamento de dívidas com a União. 


A ação é um desdobramento da suspensão de reintegração de posse da região, perpetrada no dia 22 de março deste ano pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Ambas as ações fizeram com que o Judiciário reconhecesse a legitimidade do assentamento como área de Reforma Agrária.  

O Milton Santos foi reconhecido pelo Incra em julho de 2006, mas em  28 de novembro de 2012 a Justiça Federal determinou a reintegração de posse da área, favorável à família Abdalla. Desde então, as 68 famílias do assentamento iniciaram um processo de luta exigindo que a situação fosse resolvida sem prejudicar os assentados.

De acordo com Nilcio Costa, advogado e militante do MST, “essa decisão mais recente se baseou no reconhecimento pelo Juiz que, como o INSS não fazia parte do processo desde seu início, ele não poderia ser lesado.”

Com isso, as famílias assentadas vencem uma batalha que se iniciou no começo de 2012 e se estendia até agora, responsável por criar uma situação de insegurança nos assentados, que temiam perder o que conquistaram por meio da luta e todo o trabalho realizado no assentamento. 

Para Nilcio, a mobilização das famílias teve um importante papel nos desdobramentos do caso. “A mobilização das famílias, com o apoio dos movimentos sociais, foi fundamental para denunciar o que estava acontecendo e fazer o poder público se mexer. Não fosse por isso, o Incra, que estava ciente da situação desde 2005, não teria pressionado o Judiciário, e talvez o INSS não tivesse entrado em cena para reclamar a área”.  

Nota de Solidariedade ao CIMI


“Vocês terão muitas tribulações” (Jo 16,33)
Nota de Solidariedade ao CIMI

A Coordenação Nacional da CPT quer expressar através desta Nota sua mais irrestrita solidariedade ao Conselho Indigenista Missionário, CIMI, e a seus agentes pelos constantes ataques e agressões que vêm sofrendo nos últimos dias, em decorrência do apoio à luta dos povos indígenas na busca de seus direitos. Ruy Sposati, jornalista e agente pastoral do CIMI, foi proibido, por ordem judicial, de entrar no canteiro de obras da usina Belo Monte, no Pará, para fazer a cobertura daocupação organizada pelos indígenas no começo de maio.

No último sábado, 18, o mesmo Ruy, foi impedido de desenvolver sua função, quando acompanhava os índios Terena, atingidos por ordem de reintegração de posse da fazenda Buriti,  no município de Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul, que haviam ocupado no dia 15, território já declarado como de ocupação tradicional indígena, em 2010. Ruy teve seus equipamentos confiscados de forma ilegal e arbitrária pelo delegado de Polícia Federal, sob a alegação de não conhecer o CIMI, equipamentos que até a presente data não foram devolvidos. Em abril, outro jornalista e agente pastoral do CIMI, Renato Santana, foi agredido pela polícia legislativa, que o espancou e quebrou seus óculos ao acompanhar a ocupação dos indígenas do plenário da Câmara dos Deputados.

As agressões aos povos indígenas que reivindicam o respeito aos territórios que ocupam, ou a reconquista daqueles dos quais foram espoliados, o direito de serem ouvidos e o respeito às normas constitucionais vigentes e aos tratados internacionais assinados pelo Brasil, se multiplicam e crescem como uma avalanche. Da mesma forma atingem os que os apoiam, de modo particular o CIMI.

Estas agressões partem dos ruralistas, que se intitulam proprietários de imensas áreas, muitas delas sem qualquer respaldo legal, encontram ressonância e amplificação no Congresso Nacional, com sua Frente Parlamentar da Agropecuária, passam pelo Judiciário, ágil e rápido na emissão de liminares e sentenças a favor dos autonomeados “proprietários” e chegam ao Executivo que, para impor a ferro e fogo seus projetos minerários, hidrelétricos e outros, convoca as forças de repressão para que nada impeça sua execução. 

A coordenação nacional da CPT, ao mesmo tempo que externa sua solidariedade, deseja aos irmãos e irmãs do CIMI que permaneçam atentos, firmes e fiéis, pois “o Senhor é nossa força” (Sl 27,1). Ele nos diz hoje, como disse a seus discípulos. “Vocês terão muitas tribulações. Mas não tenham medo, eu venci o mundo” (Jo 16,33)

Goiânia, 22 de maio de 2013.

Coordenação Nacional da CPT

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Privataria: com ajuda da CUT, mídia e R$ 1 bi, Dilma aprova MP que privatiza portos

Sob denúncia de compra de votos e com o uso explícito de recursos públicos direcionados a emendas parlamentares para ‘convencer’ deputados e senadores, o governo petista de Dilma Rousseff conseguiu aprovar a medida provisória que aprofunda a privatização dos portos brasileiros, a poucas horas dela caducar.
 
A votação no Senado, ocorrida por volta das 19h50 da quinta-feira (16), poucas horas após a MP 595/2012 chegar a Casa vinda da Câmara dos Deputados e a cerca de quatro horas dela perder a validade, fecha uma semana de ‘ouro’ para as privatizações, que envolveram interesses de grandes grupos privados. Semana que começou com o leilão de áreas públicas para exploração de petróleo, na terça-feira (14), quando reservas estimadas em mais de R$ 30 bilhões de barris passaram, em grande parte, para as mãos de multinacionais – um negócio que envolve cifras da casa dos trilhões de reais.
 
 
CUT e CTB assinam apoio ao governo
 
Para privatizar os portos, o governo contou com a ajuda declarada de quatro centrais sindicais: CUT, CTB, UGT e Nova Central. Todas assinaram um documento apoiando a aprovação da medida provisória. A Força Sindical se recusou a subscrever o documento, assinado quando o Planalto ainda penava para aprovar a MP na Câmara e, numa outra frente das privatizações, ainda transcorria a 11ª Rodada de Licitações do petróleo, no Rio de Janeiro.
 
A nota de apoio foi classificada de ‘vergonhosa’ e de uma declaração ‘ao atrelamento do movimento sindical ao governo’ pela CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), entidade que se opõe às políticas adotadas pelo governo e defende a autonomia sindical. A central disse que estas centrais assinaram o documento quando os portuários de Santos (SP), Rio de Janeiro e Paranaguá (PR) se preparam para iniciar uma greve contra a MP.  
 
Mídia: vista grossa e ‘modernização’
 
O governo petista também teve a ajuda preciosa dos meios de comunicação comerciais para votar a MP. De um modo geral, a mídia usou o termo ‘modernização dos portos’ para resumir o conteúdo da proposta. “É um eufemismo para não dizer o que é de fato: a MP escancara a privatização”, disse à reportagem José Maria de Almeida, da CSP-Conlutas.
 
Grande parcela da mídia, em especial a Rede Globo, alvo freqüente de críticas de setores petistas, fez ainda vista grossa para as denúncias de uso de recursos públicos para ‘convencer’ parlamentares a votar e mesmo de compra explícita de votos por parte de setores empresariais. Integrantes do próprio governo reconheceram que nas negociações foram prometidas liberações de verbas para emendas orçamentárias de parlamentares. A estimativa é de que R$ 1 bilhão seja usado nesta operação.
 
As emendas não têm relação com a MP dos Portos, tratam de outros assuntos, quase sempre referentes às regiões de cada deputado ou senador. Elas constam no Orçamento da União, mas como ele é autorizativo e não impositivo, o governo não é obrigado a liberar os recursos e acaba usando estas emendas como moeda de troca nas votações no Congresso Nacional.  
 
‘Compra de votos’
 
A MP dos Postos envolveu interesses contraditórios de setores empresariais do país. Parte de peso, liderada pelas grandes empresas que atuam na área e que possuem portos privados para uso exclusivo de mercadorias próprias, defendeu a medida. É o caso, por exemplo, da mineradora Vale. Mas empresas menores que atuam em terminais públicos fizeram pressão para que fosse incluída uma emenda de prorrogação dos contratos, que, ao final, acabou de certa forma aprovada com apoio do governo. A emenda foi apelidada de ‘Tio Patinhas’.
 
De todo modo, ambos os lados empresariais defendem a privatização e ela é explícita na medida, ao permitir que setores particulares explorem os serviços portuários como se fossem portos públicos, sem restrições a entrada e saída de mercadorias que não sejam da própria empresa controladora do porto. O deputado Anthony Garotinho (RJ), líder do PR, partido da base aliada do governo, disse em discurso da tribuna que a proposta deveria ser chamada de MP dos Porcos e deu a entender que deputados receberam dinheiro de empresários em troca de votos.
 
Luta Fenajufe Notícias
Por Hélcio Duarte Filho

Entidades da educação realizam Jornada de Lutas de 20 a 24 de maio

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Com paralisação nacional marcada para dia 22 de maio, o ANDES-SN e a Fasubra intensificam mobilização em todo país
 
Apesar de terem eixos diferentes, o ANDES-SN e a Fasubra realizam a jornada de lutas em todo o país, entre os dias 20 e 24 de maio, com paralisação prevista para o dia 22. De acordo com o coordenador-geral da Fasubra, Gibran Jordão, a jornada de lutas da entidade busca a unificação tanto dentro da base da Fasubra quanto para fora da categoria.
 
“A jornada de lutas tem o objetivo de unificar todas as lutas específicas que vem acontecendo no país na base da Fasubra em um dia só para potencializar essas lutas, que em cada lugar acontece de forma diferente, com pauta diferente, mas queremos dar uma unidade para isso tudo e tentando buscar, inclusive, uma unidade para fora da categoria. Por isso a data da jornada de lutas da Fasubra é a mesma da jornada do ANDES-SN”, explica Gibran.
 
Os eixos da jornada de luta da Fasubra foram definidos durante a Plenária Nacional Estatutária da Fasubra Sindical, realizada entre os dias 10 e 11 de maio, no Rio de Janeiro. Segundo Gibran, o local foi escolhido por conta das reuniões dos conselhos universitários da UFRJ e da Unirio, que iriam debater a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). “Na análise de conjuntura que fizemos sobre as principais lutas da categoria, identificamos a luta por democracia nas universidades, pela redução da jornada de trabalho para 30 horas e contra a Ebserh. Estas são as principais lutas que estão aparecendo especificamente para a categoria. E, além disso, a importância de fortalecer o abaixo-assinado pela anulação da reforma da previdência”, acrescenta o diretor da Fasubra. 
 
O diretor da Fasubra Rogério Marzola explica que a categoria tinha diferentes pautas nos estados, entre elas a greve no Espírito Santo contra a Ebserh, greve em Minas Gerais contra o ponto eletrônico, movimento em Brasília pelas 30 horas, entre outros. “Como tinha um processo já bastante avançado, mas com várias pautas desconexas, para tentar potencializar isso nós tiramos um calendário que pudesse ter uma semana de lutas que apontasse a pauta geral e também as pautas específicas – das 30 horas, democratização e contra a Ebserh – para que pudesse juntar esses movimentos que estavam até então soltos na nossa base, propondo ainda um calendário similar ao do ANDES-SN porque ajuda a um e ao outro nessa construção, que é jornada de lutas de 20 a 24 de maio com paralisação no dia 22”. 
 
Segundo Gibran, a proposta da data da jornada de lutas para 20 a 24 de maio foi apresentada à plenária e aprovada, de forma unânime, por aclamação. “A gente tinha o informe de que o ANDES-SN tinha a jornada de lutas do dia 20 a 24 de maio e achamos que seria muito importante, ainda que os eixos da nossa jornada de lutas não seja o mesmo do ANDES-SN, que a gente construísse a jornada de lutas na mesma data para fortalecer o movimento dentro das universidades e a unidade que a gente vem buscando construir com os docentes nas universidades e também com o Sinasefe”, explica. De acordo com Gibran, as entidades de base da Fasubra estão sendo orientadas a construir a jornada de lutas junto com as Seções Sindicais do ANDES-SN. Sobre as ações previstas para o período, o diretor da Fasubra diz: “estamos orientando que as entidades de base construam paralisações no dia 22 onde for possível. As que conseguirem dialogar com as Seções Sindicais do ANDES-SN têm a liberdade e a independência para construir a jornada da forma que considerarem mais importante”, complementa. 
 
“Ainda que os eixos da jornada sejam diferentes – do ANDES-SN é a questão da carreira e o nosso tem outras bandeiras – de toda forma os movimentos acabam se impulsionando e ajudando. Vai ser mais fácil desenvolver ações onde as duas categorias estiverem paralisando. Acho que otimiza a força do movimento ter um calendário comum entre as entidades”, reforça Rogério. 
 
“Saudamos a Fasubra e achamos importante porque a experiência da greve de 2012 foi significativa para a unidade na luta e nos propiciou uma paralisação cada vez mais forte, com a participação das entidades da educação – docentes e técnicos – nas atividades comuns. Iniciar o ano com uma jornada de lutas com datas congruentes é extremamente positivo e nos dará forças para enfrentar o ano de 2013. Fazemos um chamado para que as Seções Sindicais do ANDES-SN construam ações unificadas com os técnicos-administrativos na jornada de lutas”, afirma a 1º secretária do ANDES-SN e integrante da coordenação do setor das Ifes, Marina Barbosa.
 
As Seções Sindicais do ANDES-SN estão realizando assembleias gerais nos estados para detalhar as atividades que serão definidas em cada local para a jornada de lutas dos docentes das IFE, que tem como eixos a reestruturação da carreira docente e melhoria das condições de trabalho. A jornada organiza uma agenda concreta de lutas para o setor das Federais, seguindo o que foi deliberado no 32º Congresso do ANDES-SN, realizado em março deste ano, no Rio de Janeiro. “Vamos continuar lutando pela reestruturação da carreira e por melhores condições de trabalho. Estas são questões centrais que ainda não foram resolvidas”, afirma Marina.
 
Os desdobramentos da lei nº 12.772/2012, que desestrutura a carreira e ataca o direito dos docentes e a indisposição do governo em abrir negociações sobre a pauta específica do setor mantendo um acordo que não contempla o conjunto da categoria também fazem parte da construção da jornada de lutas. No período, também será realizado o lançamento da Revista Dossiê Nacional 3: Precarização das condições de trabalho 1 nas Seções Sindicais (leia mais sobre a Revista). A proposta é que a publicação se torne instrumento de pressão junto ao governo e reitores em busca de soluções efetivas. 
 
Calendário de mobilização
 
- 15 de abril a 15 de maio: rodada de assembleias nas Seções Sindicais;
- 20 a 24 de maio: Jornada de Lutas em todo o país;
- 22 de maio: paralisação das atividades em todas as IFE;
- 24 e 25 de maio: reunião do Setor das Ifes;
- 26 de maio: plenária da CNESF. 
 
Pauta de Reivindicações 2013 das IFE
 
 
Em 26 de março, foi protocolada a Pauta de Reivindicações dos Docentes das IFE de 2013 no Ministério da Educação e no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), resultado das discussões e decisões da categoria 32º Congresso do ANDES-SN, que reitera a proposta de reestruturação da carreira dos professores. 
 
Fonte: Andes-SN

No Brasil, 75% dos quilombolas vivem na extrema pobreza

Sarah Fernandes,
 
Relatório divulgado pelo governo federal reforça a visão de que faltam muitos passos para consolidar os direitos básicos das comunidades quilombolas. Das 80 mil famílias quilombolas do Cadastro Único, a base de dados para programas sociais, 74,73% ainda viviam em situação de extrema pobreza em janeiro desde ano, segundo o estudo do programa Brasil Quilombola, lançado na segunda-feira (6) pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Entre cadastrados ou não, eles somam 1,17 milhões de pessoas e 214 mil famílias.
Um dos principais motivos para a manutenção dos quilombolas na pobreza é a dificuldade de acesso a programas de incentivo à agricultura familiar, devido à falta do título da terra, que garante a posse das famílias. Segundo o relatório, das 2.197 comunidades reconhecidas oficialmente, apenas 207 são tituladas. Apesar das dificuldades, 82,2% viviam da agricultura familiar no começo deste ano.
O perfil dos quilombolas é de agricultores, extrativistas ou pescadores artesanais, mas eles têm uma limitação de acesso à terra e não conseguem ser inscritos na Declaração de Aptidão do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que dá acesso a políticas públicas”, explica a coordenadora de Políticas para Comunidades Tradicionais da Seppir, Barbara Oliveira.
A estratégia para reverter o quadro será, segundo a coordenadora, transferir a responsabilidade de incluir os quilombolas na Declaração de Aptidão do Pronaf para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) até o final desse ano. O órgão também deverá ajudar a acelerar a titulação das terras, feitas em geral pelo próprio órgão ou por governos municipais e estaduais. “A partir daí eles receberão assistência técnica rural e sua produção será certificada com o selo Quilombolas do Brasil, que agrega valor ao produto”, conta Barbara. “O objetivo é fortalecer a produção”.
 
Serviços
Os quilombolas têm menos acesso aos serviços básicos, como saneamento e energia elétrica, que o restante da população, segundo o relatório: 48,7% deles vivem em casas com piso de terra batida, 55,21% não têm água encanada, 33,06% não têm banheiro e 15,07% possui esgoto a céu aberto. Ao todo, 79,29% têm energia elétrica.
Um dos dados que mais chama a atenção, de acordo com Barbara, é a o alto índice de analfabetos: 24,81% deles não sabem ler. A taxa de analfabetismo no país é de 9,1%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD). “Apesar de termos conquistado uma série de programas para educação quilombola, que garantem orçamento, capacitação de professores, material didático e equipamentos, há ainda um desafio muito grande para oferecer Educação de Jovens e Adultos e para ultrapassar a educação além do ensino fundamental, garantindo inclusive acesso ao ensino médio e à universidade”, afirma.